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EVANGELHO DE JOÃO: ESTUDO 11 – A MISSÃO DO CONSOLADOR

João 16 e 17

Terminamos nosso último encontro dizendo que, quando se deseja seguir a Jesus, haverá conflitos. Dissemos que Jesus preveniu seus discípulos com relação a isto, consoante lemos no capítulo 15 estudado naquela ocasião. Não é diferente a abordagem inicial do capítulo 16, provavelmente uma conversa de Jesus com os onze, no caminho entre o Cenáculo e o Horto. Caminho difícil aquele, vez que era o último percurso que fariam juntos. O tempo de Jesus, tempo este que no evangelho de João era identificado como “ainda não é chegada a hora”, agora chegara. A missão estava por terminar e era disso que se ocupavam naquela conversa íntima e tão amorosa. Jesus está a algumas horas da conclusão do seu ministério e prepara os discípulos para dias de tristeza e de alegria. Ele ensina que é necessário dar fruto para que a obra de Deus não seja interrompida em função da negligência deles. Apela à responsabilidade integral dos seus discípulos e deseja que eles ajam como Ele próprio agiu.

Nesse contexto, é-nos apresentada a missão do Espírito Santo, que consiste em transformar a tristeza em alegria, a dor em festa de vida. A ressurreição de Jesus, poucos dias depois, vai mostrar que a vida é mais forte do que a morte e que somente Jesus tem o poder de anular os efeitos da morte.

Jesus faz um paralelo entre seu ministério e o dos discípulos, não só com referência à perseguição, mas também com relação à aceitação. “Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis. Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus.” Era necessário que os discípulos compreendessem o caminho que os esperava, para que estivessem fortalecidos e fossem vitoriosos.

O verbo traduzido por expulsar tem o significado de excomungar. Jesus os advertia com relação a um perigo real. Era necessário que compreendessem que homens zelosos os matariam porque entendiam que assim fazendo estariam demonstrando amor a Deus. Foi exatamente esta a motivação de Paulo de Tarso, quando se dispôs a perseguir os chamados cristãos. Há uma denúncia mais séria ainda aqui identificada: Jesus chamava a atenção dos seus para o fato de que dizer que se crê em Deus não é suficiente: “E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a Mim.” (15,3). O comentário Broadman registra que “a única qualidade de fé genuína é a que aceita a revelação de Deus em Cristo e nela o caráter paterno do Deus assim revelado. É porque rejeitaram esse Deus que os ardorosos servos de um Deus dessemelhante de Cristo podem até o dia de hoje matar a serviço de Deus”.

O discipulado, nos moldes apresentados aos discípulos, pode ser identificado como sendo um paradoxo. Aproximamo-nos dos versículos 16 a 24, onde enxergamos a alegria e a tristeza quase que convivendo harmoniosamente. A fórmula é simétrica: um pouco e já não me vereis; um pouco e ver-me-eis. Difícil seria que eles compreendessem isto, que, para nós já é tão familiar. Como bom professor, Jesus se aproxima de uma comparação. Vale-se da profecia de Isaías 66,7-9 e usa o exemplo da mulher que, prestes a dar à luz, sofre as dores de parto. A lembrança do sofrimento físico desaparece, no entanto, no momento em que a criança nasce. Os discípulos passariam também por muitas dores, mas as superariam em função da grande alegria que sentiriam ao ver Jesus ressuscitado e, pouco tempo depois, compreenderem tudo o que havia acontecido com eles e o que Jesus efetivamente havia representado não só para eles, como para todo o mundo e em qualquer época: “Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.” (16, 22).

A seguir, encontramos o capítulo 17. É a chamada “Oração Sacerdotal” do Senhor. Este título foi supostamente recebido pela primeira vez do teólogo luterano David Chytraues, morto em 1600. Há um teólogo, Erns Kasemann, que a chama “O testamento de Jesus”. Muitos a denominam simplesmente “A Oração do Senhor”. É um dos capítulos mais lidos e mais lindos da Bíblia. Melhanchton, companheiro de Lutero, a ele se referiu dizendo “nem os céus e nem a terra tem ouvido uma voz mais exaltada, mais santa, mais fecunda e mais sublime do que esta oração elevada pelo Filho de Deus.” Já o teólogo W.C.Taylor vai mais longe, ao dizer: “ aqui entramos no Lugar Santíssimo do Novo Testamento, porque se nos dá a revelação mais profunda do coração de Jesus.”

A oração tem a forma de uma conversa com Deus. É como uma entrevista do Príncipe de um reino com o Pai que é também Rei, amigo e Comandante Supremo, numa guerra cuja batalha decisiva está para ser travada dentro de poucas horas. O Filho levanta os olhos para os céus; é conversa face-a-face. Nesta oração, Jesus faz pedidos ao Pai valendo-se de quatro verbos de súplica, no imperativo e 62 no modo indicativo. São pedidos que Jesus apresenta a Deus. Um deles é pela unidade. Essa unidade não é a unidade doutrinária, mas sim em todos os seus ideais, como acontece com a Trindade. Na unidade espiritual dos crentes em Cristo há glória. Jesus protegeu a unidade da missão da Igreja contra a corrupção, ao orar também para que o amor com que Deus o amara estivesse neles, como nele estivera.

Precisamos terminar, mas eu gostaria de indicar uma possível divisão para o estudo dessa oração. A proposta é do comentário Broadman, que a divide assim: Jesus ora por Si mesmo (1-5); Jesus ora por seus discípulos (6-19); Jesus ora pelos futuros crentes (20-26). Sim, querido ouvinte, Jesus é Intercessor. Ele nos representa diante do Pai. É o mediador. Ele deseja que vejamos a Sua glória.

“Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim. E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.” ( 17,23-26).

Amém e amém, seja a nossa resposta.

 
APOIO BIBLIOGRÁFICO

ALLEN, Clifton J.(editor) Comentário Bíblico Broadman vol. 9 .Rio de Janeiro: JUERP. 2ª. edição. 1987. BORTOLINI, José. Como ler o Evangelho de João – O caminho da vida. São Paulo: Paulus. 7ª. edição 2005. BRUCE, F.F. João – Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão. 1987. CHOURAQUI, André. A Bíblia – Iohanân (O Evangelho Segundo João). Rio de Janeiro: Imago. 1997 TAYLOR, W.C. Evangelho de João –Tradução e Comentário. Volumes I, II e III. Rio de Janeiro:Casa Publicadora Batista. 1946.

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