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EPÍSTOLAS GERAIS: OS DESAFIOS DA VIDA CRISTÃ

Tiago prossegue em suas instruções práticas para a vida cristã. Os dois capítulos finais vão nos trazer denúncias muito graves.

O capítulo 3 apresenta o sério problema do perigo de usarmos a língua sem o devido controle e cuidado. A advertência é para que, antes de pensar em ser considerados letrados, é necessário aprender o básico, ou seja, prestar atenção sobre como nos comportamos no falar. Talvez a comunidade estivesse sofrendo com calúnia, falatório ou com a fofoca. Não, ressalta Tiago, não é possível bendizer a Deus com a língua e com ela amaldiçoar os homens, feitos à semelhança de Deus.

O dr Luiz Sayão nos diz que bem pode ser que os leitores de Tiago tenham se perguntado: como poderei controlar a minha língua adequadamente? A resposta é a mesma para o enfrentamento das provações: com sabedoria, que deve ser pedida a Deus. A partir daí, o autor vem ao encontro de possível dúvida dos seus leitores: por que Deus não responde sempre? Chegamos, então, ao capítulo 4 que começa com uma pergunta: de onde vêm as guerras que existem dentro da comunidade? Atualizemos a pergunta: por que há tanto desentendimento entre os crentes? Por que maneiras diferentes de enxergar o mesmo problema podem resultar em brigas, desaforos, tristezas? Como o ouvinte deve ter percebido, o problema da utilização da língua está ainda em pauta.

Tiago diz que eles não conseguem vitórias, porque não as pedem a Deus. E se pedem o fazem de modo equivocado, pois têm em mente apenas os benefícios próprios e não o domínio da vontade de Deus na vida. O conselho é para que nos aproximemos de Deus com arrependimento, com tristeza pelos erros praticados e Deus, que conhece os corações, nos exaltará. Quando uma criança pede ao pai algo que pode resultar no mal, o pai atento e amoroso não atende, certo? Da mesma forma Deus somente nos atenderá se nossos pedidos servirem para o nosso bem. Sabedoria para pedir da maneira correta, eis do que precisamos.

A partir do versículo 13 e até o capítulo 5, verso 6, o autor trata da incerteza dos planos humanos e do julgamento de ricos e ambiciosos. A denúncia é muito séria. Primeiro Tiago se dirige aos comerciantes prósperos, que fazem planos para a vida como se a pudessem controlar. Diz o autor: “ Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece.” (Tiago 4, 14b). O Dr. Sayão, ao analisar o texto, diz: “toda atitude de vanglória, de prepotência, de orgulho não faz sentido: é maligna.”

O que se pretende destacar aqui é a inutilidade de fazermos planos e colocarmos neles a nossa esperança, pois não temos condições de saber o que nos acontecerá no minuto seguinte. O armazenar recursos a qualquer preço, obtidos pela desonestidade, exploração alheia, como fonte de tranquilidade e de sucesso é de origem maligna, diz Tiago. O que diz ter Jesus no coração não pode ser levado a praticar injustiças. “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz comete pecado.” Tiago 4,16.

O último capítulo pode ser dividido em cinco partes: condenação dos ricos (1-6), necessidade de paciência (7-11), juramentos (12), poder da oração (13-18) e conversão dos desviados (19 e 20).

Os ricos não são condenados por serem ricos, diz Andrew Mc Nab, mas porque suas riquezas foram mal adquiridas, permanecendo sobre elas as marcas da corrupção. Tiago apresenta três denúncias:

1ª. Denúncia: entesouraram e não usaram o dinheiro para o bem. Por que guardaram? Esperavam melhor preço? Não admitiam diminuir a margem de lucro? “o vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias.” (v.3). Isto mesmo: as riquezas perderam o brilho natural do material em circulação e eles nem repararam!

2ª. Denúncia: Defraudaram cruelmente os pobres lavradores: “Eis que o jornal dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras, e que por vós foi diminuído, clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos.” (v.4). O salário detido, diz Tiago, grita a Deus como o sangue de Abel (Gn 4,10) e como pecado de Sodoma (Gn 18,20).

3ª. Denúncia: dedicaram-se ao luxo e aos prazeres: “Deliciosamente vivestes sobre a terra e vos deleitastes; cevastes os vossos corações como no dia da matança.” (v.5).

Lembramos o que Calvino escreveu: “Deus não designou o ouro para a ferrugem, nem as roupas para as traças; mas, pelo contrário, Ele os projetou como auxílios e ajudas para a vida humana.”

Pergunto ao leitor: será que tais denúncias perderam a validade para os dias de hoje?

Tiago prossegue em sua mensagem e aborda a questão da paciência. Ser paciente é submeter-se sem queixas ou murmurações. Até quando, pergunta ele? Até a vinda do Senhor, é a resposta. É desejável que o crente em Jesus compreenda e vença as dificuldades da vida sempre. Até o último dia da sua existência ou, se Jesus vier antes, até a vinda dEle.

Não poderemos deixar de destacar o ensinamento de Tiago sobre o poder da oração. A oração é encorajada no tempo da aflição: “está alguém entre vós aflito? Ore.” Também em dias de alegria: “Está alguém contente? Cante louvores.” A situação é de doença? “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor.” É do pecado que precisamos nos livrar? “E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis.”

Desnecessário dizer que a questão do óleo não deve ser encarada como problema para nós. Aqui não temos mandamento para se evitar cuidados médicos, mas sim a expressão de processos usados no 1º. Século. O que se destaca é que o homem deve depender de Deus em tempos de enfermidade. Para o Dicionário de Teologia do Novo Testamento, os versículos finais de Tiago merecem atenção especial. Descrevem que a totalidade da vida do cristão deve ser vivida numa atmosfera de oração: o cristão deve colocar diante de Deus tudo quanto lhe acontece, de modo que cada nova experiência seja oportunidade para orações.


Que Deus nos abençoe nessa direção.

Apoio Bibliográfico:

  1. BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas. 2004

  2. GRUNZWEIF, Fritz et all. Cartas de Tiago, Pedro, João e Judas. Comentário Esperança. Curitiba: Paraná – Editora Evangélica Esperança, 2008.

  3. McNAB, Andrew. O Novo Comentário da Bíblia – vol. II. São Paulo: Vida Nova. Reimpresso em 1987.

  4. MOO, Douglas J. Tiago – Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica. SP: Mundo cristão. 1990

  5. SAYÃO, Luiz. Rota 66 – Novo Testamento – São Paulo: RTM

SONGER, Harold S. Comentário Broadman. Volume 12. Rio de Janeiro: JUERP.

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