Embora este seja o quarto estudo de nossa série sobre o livro de Esdras apesar de já termos visto eventos dos capítulos 1 a 6, somente no capítulo 7 é que nosso personagem aparece em cena.
É importante recordarmos que estamos em cerca de 458 antes de Cristo e que os judeus estavam voltando de um período de 70 anos de exílio na Babilônia, que ficava cerca de 1.400 Km. de Jerusalém. Um primeiro grupo já havia chegado de volta mais de 60 anos antes e, agora, Esdras lidera a chegada de um segundo grupo, de cerca de 7.000 pessoas. Naqueles anos os judeus tinham diante de si o desafio de reconstruir Jerusalém, incluindo suas muralhas (o templo já havia sido reconstruído) e de normalizar toda uma vida nacional que havia sido desmontada quando da conquista pelos babilônicos. Era uma grande tarefa de reconstrução, de desafios de liderança, persistência, combate à oposição e busca de uma vida feliz e próspera.
Um fato interessante sobre o cenário ou contexto da época, é que a Babilônia, agora sob domínio persa (hoje, Iran), tinha uma nova política, a de permitir que exilados residentes em seu território voltassem à suas terras de origem. Muitos exilados, portanto, tiveram aliberdade de voltar, como foi o caso dos judeus.
Alguns voltaram, outros ficaram na terra do exílio, não mais como exilados, mas como cidadãos livres. Talvez isso explique o fato de eu ter encontrado em uma reunião de negócios, dois judeus iranianos, talvez remanescentes daqueles dias. No caso do povo judeu apoiar a sua volta à Palestina e à Jerusalém em particular, era de interesse política da Pérsia, pois era uma forma de manter a influência política na região, compondo-se aos interesses dos egípcios ao sul e dos sírios ao norte. Deus talvez tenha usado este fato para mobilizar o coração de Artaxerxes, rei da Pérsia aquela época, para que enviasse Esdras à Palestina.
Esdras era um comissário encarregado de cuidar das questões jurídicas. Funcionava como um conselheiro para assuntos referentes ao povo judeu e era competente. Além dessa qualificação, Esdras era um versado na Lei de Deus e era um escriba, isto é, perito nas Escrituras Sagradas (a Bíblia) e apto a ensiná-la.Era também um homem comprometido com Deus. Ele vai então utilizar-se da missão que lhe fora confiado pelo rei Artaxerxes para também influenciar positivamente na questão espiritual do povo em Jerusalém, que a essa altura vivia momentos de alguma degradação.
Aqui vemos um paralelo interessante com nossa vida hoje. Várias vezes Deus abre oportunidades para pessoas competentes profissionalmente em suas áreas de trabalho para algum propósito espiritual de apoio, ajuda, orientação, reconstrução, discipulado ou evangelização. Ser o "sal da terra", conforme aprendemos no Novo Testamento não é apenas ser diferente na aparência e nos costumes, mas também ser diferente pela competência profissional.
Se você é crente, possivelmente se alegra ao descobrir que uma grande personalidade se destaca pela sua competência profissional e seu caráter é também um crente. Imagine um grande professor que é crente, um exímio marceneiro.que é crente. Um médico famoso. que é crente, uma faxineira conhecida e caprichosa. que é crente, um empresário bem sucedido e influente em sua comunidade. que é crente, um estudante que se destaca por estar entre os primeiros alunos. que é crente! Se essas pessoas forem comprometidas com Deus, Ele as estará usando para a realização de seus propósitos. Esdras era competente em sua profissão e foi usado por Deus para reavivar todo o povo de Israel.
Um outro aspecto que podemos destacar de Esdras foi a confiança que o rei Artaxerxes depositou sobre ele. Esdras era um homem de caráter, além de competente. Não basta, portanto, apenas saber fazer as coisas bem feitas, ou seja, não basta apenas a coisa de forma certa. É importante fazer certo a coisa certa. Que adianta fazer certo a coisa errada?
Há exímios profissionais da desonestidade ou da maldade. Que virtude há nisso? Esdras não se aproveitou de sua profissão para "tirar vantagem" de forma desonesta para as coisas de Deus. Deus não aprovaria tal prática. As atividades de caráter religioso que Esdras vai desenvolver em Jerusalém, são de conhecimento do rei persa e, na realidade, acabam sendo apoiadas por ele.
Um último aspecto que podemos observar neste estudo é que, antes de partir da Pérsia para a Palestina, Esdras planejou cuidadosamente sua viagem, que lhe tomaria cerca de 4 a 5 meses, dado o grande número de pessoas, objetos e gado que faziam parte da caravana.
Para compor este grupo de retorno, Esdras também se esforçou em mobilizar muitos levitas que haviam decidido permanecer no reino persa, para que voltassem para Jerusalém. A tribo dos levitas era responsável pelas atividades religiosas do povo. Era dela que vinham os sacerdotes e auxiliares, essenciais para a vida religiosa de Israel. Por definição, a tribo dos levitas, ao contrário das demais tribos do povo judeu, nunca possuía propriedade de terras, dada a sua função sacerdotal. Muitas famílias levitas haviam conseguido desenvolver boa situação econômica na Babilônia e tendiam a não abrir mão desta conquista pessoal para voltar à Jerusalém. Esdras porém, em seu trabalho de mobilização antes da viagem de volta, vai conseguir a adesão de um bom número de famílias levíticas. Sem elas, como conseguiria restabelecer o culto no templo e a prática religiosa saudável em Israel?
Fica aqui um ponto de destaque para aqueles que não admitem abrir mão de seus bens ou de suas prioridades materiais em favor das coisas de Deus. O que vale mais? As coisas materiais que acumulamos ou nosso relacionamento com Deus? Muitas vezes pode-se ter ambas. Elas nem sempre são antagônicas. Mas, como certeza, sempre haverá momentos em que teremos que decidir deixar nosso conforto da Babilônia, talvez com muito pouco compromisso com as coisas de Deus, para voltarmos à Jerusalém dos desafios, das mudanças e do compromisso com Deus e seus propósitosque Ele tem para cada um de nós.
Você está disposto, como Esdras, a colocar a sua competência nas mãos de Deus? A colocar seus planos e propósitos dentro dos planos e propósitos de Deus? A ceder parte de seu conforto material da sua Babilônia pessoal por um desafio espiritual em Jerusalém? Queira Deus que você possa ser vitorioso ou vitoriosa como Esdras o foi. E que você possa afirmar como ele o fez no capítulo 8.31 " Ele nos livrou das mãos dos inimigos, e dos que nos armavam ciladas pelo caminho".
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