Introdução
Êxodo é o segundo livro da Bíblia e do Pentateuco. Ele deve ter sido escrito na mesma época que Gênesis, ambos possivelmente por Moisés. É comumente aceito que Êxodo não é um novo livro, mas uma continuação de Gênesis.
Muitas das promessas feitas aos patriarcas no primeiro livro são concretizadas no segundo. O contexto do livro é apresentado logo no primeiro capítulo. Êxodo 1.1-7 serve como uma ligação com o livro de Gênesis sendo que o verso 5 sumariza o momento histórico a partir do qual a narrativa de Êxodo segue [1]. “E os filhos de Israel frutificaram, aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra [Egito] se encheu deles”. (Ex. 1.5). Este verso demonstra o cumprimento inicial da promessa que Deus fez a Abraão em Gênesis 12.1-3 de que sua descendência haveria de ser uma grande nação e uma bênção para todos os povos.
Um dos significados de Êxodo hoje é que essa grande nação da promessa ultrapassou os limites étnicos e históricos do povo de Israel tornando-se algo muito mais amplo. A partir da vinda de Jesus de Nazareth, Messias de Deus, Salvador, descendente de Abraão, anos depois, o povo de Israel étnico, aquele da promessa, passou a ser o povo de Israel espiritual formado por todo aquele que crê em Jesus como Salvador e Senhor.
Além de sinalizar para a redenção de todos os povos, a saga do povo de Israel histórico, descrita ao longo do livro, relata inúmeras situações que trazem valiosos ensinos para a atualidade. Alguns desses ensinos abordam questões sobre liderança, sobre como vencer desafios intransponíveis, como conhecer a vontade de Deus de forma pessoal, como depender de Deus frente a situações complexas ou como faz falta não balancearmos o preparo ou conhecimento acadêmico, o engajamento no serviço cristão e o poder espiritual.
Êxodo, que quer dizer “partida” ou “nomes” na tradição hebraica, conta o retorno do povo de Israel à terra que Abraão havia recebido como promessa mais de quatro séculos antes. Em tempos de seca e penúria os hebreus, através de Jacó e sua casa, foram preservados ao serem enviados para o Egito, então sob o governo de José. Lá ficaram por 400 anos tornando-se escravos ao final desse período. O Povo de Israel cresceu de cerca de cento e quarenta pessoas na chegada, para cerca de dois milhões na partida. A promessa de Deus em fazer daquele povo uma grande nação vence mais uma etapa conforme documentada em Êxodo.
1. Contexto sócio cultural
Êxodo possui dois aspectos distintos: do início do livro até a saída do Egito e da saída até o final do livro [2]. No início da narrativa o povo de Israel vive como escravo no Egito, habitando em casas, formando comunidades possivelmente segmentadas pelas doze tribos. Apesar de viverem em regime de escravidão e trabalho pesado, aparentemente moravam de forma aceitável e possuíam alimento suficiente.
Com a partida, contudo esse quadro muda radicalmente. Deixam para trás a dominação do Faraó do Egito, e passam a depender totalmente de Javé. Essa dependência se dá em todos os níveis e aspectos. Começa por definir por onde seguir pelo deserto, onde acampar, onde e como obter água e alimento, indo até o recebimento e a adoção de um código de leis que deveriam seguir já agora como nação. Isso incluía especificações de como Javé habitaria entre eles, como e onde seria adorado e como o povo deveria se relacionar com Javé. O que era abundante no Egito em termos de habitação e alimento, agora era escasso. Passaram a ser nômades e dependentes inteiramente de Javé para sobreviver. Por outro lado, o que era escasso nos tempos do Egito, a presença de Javé, agora, passa a ser uma realidade constante.
Trazendo esse quadro para a atualidade, podemos escolher viver sob a “opressão do Egito” ou sob o domínio de Deus. No primeiro caso, o Egito simboliza nossa própria vontade que nos leva muitas vezes a ter uma sensação de abundância e independência, mas que na realidade, acaba por nos limitar e até escravizar. Por outro lado, se deixamos o Egito para traz e passamos a depender inteiramente de Deus, isso nos levará à liberdade e à conquista da nossa própria terra prometida.
2. Ensinamentos Teológicos
A experiência do Êxodo ensinou princípios teológicos aos israelitas e ainda nos ensina hoje. Aprendemos por exemplo, sobre a natureza de Deus, sobre Sua salvação, sobre a natureza do pecado, sobre as características de um líder que se coloca nas mãos de Deus, o significado da santidade de Deus e questões relacionadas com a adoração a Ele.
Deus é o único Deus verdadeiro, que age em favor do Seu povo mesmo quando este se encontra subjugado pela maior potência militar do mundo conhecido. Ele usa as forças da Natureza para cumprir os Seus propósitos [3]. Ele livra Seu povo pela Sua graça e misericórdia. Em troca, Ele requer que Seu povo o aceite e Lhe seja fiel. Ele capacita o líder vulnerável, chamado em tempos de fraqueza, para demonstrar que a vitória não vem da virtude do líder, mas do caráter do próprio Deus que realiza Sua obra através do líder que Ele chamou e capacitou.
3. Conclusão
A libertação do povo de Israel da escravidão do Egito e seu retorno à terra prometida, pela misericórdia e ação de Deus, podem ser vistos como uma metáfora de como Ele provê a salvação do seu povo também hoje. Ao longo de nossa existência, quase sempre teremos nossos “Egitos” a nos oprimir. Deus pode agir em nossas vidas, nos tirando de um lugar ou situação onde somos oprimidos, concedendo-nos liberdade.
O que aprendemos em Êxodo é que o Senhor livra e liberta o seu povo.
Se somos povo de Deus, seremos libertos.
Você faz parte do povo de Deus?
Bibliografia:
[1] “Exodus: The Birth of the Nation Highlights in the History of Israel - Part II Pharaoh’s Fears and Israel’s Faith” Robert L. Deffinbaugh, Th.M. Biblical Studies Press
[2] “Analysis and Synthesis of Exodus” Frank DeCanio - The Biblical Studies Foundation [3] Holman Bible Dictionary Verbete “Exodus”