Após uma síntese histórica, em que ressalta que os israelitas teriam experimentado a redenção, o batismo, a companhia e o sustento divinos, o apóstolo prossegue a sua admoestação aos crentes coríntios, para que não cometessem os mesmos erros. Aqueles afrontaram a Deus, através da idolatria (ver Ex 32. 6).
Os coríntios estavam, igualmente, agindo de forma tão reprovável que o apóstolo lembra-lhes que os rebeldes tombaram no deserto. Paulo mostrava a similaridade entre a história do povo de Israel e o movimento da igreja em Corinto, rescendendo idolatria, refletindo o mesmo paganismo que acabou por devastar o povo no deserto. Adverte-os, para que não tentem ao Senhor.
Repreende-os ainda, a fim de que não haja murmuração, ressaltando que todos os murmuradores foram mortos. Leva-os a perseverarem, com todo zelo, advertindo-os: “Assim, aquele que pensa estar em pé, cuidado para que não caia” (I Co 10. 12).
A VERDADEIRA LIBERDADE CRISTÃ ( ver I Co 10. 12- 23).
A categórica advertência, expressa no verso doze, demonstra que cada crente deveria avaliar-se diante de Deus, diligentemente. A liberdade leva o ser humano a tornar-se vítima de suas próprias paixões. O cristão, no entanto, verá sempre um escape forjado pela providência divina. Ganhará forças para resistir à tentação (vs 13). A liberdade dos crentes coríntios estava sendo, frequentemente, ameaçada pela idolatria (vs 14).
O apóstolo Paulo conclui, com firmeza, que, embora tudo seja permitido, nem tudo traz proveito ou promove edificação (v. 23). A esta conclusão reveladora de que “todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm”, Paulo acrescenta que, na sua própria casa, dando graças, o crente poderia comer carne comprada nos mercados (10. 25,26).
Ressalva, todavia, que, sendo feita pergunta, acerca da origem da carne, é recomendado não comer (10. 28-31). Afinal, tudo deve ser feito para a glória de Deus. Pensando nisso, analisa, preliminarmente, as implicações espirituais decorrentes do mau uso da liberdade, conforme observamos:
O CUIDADO COM OS CULTOS ESTRANHOS (ver vss15-22).
“Nos rituais pagãos, era concedida parte da carne ao ofertante, para que pudesse celebrar com os seus convidados. Acreditava-se que, tendo sido sacrificada a carne, o deus mesmo estava nela e que, durante o banquete, penetrava nos corpos e espíritos daqueles que a comiam”, destaca W. Barclay em se comentário bíblico.
Atento a esse paganismo arraigado em Corinto, a exortação paulina faz um apelo explícito à sensatez (vs 15). O apóstolo aos gentios incita os crentes a um juízo de valores. Paulo estava certo de que o ídolo não era nada em si mesmo e não representava nada, porém convictamente expressava que havia, por de trás de tudo isso, uma obra inspirada por demônios.
Quando Cristo entra na vida de alguém, não há mais espaço para o inimigo. Há comunhão permanente. Quem se senta à mesa com Jesus Cristo, não pode mais (não deseja e nem necessita) receber outro sustento.
Albert Thorvaldsen, famoso escultor dinamarquês, negou-se a fazer a estátua de Vênus para o museu de Louvre. Sua resposta foi: ”A mão que esculpiu o corpo de Cristo não poderá nunca esculpir o corpo de uma deusa pagã”. Quem teve sua vida lavada pelo sangue de Cristo, não deve sujar-se com objetos desprezíveis, amuletos e tantos sacrilégios, que denigrem mais esse mundo.
O CUIDADO ÉTICO DO HOMEM E DA MULHER NA IGREJA (ver I Co 11. 1-16)
Estes versículos têm polemizado muito, porém quem proferiu tais declarações, instava em dizer-se avesso às discussões (vs 16). Vamos procurar entender as colocações de Paulo, considerando as circunstâncias motivadoras:
1- Havia desordens no culto, afetando a vida da igreja. Depois de exaustivas orientações, ele voltará a afirmar “que tudo deve ser feito com decência e ordem” (I Co14. 40);
2-O Dr. Broadus David Hale, na sua “Introdução ao Novo Testamento”, afirma que as sacerdotisas tinham voz ativa nos ajuntamentos públicos, nos cultos, no templo, por esta razão, o envolvimento feminino no culto cristão precisava ser impedido;
3- A mulher cristã não deveria cortar os seus cabelos, posto que as sacerdotisas rapavam as cabeleiras, em determinado espaço de tempo (faziam cabeça em devoção à deusa). A recomendação às mulheres cristãs, para manterem seus cabelos longos como véu, era uma maneira de manter longe a ala feminina da igreja de qualquer identificação com o paganismo em Corinto (ver I Coríntios 11. 12, 13).
O MODO CORRETO DE CELEBRAR A CEIA DO SENHOR–( ver I Co 11. 17-26)
Dr. Broadus, em obra já citada, destaca que era costume da igreja primitiva ter um jantar, seguido da celebração da Ceia do Senhor. Essa prática (ver II Pe 2.13 e Jd 12)“a festa de amor” (ágape), estava de alguma forma sendo reproduzida em Corinto, pelo que observamos.
Não é demais lembrar que procedimento semelhante ocorria em muitas celebrações pagãs.
Para esse encontro na igreja, todos levavam alimento e bebida. Podemos presumir que os escravos fossem os últimos a chegarem e que os ricos os primeiros a servirem-se (vs. 22). Paulo condena a segregação que ocorria, formando grupos e dispensando tratamento diferenciado, num momento em que se buscava a comunhão (vs. 20,21,22). Em tese, aceita as divergências, como meio para identificar-se os aprovados (vs. 18).
A exposição, a partir do verso 23, mostra o simbolismo da Ceia. O que pão e vinho invocavam e a aproximação que traziam com Cristo, sendo resgatado, no íntimo de cada um, o significado agregador de Jesus Cristo. Todos são chamados para participar da mesa com e de Jesus. A comunhão em torno de Jesus era a pregação do Seu sacrifício, devendo ser feita até a Sua volta.
O AUTO-EXAME REQUERIDO DE CADA CRISTÃO
Paulo convoca os coríntios a examinarem-se. Faltava dignidade para participar de um momento tão especial. Declara que alguns estavam fracos e doentes e muitos já dormiam, haviam morrido, possivelmente, em consequência da ingestão excessiva de álcool (vs. 21).
Por conta de toda esta rebeldia contra Deus, ao afrontarem à Sua orientação, Paulo pede que atentem ao perigo da condenação com o mundo (vs. 29-32). A atitude, requerida de cada crente, era o auto-exame, para que pudesse compreender o significado da comunhão, na participação da Ceia do Senhor.
MAIS APLICAÇÕES PARAA VIDA
David H. Stern, no Comentário Judaico do Novo Testamento, lembra-nos que o sentido original da palavra hebraica para “orar”, l hitpallel, é ”julgar-se a si mesmo”. Portanto, é preciso orar sempre, pois esta é a preparação que Deus requer de cada crente e que nos leva ao auto-exame.
A celebração da Ceia do Senhor deve ser a anunciação da morte do Senhor. É preciso, contudo, que ela expresse o êxodo da escravidão do pecado, para uma vida livre que proclame a redenção eterna por Cristo Jesus.
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