O tom exortativo vai acentuar-se ainda mais aos coríntios, quando Paulo, defendendo o seu apostolado afirma “ que os homens devem considerá-lo servo de Cristo e encarregado dos mistérios de Deus”. (I Coríntios 4.1) Embora sendo julgado, com desprezo, por um bom grupo de crentes vaidosos, ainda assim, o apóstolo os instrui a não emitirem juízo algum de valor quanto ao seu ministério ou de qualquer outro líder. Há paciência da sua parte em mostrar-lhes que só quem pode (e irá julgar) é o Senhor e que o fará no tempo próprio.
I – Somos todos ministros de Deus –
Todo crente deve estar consciente de que enfrenta o julgamento contínuo dos outros, o incômodo julgamento de si próprio e que haverá de deparar-se com o imparcial juízo divino. A exortação paulina vai num crescente, revelando àqueles crentes que não deveriam estar alimentando o sectarismo, mas que cada um deveria constituir-se em despenseiro de Cristo, ou seja, aquele que dá a provisão, que supre as carências com zelo, porque esta é a missão do crente. Somos servos de Deus, ministros dEle. A palavra grega empregada para “ministros” é “uperetes”. Essa palavra era utilizada para referir-se àqueles que sustentavam os remos mais inferiores de uma trirreme, espécie de galera antiga que tinha três segmentos de remo. A palavra apostólica conclama os crentes, desta forma, à humildade, lembrando-lhes a responsabilidade. O crente é despenseiro dos mistérios de Deus. É bom entendermos que não há menção de conhecimento algum enigmático ou privilegiado dos quais os crentes devem orgulhar-se por possuir. Não, absolutamente não!
II- Temos todos ministérios a cumprir –
A declaração revela que o crente é capacitado pelo Espírito Santo de Deus para entender o evangelho e proclamá-lo. A capacitação é divina, mas é requerido do despenseiro que ele seja fiel. Em síntese, estes mistérios são as verdades bíblicas. Os despenseiros são os distribuidores da graça divina, da mensagem da verdade. O crente deverá observar estritamente a Palavra, aprendendo “a não ir além do que está escrito”. O despenseiro poderá e deverá ter outras qualidades além desta, ou seja, a fidelidade, porém jamais será um despenseiro senão tiver esta, pois é a credencial para o desempenho da função. Ele deverá ser fiel ao seu Senhor. Na qualidade de um discípulo, deve ser fiel àqueles que estão sob sua supervisão. Não deve mostrar-se negligente ao distribuir aos mesmos o alimento, não devendo adulterá-lo ou substituí-lo por qualquer outra coisa. Os despenseiros não têm uma mensagem própria. Voltando-nos ao contexto de Corinto, fica claro que Paulo não considerava como fiéis despenseiros aqueles que vinham causando divisão no seio da igreja. Vemos muito sectarismo ainda hoje em muitas igrejas. Tratam-se de servos infiéis. Estão mais empenhados em servirem a si mesmos. Esquecem de anunciar a mensagem e, quando o fazem, esquecem de vivê-la.
III- Não podemos deixar-nos dominar pela vaidade –
Do tom exortativo apostólico parece rescender ironia. E Paulo, num desabafo, chama-os de orgulhosos. Denuncia a presunção daquele grupo da igreja que se achava mais do que os outros. Exorta-os a serem humildes, pois tudo que possuíam lhes havia sido concedido.
Àqueles crentes que pareciam estar ”com o rei na barriga”, Paulo ironiza que também gostaria de com eles reinar. Embora não tenhamos todos os elementos conclusivos, pela atividade comercial intensa em Corinto, não fica difícil supor que se tratava do grupo de bem-sucedidos economicamente e que se entendiam melhores, ignorando os necessitados, inclusive as carências apostólicas.
Desta maneira, Paulo salienta que Deus colocara os apóstolos como espetáculo para o mundo, para os homens e até para os anjos, numa vívida alusão ao sofrimento suportado pelos primeiros cristãos e, por ele mesmo, em sua trajetória apostólica.
Joga com fortes oposições, através das quais mostra que se tornara aos olhares daqueles arrogantes um absurdo em Cristo, um fraco e desprezado, enquanto eles se diziam sábios, fortes e ricos.
Sem morada certa, trabalhando como construtor de tendas, passando fome e sede, vestindo-se precariamente, suportando perseguições, respondendo amigavelmente às tantas difamações, o apóstolo Paulo se classifica, dentro da ótica deste mundo, como um lixo.
É importante observar que ao invés de repulsa, Paulo ainda os tem como filhos amados que precisam renunciar à vaidade e viverem a vida cristã. Paulo condena toda esta opulência e estava enviando a Timóteo para lhes ensinar a viver a vida em Cristo.
IV- Nada de impureza na Igreja de Cristo –
A necessidade de retirar-se o fermento velho vai ser destacada pelo apóstolo aos gentios.
Os judeus identificavam a fermentação com a putrefação, passando a levedura (a massa fermentada) a significar uma influência corruptora. O apóstolo alerta a igreja, advertindo que não poderia estar insensível ao pecado.
Havia imoralidade que não ocorria nem entre os pagãos. Alguém teria tido relações sexuais com a sua madrasta e continuava participando da vida eclesiástica em Corinto. Paulo afirma que os via cheios de arrogância, mas que deveriam tomar uma atitude de lamentação e expulsar do seu meio quem praticou tal ato.
V- O combate à impureza na igreja -
Diante da gravidade da questão de imoralidade, impõe-se uma atitude disciplinar purificadora. Paulo lembra que Cristo é o cordeiro pascal e que já foi sacrificado.
A igreja deve celebrar a libertação, porém não pode mais servir-se do fermento velho. É bom destacar que a exemplificação paulina indicava que a atitude cristã é que deveria influenciar o mundo com um novo significado e não o contrário.
O versículo 5, deste capítulo cinco, vem suscitando séculos de discussão, buscando-se precisar o que implicava exatamente tal recomendação. Tal elemento deveria ser afastado do convívio e, assim, entregue a Satanás. Tratava-se de privar o pecador da comunhão com os fiéis e expô-lo às aflições causadas por seu pecado. A gravidade do pecado impunha tal medida.
Ainda que o rigor fosse exigido para o momento, não deixava de ser uma atitude de amor (ver II Coríntios 2.5-10). A igreja é o lugar do santo. Não do que não tem pecados, mas daquele que não mais quer pecar. Daquele que não quer mais viver na vontade da carne, entristecendo o Senhor da sua salvação, ” mas, quem se une ao Senhor é um espírito com ele”.(I Coríntios 6.17)
Conclusão:
O apóstolo orgulhava-se da cruz de Cristo. Sabia-se crucificado com Ele. Conhecera no caminho de Damasco o verdadeiro Caminho da Vida. Paulo se deu conta disso e alegrava-se com isso. Que os queridos irmãos e irmãs também constatem que este caminho é o caminho da cruz. Ele sempre se estreita à medida que o percorremos, pois entendemos o quanto precisamos renunciar por amor a Cristo. Que cada um busque purificar a sua vida.
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