Introdução
O livro de Números, quarto livro do Pentateuco, começa com os israelitas acampados ao pé do Monte Sinai cerca de um ano após terem saído do Egito. Javé havia renovado sua aliança com eles. O povo se estrutura como uma nação começando por receber sua Constituição formada pelos Dez Mandamentos e demais leis. Essa nação, porém ainda não possuía seu território. Este deveria ser ainda conquistado. Após um período inicial de estruturação interna eles começam a se deslocar como uma força militar para tomar posse da Terra Prometida. É nesse tempo que ocorrem vários episódios relevantes na história daquele povo.
O livro de Números, possivelmente escrito por Moisés entre 1440 e 1400 a.C. cobre este período de 38 anos, que vai desde o recebimento da lei (Êxodo e Levítico) até a efetiva preparação para a entrada em Canaã, (Deuteronômio e Josué).
O propósito do livro é fornecer instruções aos israelitas durante a jornada pelo deserto que os levaria a Canaã e prepará-los para a conquista daquela terra. De uma forma resumida pode-se afirmar que o livro foi escrito para mostrar:
• A peregrinação dos israelitas no deserto (por que, como, onde, quando, quem e para que). • Como Deus organizou o povo para essa peregrinação e para a conquista da terra que veio a seguir. • A maneira como Deus estabeleceu para eles uma nova liderança ao final dos 40 anos de peregrinação. • Como os israelitas deveriam enfrentar as ameaças dos povos que já ocupavam Canaã. • A forma de como o lado rebelde do povo viria à tona com as crises da jornada. • Quais as consequências dessa rebeldia e como isso impactou quem efetivamente pôde entrar na Terra Prometida. • De que forma Javé deu direção, capacitou e sustentou o seu povo.
O texto pode ser dividido em duas partes, sendo a primeira, do capítulo 1 a 25, onde cobre a geração que saiu do Egito e a segunda, do capítulo 26 a 36, que cobre a geração que entrou na terra de Canaã.
Se usado o critério cronológico, o livro pode ser dividido da seguinte forma:
a. Israel acampado no Sinai (Nm 1.1 a 10.10): o povo é contado e organizado, são estabelecidos deveres dos sacerdotes e levitas e são dadas diversas instruções para o povo. b. Jornada do Sinai a Moabe (Nm 10.11 a 22.1): viagem do Sinai ao deserto de Parã, problemas em Parã, viagem de Parã (Cades) à Moabe. c. O acampamento em Moabe e a preparação para a entrada em Canaã (Nm 22.2 a 36.13): os episódios de Balaão e o culto a Baal, contagem (estatística), instruções para a nova geração e o preparo para atravessar o rio Jordão.
O contexto histórico
Embora Números venha logo depois de Levítico no Pentateuco, seu contexto histórico está muito ligado ao final do livro de Êxodo e início de Deuteronômio. Enquanto Êxodo descreve o livramento do povo de Israel da escravidão no Egito e o estabelecimento de uma nova aliança com Javé, incluindo a entrega da lei ao povo acampado no Sinai, Levítico detalha aspectos da lei, mas sem entrar na narrativa histórica. Esta só é retomada em Números onde é narrada a organização das tribos de Israel em termos primariamente militares, visando preparar o povo para a entrada e conquista da terra de Canaã.
O contexto sócio cultural
Este contexto se inicia em Êxodo e Levítico com o povo acampado no Sinai por volta de um ano após sair do Egito. No capítulo 13 e 14, e como será visto no próximo estudo, Israel tem a oportunidade de entrar na Terra Prometida, mas comete um grande erro e não o faz. Por volta do capítulo 20, Israel se move então para a região de Cades, norte do deserto de Parã e a partir desse ponto passa a peregrinar pelo deserto os 38 anos seguintes até uma nova oportunidade de entrar em Canaã. Durante esse tempo o povo vive como nômade. Embora o relacionamento com Javé estivesse em crise ele não havia sido rompido. Por conta disso, os israelitas permanecem comprometidos com a aliança feita com Javé no monte Sinai. Até porque todo aquele período de peregrinação fazia parte dos propósitos de Deus quanto a qualificar o seu povo para a entrada na Terra Prometida.
O contexto teológico
Os planos de Deus para o povo seguem adiante apesar da rebeldia de Israel. A aliança no Sinai havia sido condicional no sentido de que as bênçãos para o povo só viriam se este andasse nos caminhos do Senhor. O povo rebelde experimentaria mais 38 anos de peregrinação pelo deserto como resultado da sua atitude de rebeldia. A aliança com Abraão, contudo havia sido incondicional quanto aos propósitos de Deus para Israel, quanto a ela vir a ser a nação através da qual o Messias de Deus, um dia, haveria de vir. Por conta disso, e a despeito da rebeldia do povo, os planos de Deus seguem rumo à concretização de seus objetivos.
Conclusão
Pode-se dizer que o tema teológico mais relevante do livro de Números é a rebelião continuada do povo contra Javé. A partir disso, muitas aplicações podem ser obtidas por aquele que se propuser a estudar esse texto sagrado.
O que encontramos hoje em nossa sociedade e mesmo na vida de cada um é um paralelo à vários dos eventos que são narrados em Números. Deus tem um propósito de que todo ser humano possa entrar na Terra Prometida. Isso significa salvar todo aquele que crer em Jesus de Nazareth, o Messias de Deus. Além disso, quem confiar e obedecer receberá bênçãos. Quem não confiar e não obedecer perderá as bênçãos ligadas às promessas de Deus como consequência lógica da desobediência.
Minha oração é que possamos aprender com as vitórias e os erros dos israelitas do Antigo Testamento e que isso possa fazer parte da experiência religiosa do nosso cotidiano trazendo-nos lições que nos permitam viver melhor e mais sabiamente.
Bibliografia:
“Analysis and Synthesis of the Book of Numbers” Frank DeCanio The Biblical Studies Foundation