LEVÍTICO I – HOLOCAUSTOS, OFERTAS, SACRIFÍCIOS E SACERDÓCIO (Levítico 1 a 12)
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LEVÍTICO I – HOLOCAUSTOS, OFERTAS, SACRIFÍCIOS E SACERDÓCIO (Levítico 1 a 12)

Introdução

Possivelmente escrito por Moisés, o livro de Levítico, terceiro do Pentateuco, apresenta instruções que regem o relacionamento do povo com Javé e com o próximo. Em uma primeira divisão, que vai do capítulo 1 a 17 são encontrados princípios e procedimentos referentes a sacrifícios para remoção de pecados, para restauração da comunhão com Deus, sobre purificações e sobre o sacerdócio. Na segunda parte, que vai do capítulo 18 a 27 podem ser encontradas questões práticas sobre ética, direito (civil e religioso), moralidade e santidade.

É pouco comum encontrar crentes que se interessem pelo livro de Levítico. Normalmente alegam que é muito enfadonho ler sobre regras, rituais e símbolos que não podem ser seguidos ou praticados. Alguns dizem que o texto pertence à outra época e por isso, não é relevante e nem possui aplicações para a atualidade. Há também quem diga que alguns ensinos nele encontrados são inconsistentes com o amor e a natureza de Deus que hoje conhecemos, incluindo o fato do livro ser “muito sangrento”. Dizem ainda que enquanto Gênesis e Êxodo são narrativas históricas fáceis de entender, o mesmo não acontece com Levítico [1a]. Diante de todos esses argumentos, como encarar esse terceiro livro da Bíblia? Ao longo deste estudo e dos demais desta série, tentaremos responder a essa questão. Enquanto isso, porém vale lembrar o que nos diz 2 Timóteo 3.16 a 17: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”.

1. Sacerdócio no AT

Apesar do sacerdócio no Antigo Testamento ter sido formalmente estabelecido no livro de Levítico, o assunto remonta a tempos mais antigos. Abraão, há mais de 400 anos antes, já havia sido abençoado por um sacerdote de nome Melquisedeque (Gn 14:18-20).

Moisés, ele mesmo, além de líder do Povo de Israel, desenvolveu também uma função sacerdotal inicial e temporária, até que Arão veio a ser colocado por Javé como o primeiro sumo sacerdote entre o povo. Nessa época, Jetro, sogro de Moisés, identificado inicialmente como sacerdote em Midiã, passa a ser reconhecido como sacerdote do Deus Altíssimo conforme Êx. 18.1 e 10-12.

Mais à frente, Êxodo 19.22-24 dá conta da existência de outros sacerdotes quando estes são convocados para se consagrarem ao Senhor. Alguns comentaristas afirmam que a Lei Mosaica na realidade formalizou e regulou práticas não só do sacerdócio de Arão e de seus filhos como também de sacerdócios existentes antes do estabelecimento da Aliança no Sinai [1b].

É em Êxodo 28.1-4 que a legislação referente ao sacerdócio de Arão e seus filhos se inicia com as especificações das vestes sacerdotais que eles deveriam usar. No capítulo seguinte são dadas instruções de forma detalhada quanto à consagração deles. Mas somente em Levítico 8 a 10 e não em Êxodo é que essas instruções se concretizam. Do AT até hoje permanecem alguns princípios quanto ao sacerdócio cristão, dos quais destacamos nesta oportunidade, quatro deles:

a. Da mesma forma que o sacerdócio no AT foi outorgado a uma família (Arão e seus filhos), o sacerdócio cristão hoje só pode ser outorgado aos que forem membros da família de Cristo, isto é, aos que tenham aceito Jesus como Salvador e Senhor de suas vidas.

b. No AT o sacerdócio era considerado sagrado e a violação dessa santidade era punida por Javé. Hoje, um sacerdote, realmente consagrado, na figura de um pastor ou de um padre, que vier a descer do seu púlpito dificilmente voltará a subir. Deus o tratará seriamente por essa falta.

c. Aqueles que forem chamados para um ministério terão que ter clareza quanto ao significado do que estão assumindo. Dois sacerdotes, filhos de Arão, foram mortos por conta de suas desobediências no cumprimento de suas tarefas.

d. A função daqueles que são chamados para o sacerdócio é servir a Deus e aos homens. Se o sacerdote não tiver o dom do serviço seu ministério tenderá a ser um fracasso.

