Judas 1-25
Com este estudo terminamos uma abençoada série de reflexões a partir das cartas gerais, aqueles pequenos livros no final do Novo Testamento que tantos ensinamentos nos trazem para os nossos dias. O livro de hoje é igualmente precioso. A propósito dele, Mc Gee declara: “esta pequena carta é como uma bomba atômica. A primeira bomba não caiu sobre Hiroshima e Nagasaki, ela caiu quando foi escrita esta pequena epístola. É uma bomba atômica e explodiu na Igreja Primitiva como um aviso”.
O nome Judas é citado 45 vezes nas páginas do Novo Testamento. Dois deles foram apóstolos, a saber: Judas Iscariotes, que traiu Jesus e Judas, filho de Tiago, também chamado Tadeu ou Lebeu. Nenhum deles foi o autor da carta.
A discussão sobre a autoria da carta é interessante, mas, à semelhança do que fizemos com Tiago, vamos adotar a posição de que estamos diante de um dos escritos mais antigos do Novo Testamento, provavelmente redigido em torno dos anos 50 dC, por um servo de Jesus Cristo, denominado Judas, que era também irmão de Tiago, o irmão do Senhor. Ambos, Judas e Tiago se intitulam servos, atitude que todo crente em Jesus compreende muito bem.
O autor planejava escrever aos crentes a respeito da salvação que lhes era comum em Jesus Cristo.No entanto, uma emergência o fez mudar o conteúdo do que desejava dizer: a Igreja de então, assim como acontece hoje, recebia influência de pessoas que, infiltradas em suas reuniões, semeavam ideias que não tinham origem nos ensinamentos recebidos de Jesus e dos apóstolos. Testemunha zelosa das palavras de salvação, Judas adverte a Igreja sobre o perigo de permitir que tais ideias florescessem e viessem a banalizar o evangelho de Jesus Cristo.
O assunto é tão grave que Judas se sente responsável por apontar a consequência de tais ações e o faz enquanto exorta os crentes a, em vez de serem coniventes, batalharem com diligência, zelo e cuidado intenso para que a fé, que nos foi transmitida por Jesus, se mantivesse fiel aos ensinamentos do Mestre. Não se trata, então, de permitir que tais ideias fossem semeadas. O caso é de uma guerra e como tal precisa ser encarada.
Uma vez esclarecida a urgência do tema, Judas passa a descrever os que ameaçavam a Igreja de Jesus e, sem meias palavras, descreve o juízo que pesa sobre tais ontem e hoje. Para tanto, evoca exemplos da própria história:
1. Israelitas murmuradores: (Nm 14.26-32). Incrédulos que, apesar de terem presenciado a libertação do povo de Israel do Egito, continuaram a murmurar como se o Deus que os havia liberto com mão tão poderosa não fosse capaz de continuar o Seu propósito de libertação. Para eles, a sentença foi dura: não poderiam entrar na Terra Prometida. Perderam, por incredulidade, a promessa.
2. Anjos rebeldes: Exemplo de difícil entendimento, mas que acena para a atitude de seres espirituais, criados por Deus, que se rebelaram contra o Criador. Anjos que não guardaram o seu principado, eis o problema. Para estes, Deus reservou o juízo no dia final e até lá estão preservados em algemas eternas.
3. A perversão de Sodoma e Gomorra e nas outras cidades vizinhas. Estas cidadãs ficaram na História como exemplos de iniquidade. Um estudo aprofundado nas páginas do Antigo Testamento nos ajuda a sintetizar o que elas representavam: a) exploração e insensibilidade (Ez. 16.49 e 50). b) orgulho (Sofonias 2.8-11). c) idolatria (Jr. 23.9-40) e d) perversão sexual (Gn 19).
Assim, Judas torna evidente também para nós, crentes do século 21, que os erros se repetem e que a Igreja de Jesus precisa estar atenta para combatê-los: “Contudo, semelhantemente também esses falsos mestres, sonhando, contaminam a sua carne, rejeitam toda autoridade e blasfemam das dignidades”. (Jd 8).
Carson comenta esses exemplos e os define como evidências de que a posição em si não é garantia de salvação. Assim ele os resume: 1) Israel foi liberto do Egito, mas os incrédulos morreram no deserto. 2) Os anjos têm um chamado especial de Deus, mas os que foram desobedientes enfrentam o castigo certo e 3) Sodoma e Gomorra eram cidades da Terra Prometida e havia servos de Deus nelas. Mesmo assim foram destruídas.
