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CONSELHOS NECESSÁRIOS À VIDA CRISTÃ (3 Jo 1)

Com este estudo, terminamos o contato com os escritos joaninos. Lidar com o material produzido por João é uma bênção inesgotável, já que nos aproxima das verdades ensinadas e vividas por Jesus.

Nossa epístola de hoje, a terceira, possui alguns pontos em comum com 2João. O problema ainda eram as visitas de itinerantes e o tratamento que deveriam receber. Como síntese, ambas tratam da verdade do amor cristão e a relação deles com a hospitalidade, destaca Stott.

No entanto, há algumas diferenças entre elas. A segunda, por exemplo, foi escrita para uma igreja local e a terceira é dirigida a Gaio, membro de uma determinada igreja e menciona outros dois nomes, sendo um deles muito problemático, Diótrefes, e o outro, Demétrio, um dos parceiros do autor. Além disso, a mensagem também é diferente, destaca Stott. Na segunda carta, a Igreja é convocada a negar hospitalidade aos falsos mestres. Na terceira, o Presbítero elogia Gaio justamente pela hospitalidade.

Sobre o assunto em pauta, a hospitalidade, será curioso conhecer, ainda que de forma resumida, o que o Manual da Igreja Primitiva, Didaqué, documento do 1º. Século, alerta: o missionário não deve pedir hospedagem por mais de um dia. Em caso de necessidade, dois dias. Se ficar três dias, é falso profeta.


Nossa epístola se inicia com oito versículos dedicados a Gaio. De início precisamos saber que esse era um nome muito comum naqueles dias. O Novo Testamento menciona três deles: Gaio, de Corinto, batizado por Paulo e depois hospedeiro do apóstolo. (1Co 1.14; Rm 16.23). Gaio, da Macedônia, um dos companheiros de Paulo que sofreram motim em Éfeso.(At 19.29). Gaio, de Derbe, viajou com Paulo na última viagem do apóstolo. (At 20.4)

Não sabemos ao certo quem era esse Gaio, apenas nos é informado que ocupava função de liderança na igreja local. Evangelistas e visitantes apreciavam a hospedagem que ele oferecia, era muito especial para João. Possivelmente Gaio foi evangelizado por João. O autor deseja que Gaio desfrute de bem-estar físico e espiritual, e ora para que seus filhos “continuem a andar na verdade”. Vamos conferir: “O presbítero ao amado Gaio, a quem, na verdade, eu amo. Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, {assim} como bem vai a tua alma”. (3Jo 1 e 2).

A razão para que Gaio hospedasse aqueles missionários era que estavam a serviço “do Nome”, Jesus Cristo, revelação perfeita da natureza de Jesus, a saber: divino-humana e também da missão de salvar a Humanidade, concluída na cruz. Esta era uma distinção notável. Naquela época, como vimos no estudo anterior, era comum viajantes andarem pelas estradas a serviço de divindades e o faziam pedindo dinheiro e presentes. Gaio é advertido a receber os missionários cristãos, porque estavam ali com zelo pelo nome de Jesus.

Há mais uma razão apresentada por João: aqueles missionários não eram sustentados pelos pagãos, não tinham qualquer outra forma de sustento: “porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios. Portanto, aos tais devemos receber, para que sejamos cooperadores da verdade”. (3Jo 7 e 8)

Stott nos chama a atenção para este ponto importante e entende que “os cristãos devem financiar empreendimentos que o mundo não patrocinaria”. Para ele, este é um dever dos cristãos.

Além do que já destacou, João acrescenta uma terceira razão: ao acolher os missionários cristãos, passamos a ser cooperadores de Deus na disseminação da verdade. O missionário apregoa a verdade; nós, os hospedamos para que possam continuar seu trabalho.

Depois de se dirigir especificamente a Gaio e destacar o trabalho que vinha desenvolvendo, João introduz a pessoa de Diótrefes, provavelmente membro da mesma igreja ou de alguma congregação vizinha. Diótrefes havia desconsiderado instruções recebidas por João, ignorado uma de suas cartas e desde então vinha impedindo que pessoas da igreja hospedassem os missionários itinerantes.

Os pesquisadores tentam descobrir uma razão para tal procedimento. Findlay, por exemplo, diz que o nome Diótrefes era muito raro naquela época e que, se fosse traduzido, teria o significado “criado por Zeus, bebê de Zeus”. Isso o coloca na qualidade de membro da aristocracia grega e era pessoa de prestígio naquela sociedade. Será, então, que Diótrefes buscava o prestígio social ao desconsiderar as instruções joaninas?

William Barclay, no entanto, sugere que a epístola reflete a tensão entre o ministério universal dos apóstolos e profetas e o ministério local dos presbíteros. Para ele, Diótrefes pode ter sido um presbítero que estava determinado a ser um ferrenho defensor da autonomia da igreja local e não buscava seguir as ordens recebidas do apóstolo.

João expõe a conduta de Diótrefes em três fases, segundo Stott:

  1. ele está proferindo contra nós palavras maliciosas (v.10ª);

  2. agia contra a instrução do Presbítero, quanto à hospedagem dos missionários (10b);

  3. impede aqueles que desejam receber os missionários em suas casas. Não contente com isso, os expulsa da igreja (10c).


Até aqui, dois nomes e dois comportamentos completamente opostos. Toda Igreja tem Gaio e toda igreja tem Diótrefes. Podemos nos colocar diante de Deus, para que Ele nos permita ser pessoas tementes a Ele, como Gaio o foi. Ou, para nossa própria destruição, poderemos optar por seguir o péssimo exemplo de Diótrefes.

Há, no entanto, um terceiro nome: Demétrio. Provavelmente, era o portador da carta. Deseja apresentá-lo ao amigo Gaio e o faz destacando três qualidades que o apontavam como um homem de Deus, pois voltado à prática do bem (v.11):

  1. Demétrio era reconhecido como apresentando um bom testemunho (v.12ª);

  2. Demétrio demonstrava uma fé genuína (v.12b) e

  3. O próprio autor testemunhava a seu favor. (v.12c).


Infelizmente, o papiro onde João registrava seus conselhos ao amado Gaio terminou e, com isso, também a carta. O autor despede-se, desejando poder estar pessoalmente com o amigo, para que possam desfrutar da comunhão mútua.

E nós, o que podemos aprender com esta carta? Esta é uma resposta que cada um de nós terá de encontrar. Que o nosso Deus nos dê sabedoria nessa direção.


Apoio Bibliográfico:

GRUNZWEIF, Fritz et all. Cartas de Tiago, Pedro, João e Judas. Comentário Esperança. Curitiba: Paraná – Editora Evangélica Esperança, 2008.


DRUMMOND, R.J., MORRIS, Leon. O Novo Comentário da Bíblia – vol. II. São Paulo: Vida Nova. Reimpresso em 1987.


STOTT, John R. W. I.II, III João – Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica. SP: Mundo Cristão. 1985


McDOWELL, Edward A.. Comentário Broadman. Volume 12. Rio de Janeiro: JUERP. 1987


CARSON D. A. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova. 2009.


DIDAQUÉ – O catecismo dos primeiros cristãos para as comunidades de hoje. São Paulo: Paulus. 1989

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