CONSELHOS SÁBIOS: O Mistério dos Atos de Deus (Eclesiastes 7 a 12)
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CONSELHOS SÁBIOS: O Mistério dos Atos de Deus (Eclesiastes 7 a 12)

O desconhecido é algo provocante, quando não inquietante. Se determinado assunto se apresenta com elementos encobertos, enigmáticos, é comum que desperte alguma reação nas pessoas: curiosidade para muitos, receio para alguns, e até assombro para outros. Afinal, trata-se de um mistério. A palavra mistério significa segredo, algo que se encontra oculto.

Deus tem os seus mistérios. A Bíblia diz que “as coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Deuteronômio 29:29).

Há coisas encobertas que assim permanecerão. Estas são da alçada exclusiva de Deus. Seja por sua decisão soberana: Ele é o Criador e Senhor de todas as coisas; seja pela grandeza e majestade de seus pensamentos e de sua obra, infinitamente superiores à capacidade de compreensão humana. O livro de Eclesiastes registra isso: “Então contemplei toda obra de Deus, e vi que o homem não pode compreender a obra que se faz debaixo do sol; por mais que trabalhe o homem para a descobrir, não a entenderá; e ainda que diga o sábio que a virá a conhecer, nem por isso a poderá achar” (8:17).

Contudo, existem mistérios, ou segredos, de Deus que estão designados a revelação, porém o conhecimento deles está restrito a algumas pessoas. Há um requisito estabelecido por Deus a ser atendido. O Salmo 25:14 diz que “O segredo do Senhor é para os que o temem; aos que Ele dará a conhecer a sua aliança”. Para os que o temem. É o temor do Senhor que torna alguém digno de conhecer o segredo de Deus.

Digno e capaz, porque o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Provérbios 1:7). Assim, a intimidade do Senhor é privilégio reservado àqueles cujo coração lhe pertence. Esses são os que estão aptos a compreender as revelações de Deus, sabendo dar a elas o devido tratamento de reverência, respeito e obediência.

O curso natural da vida é marcado por certas situações que guardam alguns segredos de Deus em seus significados. Compreendê-los é como desvendar um mistério, havendo por isso a necessidade do discernimento que vem do Senhor. São significados que, inicialmente, contrariam a lógica humana. Eles estão escondidos naquilo que poderíamos chamar de “desacordos da vida”, dando ênfase exatamente aos aspectos negativos e sofridos da experiência humana, como adversidades, tristezas e morte. O livro de Eclesiastes faz menção a estas realidades, chamando a nossa atenção para o significado positivo e benéfico que elas abrigam.

Como poderia o homem entender e concordar que “melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há festa” (7:2), sem que receba o esclarecimento da parte do Senhor? Por estranho que pareça, é isso o que a Bíblia diz, oferecendo explicação para tal afirmação: “pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração” (7:2). Ao tomar em consideração que a morte integra a vida, o homem tem a oportunidade para refletir sobre muitas coisas. É momento propício a uma avaliação sobre a forma como tem conduzido o seu viver, podendo tornar a sua vida mais útil e proveitosa a si mesmo e aos outros. É, também, uma das situações em que alguém pode experimentar mais de perto e com maior profundidade as consolações de Cristo, tornando-se capaz de consolar outros com a mesma consolação que recebeu de Deus (II Coríntios 1:4). Mais ainda, a ocasião do luto leva o homem a pensar sobre o que o aguarda quando a vida terrena encontra o seu ponto final, levando-o a preparar-se espiritualmente para a eternidade.

Sem condenar os momentos de alegria e festa que, sendo dádivas de Deus, devem ser bem aproveitados (8:15) sem os excessos da insensatez (7:4), Eclesiastes revela que há um significado proveitoso na casa onde há luto.

De igual modo, causa perplexidade a afirmação de que “melhor é a mágoa do que o riso” (7:3). Mas para esta também há uma revelação de seu significado, uma explicação que procede de Deus: “porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração” (7:3). O homem que conhece a tristeza resultante de mágoas sofridas tende a desenvolver melhor a sua capacidade empática, relativa a este aspecto, tornando-se mais compreensivo com os demais em igual situação e até evitando proceder de forma semelhante com o próximo. Ele se torna mais humano. Seu coração fica melhor.

Outra advertência relevante encontrada no livro de Eclesiastes diz respeito ao amanhã. Este é um mistério. O Pregador diz: “Deveras me apliquei a todas estas coisas para claramente entender tudo isto: que os justos, e os sábios, e os seus feitos, estão nas mãos de Deus; e se é amor ou se é ódio que está à sua espera, não o sabe o homem. Tudo lhe está oculto no futuro” (9:1). De fato, o futuro a Deus pertence.

Por isso, algumas recomendações são feitas quanto ao aproveitamento do tempo presente. Entre elas, está incluída a medida do esforço humano para a realização de suas tarefas: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” (9:10). A força individual, que varia de pessoa para pessoa, é a medida recomendada. Nem além, nem aquém.

Não deve ser além porque isso compromete a saúde pessoal e a qualidade do desempenho. O trabalho realizado sob esgotamento humano perde a sua qualidade proporcionalmente à escassez da força individual. Não é este o propósito de Deus: que o homem adoeça e trabalhe mal. Quanto a este aspecto, há uma recomendação de Jesus, feita aos seus discípulos, numa ocasião em que os viu afadigados em meio às suas atividades: “E ele lhes disse: Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto; porque eles não tinham tempo nem para comer...” (Marcos 6:30). Jesus está ensinando que as forças humanas precisam ser renovadas para serem preservadas.

Também não deve ser aquém porque isso caracterizaria displicência e mau aproveitamento das oportunidades. Exatamente porque o homem não sabe o que lhe aguarda no futuro, o tempo de prestar um bom serviço ao Senhor e ao próximo é hoje. Na medida da força que recebeu de Deus.

Por esta mesma razão – a de que o futuro a Deus pertence – a prudência recomenda que todas as coisas sejam feitas em tempo oportuno: sem precipitação porque “não é dos ligeiros o prêmio” (9:11), sem postergação “pois o homem não sabe a sua hora” (9:12).

Porém, se há tempo oportuno, há também o modo apropriado de se proceder, visto que haverá o momento de prestação de contas perante o Senhor.

Neste sentido, uma palavra de amorosa advertência é dirigida aos jovens: “Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá conta” (11:9). O segredo para não errar já foi revelado e o Pregador de Eclesiastes registrou: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer” (12:1). Lembrar do Senhor é o segredo de uma vida bem sucedida. Essa lembrança, no entanto, é mais do que uma atividade da memória. É considerar os preceitos e estatutos do Senhor, vivendo por eles.

Por isso, depois de afirmar que as sentenças coligidas no livro foram “dadas pelo único Pastor” (12:11), o próprio Deus, autor e fonte de toda verdadeira sabedoria, o Pregador apresenta a síntese da mensagem de Eclesiastes: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem” (12:13).

Temer a Deus e guardar os seus mandamentos. Uma coisa leva à outra.

Assim devemos viver, sabendo que haverá o momento em que nenhum segredo humano ficará encoberto “porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más (12:14).

Que para tanto o Senhor nos abençoe e ajude.

Consulta Bibliográfica

McNAIR, S. E. A Bíblia Explicada. 4ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1983.

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