Introdução:
Paulo responde às solicitações dos coríntios feitas através de cartas (I Co 7. 1). As suas respostas aludem às duas instituições divinas: a igreja e o casamento. São dificuldades, que mereciam um enfoque especial e careciam de uma orientação prática, salvaguardando a reputação daquela igreja, que vinha escandalizando o evangelho de Cristo.
É oportuno ressaltar que as situações mencionadas são recorrentes na sociedade moderna. Aqueles que reconhecem a relevância da Palavra de Deus, para dirigir o seu povo, devem ater-se aos conselhos do apóstolo. Ele apresenta soluções que buscavam restaurar a dignidade espiritual daquela igreja e que podem contribuir também, para ajustar o relacionamento fraterno nos nossos dias.
I – O Litígio entre os crentes é recriminado pelo apóstolo – A lei judaica proibia aos judeus, expressamente, recorrer ao tribunal que não fosse o seu. No mundo grego, todavia, esta prática era algo muito comum, beirando ao entretenimento, caracterizando o modo grego de ser. Os registros históricos apontam para julgamentos que se prolongavam com vários recursos apresentados em diversas instâncias. Tudo nos leva a crer que a expectativa apostólica e dos próprios crentes era que , quando Jesus Cristo voltasse para reinar, Ele julgaria às nações.
A “parousia”(segundo advento de Jesus) ocorreria, dando proeminência aos santos. Eles julgariam o mundo e até aos anjos.
Com toda esta capacitação poderosa que seria conferida ao cristão, como submeter-se ao julgamento dos injustos, quando já se está justificado por Cristo e aguarda-se, com esperança, o iminente juízo divino?
Tal prática, própria ao mundo gentílico, levando irmãos ao tribunal dos injustos (dos incrédulos), foi condenada tacitamente por Paulo. O ideal era (e ainda é) que tudo possa ser resolvido no contexto eclesiástico.
Aliás, a palavra apostólica reflete intensamente o amor cristão, apelando aos crentes que viessem mesmo a sofrer os prejuízos, se necessário. Busca-se evitar que atitudes levianas aviltem as relações cristãs. Sabemos que, no atual contexto, cabem muito bem as mesmas recomendações. Todo esforço deve ser feito por amor ao evangelho, visando à solução de todos os problemas no âmbito da igreja. Em casos excepcionais, porém, muitas vezes envolvendo família (casos de herança, pensão e outros), deve buscar-se a justiça com amor e respeito.
II- Como viver em bom relacionamento na igreja – Todo crente deve ter um viver coerente ao ensino de Jesus. Havia irmãos que estavam fazendo injustiça e cometendo fraude contra outros irmãos. A advertência apostólica é oportuna e dura. Enumera uma série de pecados, lembrando-lhes que os injustos não herdarão o reino de Deus. Recorda aos coríntios, em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus, que muitos deles haviam experimentado toda sorte de pecados, mas agora são lavados, santificados e justificados.
É bom registrar-se que, embora a igreja de Jesus Cristo em Corinto fosse uma igreja formada por crentes tão problemáticos que poderiam despertar crítica até aos permissivos crentes dos nossos dias, recebe um tratamento amoroso e paterno da parte de Paulo. Ele apela para que não se deixem dominar por nenhuma dessas ilicitudes.
III- Somos membros, partes do corpo de Cristo – Na visão grega, o corpo não representava nada. O que mais importava era a alma. Dentro desta linha simplória e objetiva, o alimento estava para o estômago, assim como este para o alimento. Criam os gregos que também o corpo fora criado para dar vazão a todos os instintos naturais humanos. Os alimentos, criados para serem comidos e a ingestão dos mesmos propiciava o sustento físico.
A constatação paulina, quanto a esse particular, se confirmará no decorrer da sua argumentação (ver capítulo oito, verso oito). Não há, por conseguinte, nenhuma moralidade no ato de comer, no estômago ou mesmo no trato digestivo.
A reprimenda apostólica condena a fornicação, ou seja, a“porneia”(todo tipo de imoralidade). Paulo admite que o corpo seja alguma coisa por si mesmo. A contaminação dele afeta o espírito, corrompe todo o ser.
A imoralidade não pode ser observada na mesma categoria que os alimentos, porquanto há algo degradante nas relações sexuais ilícitas. Há uma violação do corpo, através da prostituição. Um corpo que está reservado e preparado para a ressurreição em e por Cristo, não pode ser maculado. Com firmeza, declara que aquele que se une a uma prostituta torna-se um corpo com ela. A afirmação evolui paralelamente para: “quem se une ao Senhor é um espírito com ele”. Desta maneira, mostra que o vínculo maior (com Deus) requer um procedimento concernente a Ele, fugindo da imoralidade e preservando-se de todo o mal, posto que o crente é templo do Espírito Santo.
Requer aos coríntios que glorifiquem a Deus com os seus corpos.
IV- Os cuidados dos crentes quanto ao casamento - Paulo considerava, como iminente, o segundo advento de Jesus. Isto requeria não estar ocupando-se de assuntos de somenos importância. Ao responder às questões dos crentes coríntios, o apóstolo faz recomendações excepcionais, pois ninguém deveria sair do foco da volta de Cristo. O próprio pensamento paulino, se atentarmos bem, vai evoluindo, já que estava longe sua cogitação de que os crentes deveriam aguardar mais de dois milênios, para que a volta de Jesus se consumasse.
Sentimos dificuldade para entender como o apóstolo, poucos anos mais tarde, iria estabelecer paralelo entre a relação de Cristo com a igreja e do marido para com a sua esposa. É digna de nota essa transformação que só pode ser explicada, se entendermos que I e II Coríntios refletem a expectativa premente da volta de Jesus. Aliás, as duas cartas à igreja de Tessalônica, escritas por Paulo em Corinto, em 51 a.D., expressam a vigilância e fazem estrugir trombetas, anunciando o retorno do Senhor Jesus.
Paulo atira em todas as direções:
1- O casamento não é obrigatório;
2- O celibato não é obrigatório, embora seja bom e preferível ao casamento. Por ser impossível a todos, é aplicável apenas àqueles que receberam o dom para tanto;
3- A orientação quanto à abstinência sexual não se aplicava aos casados. É verdade que alguns recém convertidos desejavam abandonar o seu cônjuge não-crente, para consagrar-se mais ao Senhor. Paulo os orienta a permanecer como estão, pois o cônjuge cristão contribuirá para a santificação do consorte incrédulo, bem como dos próprios filhos. O casamento só deveria ser feito no Senhor (I Co 7.39c).
Devendo permanecer unidos, só poderiam separar-se, por um período definido, havendo um acordo mútuo e atendendo a um anseio espiritual. Mesmo admitindo que o casamento seja bom, é algo secundário, em virtude do retorno de Jesus (ver versos 25 e 28, do capítulo 7); 4- As filhas virgens deveriam manter-se desta forma, para a glória de Deus. Se casassem, não pecavam, pois estavam livres. Melhor, porém, era manter-se virgem.
Conclusão:
Percebendo toda a devassidão em Corinto, analisando as palavras do Senhor Jesus, Paulo (e os demais apóstolos também) aguardava a volta do Senhor Jesus para os seus dias. Determinava a todos: casados, solteiros, viúvos e virgens, como se encontravam, cada um deveria preparar-se e aguardar a volta de Jesus.
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