A CARTA AOS EFÉSIOS – I ASPECTOS ESSENCIAIS DA DOUTRINA DA SALVAÇÃO (Estudo 6 – Efésios 1 e 2)
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A CARTA AOS EFÉSIOS – I ASPECTOS ESSENCIAIS DA DOUTRINA DA SALVAÇÃO (Estudo 6 – Efésios 1 e 2)

Muito tem se discutido a respeito da autoria da carta que conhecemos como “Aos Efésios”. O estudo aprofundado do estilo, do vocabulário e também do conteúdo apontam para a possível autoria de discípulos de Paulo e não do apóstolo. Outra dificuldade é com relação à data em que foi escrita, mas ambas as questões ficam reduzidas a muito pouco, quando nos recordamos que é consenso que a carta pertence ao cânon do Novo Testamento e que foi reconhecida como Palavra de Deus. Esta convicção nos faz confortáveis em tratar do conteúdo sem qualquer preocupação, descobrindo nos ensinamentos que temos muito do ministério e da própria vida do apóstolo Paulo.

Para o Dr. Russell Shedd, esta carta é como se fosse o auge, uma descrição inspirada da vivência com Cristo e também uma abertura para a inspiração do Espírito para todos os crentes em Jesus. (Tão Grande Salvação, p.7) A epístola não foi direcionada a uma igreja, mas a várias e a essência do conteúdo poderia ser considerada a continuação que Paulo teve da sua visão no caminho de Damasco, porque o que temos aqui é o resultado do entendimento da glória de Deus. Os santos que estavam em Éfeso e que também estavam em Cristo saberiam compreender a mensagem que agora recebiam.

A chamada é à adoração: “Bendito seja o Deus e pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo.”(Ef 1,2). Neste versículo e também nos de números 6, 12 e 14, Paulo destaca que o produto de tudo aquilo que Deus fez e fará é para o louvor da Sua glória.

Não devemos nos preocupar demasiadamente com algumas expressões que são encontradas aqui nesta carta; algumas delas só aparecem aqui em todo o Novo Testamento, porque o destaque a tais conceitos nos faria perder a ênfase maior, fruto de uma reflexão descompromissada com a ideia de produzir um tratado teológico, mas sim o de clarificar aquilo que seja necessário ao louvor, à adoração.

Paulo está muito mais preocupado em destacar aspectos positivos e essenciais da doutrina da salvação do que provocar polêmica em torno do conceito de eleição, aqui visto como apenas expressão do amor de Deus por aqueles que aceitam o Evangelho de Jesus Cristo. Também não se detém na explicação sobre a relação entre lugares celestiais nem nas referência à descida às partes mais baixas da Terra. Quando menciona o mistério, o faz dentro de um contexto que se enquadra bem no conceito da palavra para o Novo Testamento: “Descobrindo-nos o mistério da Sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em si mesmo, de congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra.”(Ef. 1, 9 e 10). O Dr. W.G.M. Martin nos ensina que “a palavra mistério, no Novo Testamento, não tem o significado moderno de alguma coisa curiosa e ininteligível, mas sim de algo inescrutável à razão humana e que agora se tornou objeto da divina revelação.”(Em O Novo Comentário da Bíblia, p. 1251). Em palavras muito simples, era mistério mas nos foi revelado, deixou de ser mistério.

Aparentemente livre do problema dos judaizantes, objeto da carta aos Gálatas, Paulo faz uma retrospectiva da sua vida de trabalho e percebe que há muito para adorar e para louvar. Disso se ocupa, quando escreve aos crentes da Ásia, na qualidade de preso do Senhor, provavelmente em Roma.

Nos dois primeiros capítulos da epístola, percebemos, de início, as razões para que a Igreja renda ações de graças. Esse culto deverá ser prestado às três pessoas da Trindade. Deus-Pai está em 1,3 que diz: “Bendito o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo.” O Filho, também denominado “O Amado”, é destaque do final do versículo 6: “Para louvor e glória da sua graça, pelas quais nos fez agradáveis a Si, no Amado.”

O Espírito Santo é contemplado no versículo 13, também do capítulo 1, a saber: “em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” A Deus Pai, a Deus Filho e a Deus Espírito Santo a Igreja precisa dar toda honra e toda glória. Porque recebeu bênçãos, a Igreja precisa ser agradecida. Igreja que se reúne para louvar e para adorar não tem muito tempo para questões de menor importância.

O apóstolo vai adiante e explica a razão do contentamento, da alegria que brota do seu coração e que se reflete nas linhas da epístola, conhecida por ser uma epístola alegre, descontraída mas com profundo conteúdo. “Por isso, ouvindo eu também a fé que entre vós há no Senhor Jesus, e o vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações”.(Ef. 1,15 e 16).

Paulo passa a explicar o que acabara de dizer e se utiliza da expressão Por isso, expressão que reúne toda a revelação do propósito de Deus que Paulo acabara de explicitar. Essa revelação deixa evidentes a fé e o amor dos seus leitores como sendo parte de um imenso conjunto, e é razão mais do que suficiente para que o apóstolo se regozije diante de Deus.

Era habitual o apóstolo se deter nas evidências do estado espiritual dos crentes, porque por meio delas podia perceber como o Espírito Santo estava atuando naquela igreja. É também o Dr. Martin quem resume este importante tópico, dizendo: “nós também devíamos nos concentrar mais no crescimento da fé e do amor, do que no sucesso externo da nossa organização eclesiástica.”(op.cit. p.1253). Com ele concordamos e fazemos desse alerta um motivo para a nossa reflexão, que deverá nos conduzir a uma vida mais efetiva na Igreja.

A preocupação de Paulo com aqueles crentes era para que desfrutassem o conhecimento, o espírito de sabedoria e de revelação. A oração de Paulo então se desenvolve nesse sentido, quando diz: “Para que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos.” Ef. 1, 18 e 19.

Essa sabedoria, porém, não era apenas um conhecimento intelectual, porque a mente, por si só, não consegue compreender a verdade de Deus. Para que alcance a plena compreensão, é necessário o envolvimento também das emoções, do coração. Estes devem estar unidos ao intelecto para que a compreensão dos assuntos do Reino de Deus se efetive. A sabedoria que se apoia somente no intelecto é inoperante, é vaidade. É justamente por isso que, pessoas extremamente inteligentes e estudiosas, que passam horas a fio estudando mas que se descuidam da aplicação do conteúdo nas facetas da vida cristã, percebemos que essas pessoas não conseguem se comunicar com as demais ao ponto de ajudá-las a alcançar as verdades eternas. Sabem muito, mas tal saber de nada se aproveita; fica apenas no campo racional, no intelecto, produz meramente a satisfação pessoal daquele que a cultiva.

Que Deus nos ajude a entender com clareza estes capítulos, essenciais que são para o fortalecimento da nossa fé. Amém.

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