A CARTA AOS EFÉSIOS IV – A CONDUTA DO CRENTE NO MUNDO (Efésios 5 e 6)
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A CARTA AOS EFÉSIOS IV – A CONDUTA DO CRENTE NO MUNDO (Efésios 5 e 6)

Concluímos hoje os estudos na carta de Paulo aos Efésios. O capítulo 5 traz, nos versículos iniciais, outros conselhos com referência à conduta cristã. Eles foram iniciados no capítulo 4 e formam uma unidade até o versículo 20 do capítulo 5. São os destaques que Paulo entende serem normais na vida do crente e, se ausentes, evidências da falta de comprometimento com Cristo.

Já analisamos a mentira, a ira, o furto e o palavreado torpe. Um sentido para a palavra torpe é “peixe podre” e sabemos o aroma que tem este tipo de peixe. O conselho de Paulo é para que não exalemos o perfume do “peixe podre” com nossas palavras, mas que busquemos cultivar um palavreado que seja agradável aos ouvintes a tal ponto que eles cheguem a ser abençoados com o que ouvem dos nossos lábios.

Se já estava complicado seguir as orientações até aqui, mais dificuldades teremos pela frente. O texto, ainda no capítulo 4, continua com orientações bem específicas: “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção. Toda amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda malícia sejam tiradas dentre vós. Antes, sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros como também Deus vos perdoou em Cristo.” (Ef. 4, 30-32).

Vale, aqui, uma explicação adicional sobre o mundo dos efésios. Éfeso era a quarta maior cidade do Império Romano. Abrigava o templo da deusa Ártemis, também chamada Diana. Ártemis era a divindade mais procurada da Ásia. Nos dias de Paulo, a importância comercial que Éfeso alcançara estava em declínio, porque o porto não estava em condições de receber navios. A cidade sobrevivia do culto à Ártemis, a partir da exploração comercial turística e peregrinações religiosas associadas a Ártemis.

Este tipo de comércio trouxe riqueza para os ourives, que faziam imagens da deusa e miniaturas do templo a ela consagrado. Donos de hospedarias e de restaurantes também foram beneficiados com a atividade exercida na cidade, porque o templo dedicado a Ártemis era uma das sete maravilhas do mundo antigo. Ártemis era a padroeira do sexo e as prostitutas vendiam seus corpos sem qualquer restrição ou condenação no bordel de dois andares que se instalara na Estrada de Mármore.

Além do culto a Ártemis, havia a prática de mágica, de feitiçaria. Isto era documentado e se transformou em compêndio denominado “Ephesia grammata.”

Exatamente porque a cidade possuía todas essas características, Deus enviou Paulo a Éfeso para convocar a Igreja a ser luz que iluminasse a cidade que estava escravizada às trevas geradas pelo ocultismo. Estas breves notas de caráter histórico, preparadas pelos comentaristas da Bíblia de Estudo Indutivo, nos ajudam a compreender melhor a razão de Paulo se deter nas atitudes, no comportamento, no apelo à união da Igreja.

Curiosamente, os assuntos tratados nessa carta são atuais e necessários ainda hoje, como tivemos oportunidade de observar nos estudos anteriores e também neste. Se enxergamos o amor incondicional de Deus indo ao encontro da Igreja amada, também percebemos que tal amor continua com seus efeitos em nossos dias, porque – nas páginas desta pequena carta – encontramos orientações que precisam ser observadas, se quisermos manter a unidade da Igreja e efetivas as características de bom perfume e de luz neste mundo.

O capítulo cinco vai detalhar os itens para os quais o crente precisa estar atento para que seja diferencial em um mundo onde o paganismo, a idolatria, o culto ao homem acontece com tanta tranqüilidade que as pessoas desavisadas até imaginam que sejam agradáveis a Deus. A justificativa para seguir o conselho de Paulo aparece no versículo 8 e seguintes, onde lemos:

“Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (porque o fruto do Espírito está em toda a bondade, e justiça e verdade) aprovando o que é agradável ao Senhor. E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as, porque o que eles fazem em oculto até dizê-lo é torpe. Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta. Por isso diz, desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos e Cristo te esclarecerá. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus”. Ef. 5, 8-16.

