A VISÃO DA VITÓRIA DO BEM (Apocalipse 17, 18 e 19)
- Prof. Gerson Berzins
- 16 de jun.
- 4 min de leitura
Caros leitores, participantes desta série sobre o Apocalipse: vamos caminhando para o seu final, e hoje temos a ocasião para rever os capítulos dezessete, dezoito e dezenove. O tema envolvido nos dois primeiros desses capítulos é a Babilônia.
Pode parecer um pouco estranho que a esta altura do relato um novo e muito significativo personagem seja introduzido no enredo. Babilônia já apareceu em 14.8 e 16.19, em textos que pré-anunciam a sua queda. Aqui, ela é chamada da grande prostituta, cuja visão deixa João muito admirado. Para quem já viu tudo o que João presenciou, a admiração indica que ali havia algo de extraordinário. Ao considerar que dois capítulos inteiros são lhe dedicados, temos que saber do que se trata.
O anjo que monitorava a visão oferece-se para esclarecer João sobre “o mistério dessa mulher e da besta sobre a qual ela está montada”(17.7). Para espanto nosso, a explicação do anjo de fato nada esclarece e só embaralha mais as coisas.
Algumas das referências usadas na explicação angelical apontam para a capital do império romano, notadamente a menção das sete colinas sobre as quais a mulher se assentava. Daí para identificar os sete reis com uma linhagem de césares é um pulo, e para muitos, a Babilônia seria apenas outro nome para o poderio romano, que na linguagem apocalíptica espelha todos os poderes mundanos em sua opressão sobre a adoração ao Deus verdadeiro.
A explicação também se refere à besta como alguém que “era, agora não é, e entretanto virá”, o que alicerça muita predição a respeito de um ressurgimento histórico do império romano. Mas, a questão não é tão simplesmente equacionável. Ao ler e reler o capítulo dezoito, onde a queda da Babilônia é descrita em retrospectiva, percebemos que um novo vocabulário é introduzido na narrativa do livro da Revelação.
Este capítulo está repleto de termos econômicos, monetários e mercantis. A riqueza, a abastança, a fartura, o comércio intenso, e a ostentação permeiam o relato. A Babilônia, portanto deve simbolizar o sistema econômico, ou o poderio econômico. Como define o comentarista Grant Osborne, ‘o elo de conexão desta seção do Apocalipse é o julgamento da Babilônia/ Roma por causa de sua opressão econômica’. Sob esta perspectiva, devemos nos deter mais um pouco no texto.
Cabe pensarmos no reino do mundo – o sistema dominante da realidade atual – como baseado em um tripé: a besta do mar, que representa o poder político; a besta da terra, ou o falso profeta, simbolizando o poder religioso ou ideológico; e agora então, vemos o terceiro pé, com a Babilônia poder econômico.
O Apocalipse explicitamente não coloca a Babilônia oprimindo os santos, mas em tudo que lemos neste capítulo fica evidente o poder corruptor dessa grande prostituta e dos efeitos nefastos que ela gera. A Babilônia é o lugar que os santos são veementemente chamados a evitar: “Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem de seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam”(18.4). Não é algo único no Apocalipse? Para todos outros lugares, os fiéis são chamados à perseverança, a resistir, e a serem vencedores, menos na Babilônia, de onde devem fugir.
Estamos visualizando aqui a forma mais eficiente de sedução, a sedução do ter. Nos assuntos da Babilônia, tudo vira transação comercial e nesse jogo de transações, o anjo julgador coloca-se na toada e determina: “Retribuam-lhe na mesma moeda; paguem-lhe em dobro pelo que fez; misturem para ela uma porção dupla do seu próprio cálice”.
A malignidade que justifica esse peso contra a Babilônia é explicitada no final do capítulo: embora ela própria não apareça oprimindo os santos, sangue dos santos, apóstolos e profetas é encontrado nela: muito de seu luxo e das suas riquezas e comodidades foi obtido à custa de apoio e conluio com a opressão; a perversão do lucro acima de tudo que move a máquina econômica não possui qualquer valor ético.
De algum modo temos que entender que esta queda da Babilônia precede o derramar das taças, pois aqui fica claro que o mundo ainda está funcionando a pleno vapor e esta derrocada pode ser chorada e lamentada por todos. Todos sentirão falta dela, da sua opulência, do cacife de seus cofres que tudo comprava, trazendo satisfação a fornecedores, mercadores e transportadores de muitos lugares. A engrenagem dessa Babilônia é realmente fantástica e por ela o mundo todo girava e se enriquecia. Agora tudo acabou, e os admiradores da grande cidade ficam apenas de longe contemplando a fumaça que a consome.
Creio que é relevante ressaltar ainda outro detalhe da narrativa dessa destruição, que encontramos nos versos doze e treze. A lista de compras aqui apresentada arrola vinte e nove itens, para cobrir as necessidades sofisticadas e as luxúrias dessa Babilônia, incluindo pessoas, para serem servidores ou escravos. Por um lado, a eliminação desse consumidor tão poderoso é a razão dos choros e lamentos. Por outro lado, eles evidenciam a razão da ira divina ao tornar clara a ostentação, o materialismo egocêntrico e a exploração de outros em proveito próprio que caracterizavam a cidade. É aí que podemos ver com clareza o julgamento divino contra os sistemas econômicos que exacerbam a ostentação e a exploração, valendo-se da sedução e da corrupção. O alerta também nos diz respeito, como cristãos tentando ser testemunhas fiéis em um mundo onde procedimentos e comportamentos dessa Babilônia condenada prevalecem.
Com este capítulo dezoito encerramos o núcleo central do livro, que delineia o desenvolvimento da história humana. Ainda encontraremos referências a fatos terrestres nos capítulos seguintes, mas eles se apresentam como que ‘embutidos’ dentro dos eventos que são parte do fim dos tempos, embora permaneça certa dúvida, na dificuldade de ordenar cronologicamente todas as visões que João nos apresenta.
No capítulo dezenove voltamos ao ambiente celestial para presenciar a continuidade da adoração, agora exaltando a Deus pela consumação da sua justiça contra a grande prostituta. A origem da corrupção foi eliminada.
No novo “então ouvi” do verso seis está colocado o convite para o banquete das bodas do Cordeiro. Segue a visão do Cavaleiro branco, preparado para guerrear e dominar e a visão de outro convite de banquete, endereçado às aves dos céus, chamado de banquete de Deus. Ele é o produto daquele grande projeto de guerra do triunvirato do mal. As forças reunidas para a guerra do Armagedom são destruídas antes de batalharem e o acúmulo de carne sacia todas as aves. O fim está próximo.
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