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OS BENEFÍCIOS DA VIDA CRISTÃ

2 Pe 1, 1-21

Para melhor aproveitarmos o conteúdo da segunda carta de Pedro, precisamos compreender que ela foi escrita com duplo objetivo:

a) para advertir a igreja a respeito da vinda de falsos mestres e b) tornar claro o ensinamento sobre a segunda vinda de Jesus.

Nosso texto de hoje se ocupa do primeiro tema, abrindo os olhos dos crentes sobre o perigo dos falsos ensinamentos. Jesus também falou sobre o assunto, quando nos mostrou a diferença entre pastor e aquele que é ladrão e salteador. Você deve estar lembrado também do final do Sermão do Monte, quando Jesus ensina aos discípulos a respeito daqueles que estão infiltrados no meio deles, mas que ouvirão a célebre expressão: “Apartai-vos de mim vós que praticais a iniquidade.” Um e outro são parte integrante do grupo de discípulos, tão próximos que lhes conhecem a linguagem, os argumentos, as ações. Tentam enganar o povo de Deus e o fazem de forma discreta, sorrateira, vivendo como se fossem parte deles.

O autor, que se apresenta aos leitores com a saudação “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor”, esclarece de imediato que, ao repartir a fé, Deus não faz diferenças, porque é justo. Ao mencionar “Deus e Salvador Jesus Cristo”, apregoa a sua fé incondicional na divindade de Jesus, esta negada pelo movimento gnóstico, provável pano de fundo não só para esta carta como para todas as demais que estudaremos a seguir.

Se em 1 Pe o autor desejou aos leitores “Graça e Paz” para poderem suportar as aflições que os acometiam, nesta segunda carta ele reitera seus votos de “Graça e Paz” agora para que possam ter condições de enfrentar a apostasia que já começava a aparecer entre eles. Graça e Paz, saudação que nos aquece o coração e nos aquieta a alma. Desejo-lhe, prezado ouvinte, graça e paz.

O objetivo de Pedro é que seus leitores busquem incessantemente o pleno conhecimento da vida e obra de Jesus Cristo. O pleno conhecimento é diferente do simples conhecimento tão apregoado pelos falsos mestres. Temos aqui duas palavras diferentes. O Dr. Ray Summers diz que “Pedro ora pedindo pleno conhecimento (epignosis) para os seus leitores cristãos, em contraste com o conhecimento (gnosis) que era reivindicado pelos gnósticos.” Esse objetivo, o do pleno conhecimento, leva o autor a aconselhar seus leitores a buscarem diligentemente acrescentar à fé algumas outras etapas que irão culminar com a resposta do amor a toda e qualquer situação da vida.

Ao dizer: “E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade”, Pedro está se valendo de uma metáfora retirada dos festivais atenienses de drama. Em tais ocasiões, um patrocinador buscava aperfeiçoar seu grupo de teatro a tal ponto que fosse capaz de chegar à excelência teatral. Para isso, não poupava recursos. O autor, então, mostra que o cristão deve envolver-se ao ponto de cooperar com Deus para a produção de uma vida cristã que seja para a honra dEle, diz Green.

Fazer lista de virtudes era prática comum da época. Aqui, no entanto, o avanço do crente é fruto de ser participante da natureza divina. No mundo estoico, as listas “de avanço moral” pressupunham a vitória do homem sobre ele mesmo. Nos dizeres de Pedro, no entanto, a vitória é conseguida apenas porque Deus se torna mais real na vida do crente.

A razão alegada para ensinar aos leitores que havia necessidade de buscarem o pleno conhecimento do Senhor foi bem explicitada: “Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo”. Pedro sabia, por experiência própria, que deixar de lado a busca constante por Jesus pode levar à negação do próprio Jesus. O crente precisa estar consciente de que a sua vida cristã é uma caminhada nada fácil, mas que pode contar com a ajuda e a atuação do próprio Senhor Jesus.

O autor tem urgência em comunicar a mensagem. Sente que seus dias “neste tabernáculo” chegam ao fim, consoante o próprio Jesus dissera em João 21, 18 e 19. Sabia que a mensagem da cruz de Jesus era vida para seus leitores, a única fonte de salvação. Tal convicção o levou a mostrar que a obra de Jesus não era semelhante às fábulas engenhosas que se disseminavam pelos falsos mestres. Ele tinha absoluta certeza do que falava, pois havia testemunhado a glória de Jesus, quando com ele esteve no Monte Santo, o Monte da Transfiguração. O ouvinte fará bem em ler os relatos nos evangelhos sobre tal episódio, principalmente o de Mateus, no capítulo 17, versos de 1 a 5.

Ali, naquele Monte, Pedro viu a glória de Jesus. Não foi igual a vê-lo ressurreto. Não. Para Green, a glória de Jesus não foi vista pelas mais de 500 testemunhas que estiveram com Jesus ressurreto. A glória de Jesus a que Pedro se refere é outra: é a glorificação do Senhor na presença do Pai. O evangelista João também vislumbrou essa glória e, em João 1,14 registrou: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”

Ver a glória de Jesus é o supremo alvo da vida cristã. É contemplá-Lo face a face, é estar na Santa presença dEle, é viver em plena comunhão e no pleno conhecimento dEle. Nenhum outro objetivo poderá ser mais sublime do que este.

O caminho, diz Pedro, passa pelo testemunho dos profetas. É a lâmpada que traz luz em meio à escuridão. É a Escritura, herança majestosa do nosso Deus, que nos aponta o caminho, ilumina nossos passos e nos mantém firmes na fé. Tem a função do sol que vem para dissipar as trevas da noite. É a capacitação para que vivamos em plena luz.

“E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações.” (2Pe 1,19).

Amém e amém.

 

Apoio Bibliográfico:

1. GRUNZWEIF, Fritz et all. Cartas de Tiago, Pedro, João e Judas. Comentário Esperança. Curitiba: Paraná – Editora Evangélica Esperança, 2008. 2. McNAB, Andrew. O Novo Comentário da Bíblia – vol. II. São Paulo: Vida Nova. Reimpresso em 1987. 3. GRREN, Michael. 2 Pedro – Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica. SP: Mundo Cristão. 1988 4. SUMMERS, Ray. Comentário Broadman. Volume 12. Rio de Janeiro: JUERP. 1987

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