Agora que estamos informados sobre a característica daquela parte do mundo localizada em Éfeso, o texto que acabamos de ouvir se torna muito mais claro e também a nossa responsabilidade em colocar em prática os ensinamentos paulinos aumenta, porque já fomos advertidos que deixar de obervá-los é falta de sabedoria, ou seja, é loucura.

O convite é para que o nosso andar seja como o andar daquele que anda na luz, que tem compromisso com a verdade, com a retidão. Abrigar em nosso meio espírito de contenda, de ira, de inveja, de desconfiança, de mentira, de palavreado torpe faz com que a Igreja deixe de ser luz e passe a compactuar com as trevas. Se a Igreja não for o referencial de luz para o mundo, quem o será? Quem vai ensinar os valores do Reino de Deus se a Igreja não o fizer? Quem vai apontar para o erro de se apoiar o misticismo, o culto ao corpo, à personalidade, aos deuses e deusas, ao poder que acreditam existir nas velas, nos duendes, nas estrelas, no culto aos mortos em todas as suas modalidades, se a Igreja se calar?

E como a Igreja será ouvida se ela não for identificada com valores opostos ao que a sociedade cultua? Qual a linguagem que a Igreja usará para comunicar à sociedade os valores do Reino de Deus se ela não estiver comprometida com os ensinamentos da Palavra de Deus ao ponto de falar o que a Palavra fala e de viver o que a Palavra ensina?

Paulo continua: “Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração; dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus.” (Ef. 5, 17-21).

Seria muito mais fácil usar o pequeno tempo de que dispomos para o estudo da Bíblia hoje, discorrendo sobre os direitos e deveres familiares que Paulo explicita, principalmente porque, sendo polêmicos, poderíamos exercitar o nosso intelecto para tentar justificar esta ou aquela posição, fechando os olhos para a essência do que o apóstolo deixou escrito para nós. Vai adiantar muito pouco saber como as mulheres e maridos devem-se comportar, como os filhos e filhas precisam honrar os pais e como os pais foram orientados a respeitar os filhos, se a essência das pessoas estiver corrompida com as ações que Paulo descreveu pormenorizadamente.

Crentes em Cristo que busquem com suas atitudes honrar a Deus em tudo, que digam não a qualquer raiz de amargura e ao uso de palavras descorteses para com outros, que alimentem o coração com a Palavra de Deus ao ponto de proferirem palavras que transmitam bondade e sabedoria, para esses crentes não haverá qualquer problema em cultivar uma vida familiar saudável. Por outro lado, será impossível para eles -- por mais que tentem à exaustão -- ser bons maridos ou esposas, filhos ou filhas, pais, patrões e patroas, empregados e empregadas se ainda não forem controlados pelo Espírito de Deus.

Paulo os conhecia bem e também se aproximava do fim da sua vida. Preso há anos, já identificava em si mesmo o efeito da ação do Espírito, ao ponto de poder conclamar com autoridade: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados”.(Ef. 5,1) e “Pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dEle livremente, como me convém falar.” Ef.6,20. Paulo desejava que eles fossem confrontados com as ações que eram normais na sociedade de então mas que seriam inaceitáveis na vida dos que se diziam transformados pelo poder de Deus.

Que vestissem a armadura, que a usassem, que se posicionassem de forma a tornar evidente o compromisso com Deus, era o desejo daquele ancião que, por haver experimentado muita coisa na vida, tinha a autoridade para ensinar, para corrigir e também para, com muito amor e unção, dizer: “Paz seja com os irmãos, e amor com fé da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo. A graça seja com todos aqueles que amam a nosso Senhor Jesus Cristo, em sinceridade.”(Ef. 6, 23 e 24). Qual a resposta que temos diante dessa carta?

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