Texto: Salmo 1 - Texto Áureo: Salmo 5:1-3
Até aqui estivemos estudando sobre a oração dentro do período bíblico. Neste estudo, no entanto, vamos dedicar atenção a respeito do que aconteceu com a prática da oração após os tempos bíblicos.
Faremos isso com o objetivo de que estes conhecimentos nos façam mais cuidadosos, de modo que o passar do tempo não venha a nos afastar dos ensinamentos da Palavra de Deus. Conhecer os ensinamentos bíblicos sobre a oração e praticá-la à luz das Sagradas Escrituras em todo tempo é o que realmente nos importa.
Lamentavelmente, após os tempos bíblicos algumas distorções começaram a surgir em relação à oração, como surgiram também em relação a outros temas bíblicos. Como é próprio acontecer, as distorções trouxeram grandes prejuízos, empobrecendo e esvaziando o significado espiritual da oração.
Entre as consequências prejudiciais está a perda da expressão pessoal. Ao contrário disso, verificamos que na Bíblia a oração sempre esteve caracterizada pela liberdade de expressão, o que era feito com respeito e reverência diante de Deus.
Os salmos bíblicos estão repletos desta verdade. Um exemplo claro é encontrado no Salmo 19: “Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor, Rocha minha e Redentor meu!” (v.14). Dois aspectos importantes estão presentes: a) as expressões ‘palavras da minha boca’ e ‘meditação do meu coração’, indicando a liberdade de exteriorização de pensamentos e sentimentos humanos diante de Deus; b) respeitoso e reverente desejo de que as palavras usadas como meio de expressão e o conteúdo interior por elas revelado sejam agradáveis ao Senhor.
Lamentavelmente, formas preestabelecidas, automatizadas e repetitivas tomaram o lugar da expressão livre e espontânea do coração na presença de Deus, após os tempos bíblicos.
Outra distorção foi o surgimento de um intermediário humano na comunicação entre a pessoa que tem algo a dizer e Deus, contrariando o ensino bíblico que diz: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.” (I Timóteo 2:5).
Sabemos que este texto refere-se ao ato redentor de Jesus na cruz do Calvário, “o qual se deu a si mesmo em resgate por todos” (I Timóteo 2:6), tornando-se mediador e fiador de um novo e melhor pacto (Hebreus 7:22), pelo qual temos livre acesso à presença de Deus. Em Hebreus 10:19-22), lemos: “Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo lugar, pelo sangue de Jesus, pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, a sua carne...cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé.”
Por isso, as nossas orações, incluindo-se aí as nossas confissões e pedidos de perdão, devem ser apresentadas a Deus por nós mesmos. É assim que a Bíblia nos ensina a fazer e a esse respeito nos dá exemplos.
No salmo 38, Davi faz a oração do pecador arrependido, dirigindo-a diretamente a Deus: “Ó, Senhor, não me repreendas na tua ira, nem me castigues no teu furor. Confesso a minha iniquidade; entristeço-me por causa do meu pecado.” (v.1 e 18).
Contudo, há um requisito a mais a ser observado na oração bíblica. Embora tenhamos livre acesso à presença de Deus, é necessário que a oração seja feita em nome de Jesus. O pecador não pode aproximar-se de Deus, que é Santo, em seu próprio nome. É somente por termos sido lavados e remidos pelo sangue de Jesus que passamos a ser dignos da comunhão com Deus. O merecimento é todo de Jesus e é pela fé nEle que nos tornamos participantes deste privilégio.
Por isso, Jesus, e somente Jesus, é o mediador entre Deus e os homens.
Amparados pela mediação de Jesus, contamos com o auxílio do Espírito Santo às nossas orações. É o Espírito de Deus que nos ajuda em nossas fraquezas, com gemidos inexprimíveis, quando oramos (Romanos 8:26).
Outro ponto que merece a nossa consideração é que, o coração crente, temente a Deus e que ama ao Senhor anela pela presença de Deus e pela comunhão pessoal com o Senhor.
A Bíblia revela este anseio humano. Assim diz o salmo 42: “Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e verei a face de Deus“.
No salmo 130, em que relata a confissão de pecado e a esperança de perdão, o salmista diz: “A minha alma anseia pelo Senhor, mais do que os guardas pelo romper da manhã.” (v.6).
A alma que sinceramente busca o perdão de Deus não se satisfaz apenas em saber que está perdoada. Seu anseio vai mais além: restabelecer a comunhão com o Senhor e com Ele manter a comunicação pessoal, experimentando a alegria da presença do Senhor.
Assim, Davi escreveu o salmo 62, em que faz a exortação a que se confie somente em Deus: “Somente em Deus espera silenciosa a minha alma; dele vem a minha salvação”.
Com isso, tendo em mente e no coração os princípios bíblicos sobre a oração, de modo a que deles não nos afastemos, podemos orar com toda a segurança, como fez Davi no Salmo 5:1-3: “Dá ouvidos às minhas palavras, ó Senhor; atende aos meus gemidos. Atende à voz do meu clamor, Rei meu e Deus meu, pois é a ti que oro. Pela manhã, ouves a minha voz, ó Senhor; pela manhã te apresento a minha oração e vigio”.