Este estudo se destina àqueles interessados em sondar as questões das origens visando defender a fé cristã numa era de filosofia e ciência naturalistas.
É interessante constatar que há três séculos os cientistas não tinham qualquer problema em dedicar seus trabalhos científicos em honra e glória a Deus, revelando uma harmonia saudável entre a ciência e a fé cristã. No entanto, um século mais tarde este equilíbrio começou a ser rompido e, ao longo do tempo, uma atmosfera de conflito instalou-se entre a teologia e a ciência.
O que teria ocorrido, portanto, para que teólogos e cientistas passassem a se olhar com tanta desconfiança mútua sobre as questões das origens do universo e da vida? A resposta vem do século 19 quando da publicação do livro “A Origem das Espécies” de Charles Darwin. Graças à Teoria da Evolução, a filosofia do naturalismo evolucionista constitui hoje a cosmovisão dominante do mundo pós-moderno.
O advento do cristianismo, que se impôs à cultura Greco-romana ao longo dos séculos, estabeleceu o seu pensamento em todo o período medieval que culminou numa contribuição vital para o surgimento da moderna ciência, onde cientistas de peso, como Kepler e Newton, mostraram que a fé num Criador sobrenatural não era incompatível com a ciência verdadeira.
De fato, na epistemologia (teoria do conhecimento) desenvolvida desde a Idade Média até a Reforma Protestante, teólogos, filósofos e cientistas, influenciados pela cosmovisão cristã, partilhavam do pressuposto de que Deus é o alicerce fundamental do conhecimento verdadeiro.
Entretanto, a partir da chamada Revolução Científica, o conhecimento moderno rompeu drasticamente com aquela tendência, promovendo uma espécie de revolução no pensamento ocidental. Eruditos concordam que um dos responsáveis por iniciar esta mudança foi o filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650) que, na filosofia, foi o pioneiro do racionalismo, conceito filosófico segundo o qual a verdade só pode ser conhecida por meio da razão humana. Descartes empregou o artifício da dúvida como ponto inicial para sua filosofia duvidando da verdade das outras coisas; da realidade do mundo físico, da existência de Deus e do céu. Ele chegou à conclusão de que só não poderia duvidar de sua própria dúvida. Tudo isso levou ao seu famoso axioma: COGITO, ERGO SUM (“Penso, Logo Existo”). Nas palavras de Jonas Madureira, Descartes “simplesmente tirou de Deus o critério de certeza das verdades conhecidas e o pôs no “eu”, ou seja, na razão humana. Portanto, a partir de Descartes, o teocentrismo da epistemologia pré-moderna (Deus como o fundamento primeiro de todo o conhecimento) foi substituído pelo egocentrismo moderno (o “eu” como fundamento primeiro do conhecimento)”.1
Já o chamado “empirismo britânico” também fomentou o ceticismo sustentando que o conhecimento e a verdade só poderiam ser adquiridos através da observação empírica, ou seja, com o uso dos cinco sentidos. Um de seus expoentes foi o filósofo e historiador escocês David Hume (1711-1776), que durante o apogeu iluminista europeu dedicou-se ao estudo rígido da filosofia levando a abordagem empírica do conhecimento ao abismo do materialismo. Para Hume, não existe experiência sensorial para conceitos que estejam no âmbito da metafísica (além da física - Deus, por exemplo), ou seja, não se deve acreditar em nada que esteja além da realidade visível do mundo físico. Em vista disso, segundo Hume, a existência de Deus, os milagres, a criação do mundo como revelada no livro de Gênesis e outros assuntos que transcendem a experiência finita humana, não são verificáveis empiricamente e, portanto, não possuem qualquer sentido.
As ideias advindas de Descartes e Hume abriram brechas que, rapidamente, foram exploradas por outros pensadores. Uma síntese desses dois pensamentos foi a realizada pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), considerado o maior vulto do chamado Iluminismo. Kant concluiu que o conhecimento que se procura obter da realidade do mundo não vem somente de nossos sentidos (Hume), nem apenas de nossa mente (Descartes), mas sim, da composição desses dois fatores que se complementam. Infelizmente o resultado de suas ideias gerou ainda mais ceticismo. Segundo Kant, nesse processo de conhecimento, perdeu-se a capacidade de conhecer a realidade, pois existe uma barreira intransponível entre a nossa mente e o mundo real, incluindo o próprio Deus. Logo, a teoria de Kant culmina num completo agnosticismo. Não é à toa que ele rejeitou os milagres bíblicos e os argumentos tradicionais sobre a existência de Deus.
Esse sistema de pensamento iluminista trouxe consequências danosas à fé cristãs ao rejeitar o conceito do sobrenatural procurando explicações científicas e racionalistas visando o conhecimento de toda a realidade do mundo. Nas palavras de John MacArthur podemos ter uma noção das consequências dessas ideias: “Essas pressuposições deram à origem o darwinismo, que, por sua vez, gerou uma feira de ideias e cosmovisões humanistas. Entre elas se destacaram várias filosofias ateístas, racionalistas e utópicas – inclusive o marxismo, o fascismo, o socialismo, o comunismo e o liberalismo teológico”.2 Desta forma, ao aceitar o darwinismo como fato consumado, teólogos liberais se acham no direito de reinterpretar os primeiros capítulo do livro de Gênesis negando os seis dias literais da Criação para harmonizá-los com as supostas eras de milhões de anos da geologia evolucionária, colocando em risco a própria integridade das Escrituras.
Finalizando, segue interessante observação do próprio MacArthur: “O ponto de partida do cristianismo não é Mateus 1.1, mas Gênesis 1.1. Ocupe-se com o livro de Gênesis e encontrará a própria fundação do cristianismo. Não se pode tratar Gênesis 1 como fábula ou simples saga poética sem implicações sérias para o restante das Escrituras. A explicação da criação está onde Deus começa Sua explicação da história. É impossível alterar o início sem danificar o restante da história – para não mencionar o fim. Se Gênesis 1 não é relevante, então não há meio de estar certo de que o restante das Escrituras relata a verdade.” [...] “Onde você coloca as rédeas em seu ceticismo se duvidar ou se afastar da explicação bíblica dos seis dias da criação? Ou se aceita Gênesis 3, que explica a origem do pecado, ou talvez não comece a crer até em algum momento depois do capítulo 6, porque o Dilúvio é também questionado pelos cientistas”.3Neste sentido, desprezar a história bíblica da criação implica em desprezar, não só a origem do pecado e da queda, mas também, a história bíblica da redenção através de Cristo.
“derribando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus,
e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo;”2 Co 10: 5.
Bibliografia:
1. Madureira, Jonas, “Filosofia” – São Paulo: Vida Nova, 2008-p.113
2. MacArthur, John - “A Guerra Pela Verdade” – S. José dos Campos -SP: Ed. Fiel, 2ª Edição 2012 - p. 38
3. MacArthur, John - “Pense Biblicamente” – S. Paulo: Ed. Hagnos, 2005 - p. 118/119
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