João 11 e 12
Chegamos ao final do primeiro livro do evangelho de João, o chamado Livro dos Sinais. O evangelista nos apresenta sete sinais. Hoje, veremos o sétimo, ponto alto da ação do Senhor Jesus. “Lázaro, ovelha que escuta a voz do Pastor para sair do túmulo, sai para a liberdade que é a vida”, resume Bortolini. Jesus, continua o autor, é aquele que conduz suas ovelhas para fora de todos os sistemas de morte, libertando, inclusive, da própria morte.
O sétimo sinal é o sinal para fortalecer a fé. Maria precisou sair de casa, para se encontrar com a ressurreição e a vida, que é Jesus. Frente ao túmulo, diante de Lázaro ainda amarrado, Jesus pede que os presentes o desamarrem. Poderia fazê-lo sozinho, mas optou por nos mostrar que a nossa participação é necessária, para que pessoas sejam levadas a Jesus e, assim, arrancadas da morte.
É interessante recordar algumas diferenças entre o episódio da ressurreição de Lázaro e a ressurreição de Jesus. Lázaro saiu do túmulo apenas após a retirada da pedra (11,39 e 41). Saiu amarrado e ainda vestido com vestes tumulares (11,.41). Imediatamente após, voltou ao seu convívio terreno (12,1 e 2). Já, com Jesus, não houve necessidade de ajuda para a retirada da pedra (20,1). Ele passou através das vestes tumulares e as deixou para trás (20,6 e 7). Dias depois, subiu para o Pai de onde voltará para buscar a Igreja (20,17).
Com a ressurreição de Lázaro, o ministério de Jesus atinge o terceiro estágio, o da total rejeição. É o clímax da primeira parte do evangelho e a preparação para o segundo livro, o Livro da Paixão. Os capítulos 11 e 12 são, ao mesmo tempo, a síntese da vida de Jesus e a antecipação da sua morte.
Penso que seria útil, a este ponto, recordarmos os sete sinais mencionados por João. Vamos tentar sinalizar para uma possível escala na revelação que Jesus nos trouxe e o faremos com a ajuda do biblista José Bortolini.
O primeiro sinal foi o da transformação da água em vinho e nos ensina sobre a nova aliança. O segundo, a cura do filho do funcionário do rei, já amplia o alcance da nova aliança: ela é também para pequenos e para os poderosos. O terceiro foi a cura do paralítico. Jesus demonstra que a Nova Aliança devolve a capacidade de usufruir da vida com liberdade. A seguir, o sinal de número 4, tratou da multiplicação dos pães. Sim, a Nova Aliança oferece alimento sólido para todos. No quinto sinal, ao andar sobre o mar, Jesus nos mostrou que é necessário abandonar os antigos hábitos, ainda que os entendamos como sendo o único caminho, para podermos compreender a revelação que Jesus trouxe. Com a cura do cego de nascença, o sexto sinal, Jesus está ensinando que a Nova Aliança capacita o homem a enxergar. Por fim, o sétimo sinal, apregoa que a Nova Aliança traz libertação de tudo aquilo que oprime o ser humano.
Imediatamente após a ressurreição de Lázaro, surge a referência explicita à terceira Páscoa dos judeus. O evangelista é o único a mencionar três páscoas. Com ela, chegamos ao ciclo final do ministério de Jesus. Ironicamente, peregrinos que se anteciparam à festa para obterem a purificação cerimonial, não se furtam, apesar de “purificados” a participar no complô contra a vida de Jesus.
O capítulo-ponte para a segunda parte do evangelho, o de número 12, tem início com uma refeição. Nos dizeres de Riggs, ”uma festa por causa de uma ressurreição em que se realizou a unção para um enterro.” Maria, irmã de Lázaro, unge os pés e a cabeça de Jesus, valendo-se de um perfume caríssimo, cujo preço equivalia a dez meses de trabalho.
Jesus entende que a homenagem é uma preparação para a sepultura dele, não um desperdício, como Judas quis interpretar. Jesus aceitou a gratidão daquela mulher e a valorizou, como aceita todo e qualquer gesto que tenhamos de louvor e de adoração a Ele. Jesus não se deixa surpreender por qualquer aparência, Ele compreende as nossas razões e as aceita.
Não só Jesus estava destinado a morrer agora. Lázaro também. Não temos uma só palavra pronunciada por Lázaro neste evangelho. (Uma curiosidade apenas: há quem entenda que Lázaro seria o “discípulo amado”, que vai surgir em nossos próximos estudos.) Se Lázaro nada falava, por que precisava morrer? A resposta é clara: porque muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus. No versículo 19, vemos a indignação dos religiosos porque a situação lhes fugia do controle: “De sorte que os fariseus disseram entre si: Vedes que nada aproveitais? eis que o mundo inteiro vai após ele.”
Mal sabiam eles que efetivamente o mundo, simbolizado pelos crentes de todos os lugares, continua sendo atraído por Jesus.
Jesus sabia que seu tempo havia chegado e deliberadamente agiu no cumprimento da profecia. Fez isso para que pudesse ser reconhecido como Filho de Deus e assim, pela fé nEle, a Humanidade pudesse restabelecer a comunhão com o Pai. Então, porque era chegada a hora, Jesus monta em um jumentinho, simbolizando que a sua missão era de paz, e se aproxima de Jerusalém. As multidões são duas. Uma, que viera a Betânia para ver Lázaro e que seguia a Jesus. A outra, saía de Jerusalém com ramos de palmeiras para encontrar aquele que entendiam ter qualificações para ser o rei deles. Queriam ser libertados do jugo romano, achavam que o líder que faria isso seria Jesus. Não compreenderam o simbolismo da entrada em sinal de paz.
Também não se recordaram das palavras da profecia. Nem as multidões, nem os discípulos. “Não temas, ó filha de Sião; eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta. Os seus discípulos, porém, não entenderam isto no princípio; mas, quando Jesus foi glorificado, então se lembraram de que isto estava escrito dele, e que isto lhe fizeram.” (12,15-16)
É fácil compreender o uso, pelas multidões, dos ramos de palmeiras. O comentário Broadman nos informa que os macabeus, quando da libertação do Templo e da cidade dos conquistadores sírios, balançaram ramos de palmeiras. Agora, as multidões estão quase a dizer: liberta-nos, Jesus! Isso sabiam fazer bem. Entender Jesus é que não conseguiam.
Querido ouvinte, você já compreendeu o que significa a Paixão de Jesus? Já o identificou como Filho de Deus?
APOIO BIBLIOGRÁFICO
ALLEN, Clifton J.(editor) Comentário Bíblico Broadman vol. 9 .Rio de Janeiro: JUERP. 2ª. edição. 1987. BORTOLINI, José. Como ler o Evangelho de João – O caminho da vida. São Paulo: Paulus. 7ª. edição 2005. BRUCE, F.F. João – Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão. 1987. CHOURAQUI, André. A Bíblia – Iohanân (O Evangelho Segundo João). Rio de Janeiro: Imago. 1997 TAYLOR, W.C. Evangelho de João –Tradução e Comentário. Volumes I, II e III. Rio de Janeiro:Casa Publicadora Batista. 1946.