Como pessoas informadas sobre a salvação em Jesus chegaram ao ponto de serem citadas como perigo para a Igreja de Cristo? Judas nos informa o método que usaram (vide v.11) e o faz usando expressão escatológica conhecida nossa: “Ai deles”. Isto aconteceu em três etapas:
1. Entraram pelo caminho de Caim (Gn 4.8-16); 2. Foram levados pelo engano do prêmio de Balaão (Nm 22-24) e 3. Pereceram na contradição de Coré (Ex 6.16-21)
De forma abreviada, vamos entender melhor essas três atitudes que nos mostram claramente que falsos mestres que habitam na Igreja são discípulos não de Jesus (como alguns deles afirmam e pregam), mas de Caim, Balaão e de Coré.
a) Caim. Caminho que causa destruição, divisão e morte. Desavenças que causam divisão na Igreja. O pr. Pedro Moura enumera algumas marcas desse perigoso caminho: 1. Incredulidade e desamor. Caim era um religioso-incrédulo. Oferece sacrifícios, mas não crê. 2. Ódio e morte. Caim mata porque odeia. Esse ódio tem origem em Satanás, conforme João 8.44. 3) Mentira e petulância. O ódio levou Caim ao crime e à consequente mentira (Gn 4.8-9).
b) Erro de Balaão. Balaão é o líder que corre atrás do lucro, sem se importar com os meios ou as consequências. (Nm 24.10-14; Nm 31. 14-16; Js 24.9-10; Ap 2.4-14). Balaão levou Israel a pecar contra Deus, ofuscado pelas riquezas que lhe ofereceu Balaque. Talvez cegueira seja a palavra para definir o erro desse profeta. Diz o Pr. Pedro Moura:
1. Cego é o líder que não teme o juízo de Deus. 2. Cego é o líder que encanta multidões com oratória, aparência, juventude, influência, mas não cuida da vida pessoal com o Senhor. Nem o que ele mesmo prega lhe diz respeito. 3. Cego é o líder incapaz de ver quão longe vão a influência e as consequências do seu erro, do seu mau exemplo. 4. Cego é o líder ávido por dinheiro, proeminência, fama, bens, aplausos, o líder que consegue tudo o que sonha, mas rouba a esperança dos desesperados e fracos.
c) A contradição de Coré (Nm 16.31-35). Coré liderou 250 homens contra Moisés e Arão. Rebelião que questiona a sabedoria de Deus.
Ai deles! Ai dos falsos crentes e mestres que trilham o caminho da inveja (Caim), da ganância (Balaão) e do orgulho (Coré). O Comentário Bíblico Africano resume a questão dizendo que Judas os descreve como sendo:
a)rochas submersas em vossas festas. Semeiam ódio e divisão; b) pastores condenados por Deus, pois a si mesmos se apascentam. Egoístas. Irresponsáveis. c) não confiáveis: criam esperança e depois as frustram.
Tais líderes causam decepção: a) são árvores em plena estação de fruto, mas sem fruto. Duplamente mortas: hipocrisia, esterilidade, sermões eloquentes, desprovidos de substância bíblica e espiritual. b) Efervescentes como ondas bravias, mas produzem ideias sem valor. c) Estrelas errantes: em vez de oferecerem orientação e foco, são sem propósito. Imprevisíveis.
Judas cita o problema e mostra como Deus trata aqueles que circulam entre o povo de Deus para tentar enganá-lo e semear dúvida e discórdia. Sim, “Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos” (Jd 14b). Esse Senhor, que é vindo, vai agir com justiça. Vai julgar as obras de impiedade e as palavras, duras palavras que foram proferidas contra o Senhor. Ai deles!
Apoio Bibliográfico:
18. GRUNZWEIF, Fritz et all. Cartas de Tiago, Pedro, João e Judas. Comentário Esperança. Curitiba: Paraná – Editora Evangélica Esperança, 2008. 19. DRUMMOND, R.J., MORRIS, Leon. O Novo Comentário da Bíblia – vol. II. São Paulo: Vida Nova. Reimpresso em 1987. 20. McDOWELL, Edward A.. Comentário Broadman. Volume 12. Rio de Janeiro: JUERP. 1987 21. CARSON D. A. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova. 2009. 22. GREEN, Michael. II Pedro e Judas. Introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão. 1988. 23. MOURA, Pedro. Carta de Judas irmão de Jesus. Introdução e Comentário. Salvador: Edições Moura. 2010. 24. ADEYEMO, Tokunboh. Comentário Bíblico Africano. São Paulo: Mundo Cristão. 2010.