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CUIDADOS NECESSÁRIOS À VIDA CRISTÃ

1 Pe 4 e 5

Aproximando-se do final da epístola, Pedro aborda questões que eram peculiares a seus leitores e que ainda hoje são atuais. Qual de nós não tem refletido sobre o final de todas as coisas, sobre as provações da vida? É nisso que o autor se detém nos capítulos finais da sua carta.

A dinâmica recomendada para hoje é ler o capítulo 3 verso 18 e emendar com os seis primeiros versículos do capítulo 4. Dessa forma, teremos o bloco completo. Aqui sou convidado a observar o que Jesus fez e a me “armar” com esse pensamento. Müeller informa que ARMAR é palavra que, em o Novo Testamento, só é encontrada aqui e em Hebreus 4,12. O sentido do termo é que nos revistamos da mesma disposição mental que Cristo teve quando esteve entre nós, ou seja, que tenhamos de forma firme e inegável a disposição para fazer em tudo e em todas as circunstâncias a vontade de Deus prevalecer.

Como posso, então, alcançar o alvo de pensar como Jesus e dar lugar de destaque à vontade de Deus em minha vida?

São algumas ideias que se transformam em desafios:

a) Contemplo o Seu sacrifício. Eu O adoro. Tomo a decisão de, se necessário, estar disposto a sofrer por amor a Ele. É o caso, por exemplo, dos crentes que são perseguidos em função da fé em Jesus. Há milhares deles neste momento sendo presos, maltratados, desconsiderados pelo “crime” de crer em Jesus e de seguir os Seus passos.

b) Rejeito a vida antiga. Quero deixar o pecado. Quero ROMPER com o pecado, interromper o ato contínuo de pecar. Aqui Pedro nos apresenta uma lista de atitudes que precisam ser completamente esquecidas: libertinagem, sensualidade, bebedeiras, orgias, farras e idolatria repugnante. É como se tais coisas fossem comuns antes do encontro com Jesus e que, porque eu agora pertenço a Jesus, não posso permitir que haja atração pelo pecado.

Gostaria de fazer uma pergunta: por que alguns crentes ainda se sentem atraídos pelas chamadas concupiscências dos homens sem Jesus? Os crentes das igrejas para as quais Pedro escreveu provavelmente tinham saído dos costumes pagãos reinantes no Império Romano. Era comum para eles a prática de coisas que agora, porque Jesus habitava nos seus corações, deveriam ser ignoradas.

A seguir, Pedro introduz o assunto da segunda vinda de Jesus, tema fascinante e de grande conforto. Sim, Ele virá buscar a Igreja e naquele dia todo e qualquer sofrimento cessará. O bloco que trata da segunda vinda de Jesus é como se fosse o momento de explicitar aos leitores aquilo que havia sido deixado oculto em toda a carta. Sim, disse, ele, estejam animados, pois “o fim de todas as coisas está próximo.” A Bíblia de Estudo Vida Nova afirma, ao comentar estes versículos de 7 a 11, que todo período entre a ressurreição e a segunda vinda de Jesus é entendido como sendo “os últimos dias.”

Pode ser que o ouvinte se depare com um pensamento intrigante, diante dessa afirmação: se é iminente, por que demora? A segunda carta de Pedro capítulo 3, versos de 3 a 13 trata desse assunto e no momento certo voltaremos a ele. Fato é que Jesus irá voltar e aquele que espera por esse dia o faz à medida que desenvolve, segundo Pedro, pelo menos três atitudes positivas:

1. Amor. O amor não guarda registro de erros, mas perdoa em resposta ao perdão de Deus. A atitude do amor é desafiadora e é fortalecida pela convicção de que tudo aqui nesta terra é passageiro, estamos em trânsito e convencidos de que logo estaremos em condições de ver a Deus face a face.

2. Hospitalidade sem murmurações. Naquele tempo, os missionários cristãos eram itinerantes e precisavam ser acolhidos em casas e supridos até que chegassem a outra localidade. A hospitalidade requeria suprimento durante a permanência do obreiro na casa e o suprimento até que ele chegasse ao outro destino. Além disso, eram também perseguidos pelo exercício da fé e muitas vezes precisavam ser abrigados e escondidos até que o perigo passasse. Ainda hoje há missionários que enfrentam todo tipo de perseguição.

3. Administração correta dos dons. Pedro declara que o crente recebeu de Deus dons e compete a cada um administrá-los adequadamente.

Precisamos terminar, mas não poderíamos fazê-lo sem destacar a questão do sofrimento humano, assunto com o qual Pedro se ocupa até o final da sua carta. Será que o povo de Deus não deveria ser isento do sofrimento? Não, não deveria. É por meio do sofrimento que somos exercitados no caminho da fé e com isto não estou querendo dizer que o sofrimento por si só tem poder. Não tem. É a obra de Deus em nós que nos torna mais semelhantes a Jesus.

O autor chama a atenção dos leitores dizendo: “não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse.” (1 Pe 4,12). Não estranheis tem o sentido de não estejais surpresos ou admirados, não vos deixeis irritar, não vos deixeis abalar, não vos sintais decepcionados.

O verbo empregado aqui tem o sentido de padecer, sofrer. O Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento nos diz que o verbo aparece 42 vezes em o Novo Testamento. Nenhuma vez nos escritos atribuídos a João, à exceção de Apocalipse 2,10. Nas epístolas gerais, ocorre somente em 1 Pedro, texto que hoje analisamos. O termo tem relação com o sofrimento de Cristo.

Neste texto, dizem os teólogos, Pedro teria em vista o sofrimento interno da Igreja. É um tipo diferente de sofrimento. Tem a ideia de comunhão. Aquele que se arma com o mesmo pensamento de Cristo, terá de sofrer na carne, pois será diferente das pessoas que não se relacionam com o Senhor Jesus. De uma forma ou de outra, todos já temos experimentado isso.

J. Moltmann, teólogo alemão, no seu conhecido livro “A Teologia da Esperança”, diz que a ressurreição de Cristo é também a contradição de Deus contra o sofrimento e a morte, a humilhação e a ofensa e a perversidade da maldade.” É nessa esperança que a Igreja precisa se abrigar em circunstâncias difíceis e em momentos de sofrimento e de perplexidade. Que seja este o nosso conforto também.

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