2. Holocaustos no AT

Certa vez, quando adolescente, me perguntei por que na Bíblia salvação e vida eterna tinham a ver com sacrifício de sangue. Passei alguns anos sem uma resposta razoável até que a encontrei. Essa resposta, eu a compartilho a seguir com o prezado leitor. Quando o homem rompeu com Deus no Jardim do Éden, ele perdeu a harmonia com o seu Criador.

A partir daí, o significado de salvação passou a ser religar-se ou restaurar essa harmonia. Isso ocorreria à medida que a pessoa aceitasse entregar a sua vida a Deus. Mas como fazer essa entrega?

O hebreu antigo cria que a vida estava no sangue. Quando o sangue de um animal se esvaía era a vida que se esvaía. Uma forma de entregar a vida a Deus, portanto, seria sacrificar-se a si mesmo entregando o próprio sangue, ou seja, a vida, a Deus. Claro que isso significaria a morte física do ofertante, daí o mecanismo de se utilizar um animal no lugar da pessoa.

Nos holocaustos do AT a pessoa deveria se identificar com o animal sacrificado colocando a mão em sua cabeça. Teria que ter cuidado do animal, escolhê-lo e trazê-lo para o sacrifício [1c]. Os animais trazidos pela pessoa poderiam ser gado, ovelha, cabra ou pássaros (rolinhas ou pombos). Os animais tinham que ser domésticos. Isso era um sinal de que o animal, usado no holocausto possuía uma ligação com o ofertante.

Ele na realidade representava a pessoa naquele ato. Por isso, o animal não poderia ser selvagem. Além disso, eles tinham que ser de alta qualidade, machos e jovens. Os holocaustos envolviam vários aspectos e momentos da vida do ofertante, incluindo temas morais e de saúde. Havia holocaustos obrigatórios e voluntários. Eram oferecidos em várias ocasiões, às vezes combinados com outras ofertas. A oferta era parte da pessoa. O sacrifício simbolizava também a fé na redenção provida por Deus.

3. Princípios que valem até hoje

Ao se considerar essa questão dos sacrifícios no AT, podemos identificar alguns princípios que valem até hoje [1c], dos quais destacamos:

• A salvação continua a requerer um sacrifício, não mais de um animal como no AT, mas de Jesus, o Cordeiro que tira o pecado do mundo. O sacrifício foi feito na cruz do Calvário. É necessário que a pessoa se identifique com esse Cordeiro, arrependa-se de seus pecados e aceite esse ato de salvação.

• Entregar a vida a Deus significa entregar a própria vontade, planos e propósitos a Ele. A partir daí, Deus passa a ser o Senhor da vida da pessoa.

• Para se aproximar de Deus era necessário assumir a condição de pecador (alguém distante de Deus). O sacrifício traria a pessoa para perto de Deus. Isso também ocorre hoje. • No AT havia vários sacrifícios. No NT há apenas um sacrifício perfeito, o de Jesus de Nazareth, o Messias de Deus.

Finalizando, vale ressaltar que é Deus quem estabelece o caminho. As regras de Levítico foram estabelecidas por Deus e não o contrário. Deus não permitia que o homem se aproximasse dele de qualquer maneira, mas apenas na maneira Dele. Hoje, os caminhos que o homem estabelece para voltar a Deus continuam a ser inaceitáveis. Só há um caminho. É o que nos diz Jesus em João 14.6: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. O caminho não são as coisas que Jesus disse ou fez e nem as boas obras que alguém venha a fazer, mas o próprio Jesus. Ele é o Caminho. Você conhece pessoalmente esse Caminho?

 

Bibliografia:

[1 ] “Leviticus: Sacrifice and Sanctification, Part III, Highlights in the History of Israel” (a) “Learning to Love Leviticus”, (b) “Principles of Priesthood”, (c) “The Law of Burnt Offerings” Robert L. Deffinbaugh, Th.M. - Biblical Studies Press

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