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O Apocalipse: "O início da visão”. (Apocalipse capítulo 4)

A oportunidade desses encontros em torno do livro do Apocalipse se renova, agora adentrando ao capítulo quatro do último livro da Bíblia.

Devemos estudar o capítulo que hoje abordamos como de fundamental importância para o entendimento de tudo que daí para frente nos é relatado e para compreender a essência da mensagem do livro para nós. São apenas onze versos, mas o que eles apresentam é de muito significado.

 

A partir desse momento do relato de João, mudamos de patamar: somos convidados do apóstolo – caronas talvez fosse o termo mais adequado – para adentrar outra realidade, situada além e acima de nossas limitações atmosféricas. João recebeu a ordem para subir, para que lhe fossem mostradas realidades impressionantes. No dizer de um comentarista bíblico, João foi levado à sala de controle, à central de operações, de onde ele poderia ver toda a realidade cósmica, sem limitação de tempo ou de espaço. O que lhe foi mostrado a partir desse lugar forma todo o restante do relato do Apocalipse.

 

Vamos dividir o capítulo quatro em dois trechos, o primeiro com os versos de 2 a 8 e o segundo, de 8 a 11.

 

O primeiro trecho nos relata o lugar de Deus. Os elementos que João usa para descrever esse lugar são familiares ao leitor da Bíblia, evocando passagens dos livros do Êxodo, Isaias, Ezequiel e outros, mas a junção desses elementos forma um todo único e magnificente. Cabe perguntar se João conseguiu ser um relator fiel do que viu. Cabe duvidar se as suas palavras e seu raciocínio teriam sido suficientemente ricos para descrever o que presenciou, e por isso ele lançou mão de expressões como: “aspecto semelhante a” e “algo parecido com”. Não há necessidade de procurar por um significado para cada uma das coisas que João apresentou. Há necessidade, sim, de visualizarmos o que João tentou descrever, e só conseguimos isso, lendo e relendo o trecho até adquirirmos ao menos uma pálida impressão do que é a Gloria de Deus.

 

E, então, havia os personagens: 24 anciãos assentados em seus tronos; quatro seres extraordinários; todos eles circundando o trono principal, onde alguém estava assentado. João tentou vagamente descrever aquele que estava assentado no trono, mas não conseguiu ir além de algumas pinceladas de seu aspecto. Ele era – e é – indescritível. Ao longo do livro Ele será muitas vezes chamado apenas de “Aquele que está assentado no trono”. Mas, este não será seu único nome, pois Ele mesmo se apresentará como “o Alfa e o Ômega”;”o princípio e o fim”; “o que é, o que era, e o que há de vir”; e “o Todo-poderoso”. No entanto, é importante notar que esse alguém somente se expressa em duas oportunidades em todo o relato: em 1.8 e em 21.5. Isto tudo é parte daquilo que se denomina a transcendência de Deus. Deus não pode ser nem expresso nem representado em termos humanos; a soberania de Deus não é assimilável pela mente humana; o relacionamento de Deus com as outras criaturas da sua corte celestial é único. A linguagem humana é a que temos, mas quão inapropriada ela é para falar de Deus!

 

Atentando para como o Apocalipse se refere a Deus, seu lugar, sua descrição e sua atuação, podemos aprimorar o nosso entendimento a respeito dele, da sua soberania, da sua transcendência, da sua onisciência e de todos outros atributos seus. O livro da Revelação é o lugar apropriado para aprendemos muito sobre a pessoa de Deus.

 

Nossa curiosidade natural nos leva a perguntar a respeito daquelas outras criaturas que permanentemente estão na presença de Deus. Como é usual com o Apocalipse, vamos encontrar uma variedade de respostas. Quanto aos 24 anciãos, as sugestões vão de seres angelicais a seres humanos. Creio que no contexto da glória de Deus que é aqui descrita, faz mais sentido entendê-los como seres angelicais, o mesmo valendo para os quatro seres viventes. Ambos, anciãos e seres, continuarão presentes no relato. Eles estarão envolvidos em algumas tarefas, mas os veremos sempre ocupados na adoração a Deus, e isto nos leva ao segundo trecho do capítulo.

 

A adoração àquele que está assentado no trono é a atividade principal e permanente nesse lugar a que João foi levado. Aos quatro seres extraordinários competia, dia e noite sem cessar, repetir “Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, o que era, que é e que há de vir”. Aos anciãos cabia se prostrar diante do trono e adorar a Deus com novos cânticos. Mais adiante veremos a adoração de “todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há” [5.13]. Depois veremos os seres humanos se agregando a essa adoração intensa.

 

A realidade maior que a cena do capítulo quatro nos quer mostrar é que não existe Deus sem adoração. Esta verdade é tão significativa que vale para a recíproca: não existe adoração sem Deus. Nada, por mais formoso, poderoso ou bondoso que seja pode ser objeto de adoração. A adoração só a Deus pertence. Deus é zeloso e exclusivista a esse respeito. É como Richard Bauckham elabora: ‘a adoração falsa, tal como a da besta que João retrata, é falsa precisamente porque o seu alvo não é o mistério transcendente de Deus, mas apenas a mistificação de alguma coisa finita’. É somente através da adoração que podemos ter a mais completa percepção de Deus. É o Apocalipse, no dizer de Eugene Peterson, que nos dá a última palavra sobre a adoração, sumarizada nas suas cinco funções:

 

A adoração centraliza todos os tementes a Deus ao redor do trono. A centralização implica no reconhecimento de que Deus reina e é a autoridade.

 

A adoração reúne o povo de Deus. Povos de todas as nações, línguas e raças que foram compradas pelo sangue do Cordeiro se irmanam diante do trono.

 

A adoração revela, pois por ela os adoradores são esclarecidos, suas percepções entram em foco e seus espíritos são renovados.

 

A adoração sinaliza ao mundo a glória de Deus. Todo culto de adoração no mundo presente corresponde ao que também acontece no céu.

 

A adoração afirma, pois exige de nós a submissão ao Todo-poderoso e a nossa concordância, com o Amém.

 

Tendo presente o que o capítulo quatro de Apocalipse nos quer mostrar, podemos prosseguir. Não há como dizer que já vimos tudo: o que nos aguarda até o fim do relato continuará a nos surpreender e maravilhar, mas a base para a compreensão está aqui exposta. A glória de Deus e a adoração devida a Ele são a causa e o resultado último de tudo que o livro nos quer fazer ver.

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