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O EXEMPLO DE JESUS

1 Jo 1 e 2

Com o estudo de hoje, iniciamos uma série de cinco reflexões baseadas nas chamadas cartas joaninas. Então, é oportuno dizer que não há consenso sobre a autoria das três cartas. Há quem as atribua ao mesmo autor do evangelho de João e do livro de Apocalipse, mas não faltam estudiosos que percebem a possibilidade de termos, para tais escritos, mais de um autor. No entanto, após analisar as diferentes argumentações, optamos, para este trabalho, atribuir a João, o discípulo amado de Jesus, a autoria de 1ª., 2ª. e 3ª. João.

A nossa preocupação, então, é com o contido nos dois primeiros capítulos da primeira carta. A introdução, ou prólogo, já anuncia que o interesse do autor é com a proclamação do Evangelho, a partir da manifestação histórica de Jesus, como segue: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida.” Morris já destaca que, para o autor, a mensagem do Evangelho não é uma teoria ou conto de fadas, mas o registro da vida e da presença entre os homens do Deus vivo, de forma tangível, na pessoa do Seu Filho.

Essa é a mensagem que João pretende destacar. E explica a razão para o fazer: a revelação, que fora enviada a poucos para alcançar a muitos, deveria ser para que houvesse testemunho e proclamação dessa mensagem, o que daria a ele muita alegria e reforçaria a comunhão entre eles.

Era necessário que a mensagem fosse proclamada, porque circulavam falsos ensinamentos a respeito de Jesus. Se qualquer providência não fosse adotada, certamente aquelas distorções teriam encontrado adeptos e a mensagem de Jesus poderia ficar em segundo plano na vida de muitos. Qual a novidade? Nenhuma. Ainda hoje é assim, pois enfrentamos dia após dia situações semelhantes e vemos, perplexos, que Jesus tem sido associado a práticas que nunca foram dele e que distorcem a pureza da mensagem do evangelho.

João aponta, já no início dos seus escritos, três erros ou pretensões dos falsos mestres e o faz a partir do emprego da fórmula: “se dissermos”. Interessante que, para Dodd, talvez tenhamos aqui máximas que eram empregadas como senhas por tais mestres. São eles:

a) a negação de que o pecado rompe a nossa comunhão com Deus.(1. 6-7) João refuta: se fizermos tal alegação, mentimos, ou melhor, como diz Stott: “nossas palavras e nossa vida são uma mentira.”

b) a negação de que existe pecado em nossa natureza. (1.8-9). Aqui, lembra Stott, é o próprio fato do pecado que é negado. Engano, diz João.

c) A negação de que o pecado se mostra em nossa conduta. (1. 10-12). O conceito aqui é, lembra Stott, de que podemos conceber, em teoria, que o pecado romperia a nossa comunhão com Deus e até que o pecado existe em nossa natureza com uma disposição inata e, contudo, negar que pecamos na prática e assim nos coloca fora da comunhão com Deus.

A esta altura o ouvinte já percebeu o que há em comum entre tais alegações e o tempo que vivemos hoje. Esta é a importância de se estudar com profundidade a Palavra de Deus.

A seguir, o autor desenvolve o tema. Já destacou a realidade da manifestação histórica de Deus entre nós e agora afirma que Deus é luz. Essas verdades, que são fundamentais, devem nortear a nossa vida. Uma vez dito isso, João particulariza o argumento e nos apresenta três provas, que são explicitadas no capítulo 2. Vamos apresentá-las de forma abreviada e a partir das ideias de Stott. Tais provas serão desenvolvidas em capítulos posteriores, quase que formando um fio condutor da epístola.

1ª. prova: Obediência ou prova moral (2.3-6). Os gnósticos diziam ter conhecimento de Deus, pois haviam sido iluminados pela “gnosis”. João entende ser realmente possível conhecer a Deus (vide João 17.3 e Jeremias 31.34). Mas, é claro ao ensinar que a única forma de sabermos se realmente O conhecemos é a partir da obediência aos mandamentos de Deus.

2ª. prova: Amor ou prova social (2. 7-11). A única maneira de o amor tornar-se relevante – em qualquer época – é em pessoas que encarnam Cristo em suas vidas, diz McDowell. Andar como Jesus andou é andar em amor. E este é um mandamento, diz João, que foi apresentado “desde o princípio”. Não era isto que os falsos mestres apregoavam.

3ª. prova: Fé ou prova doutrinária (2.18-27). Interessante que, antes de entrar nessa prova, o autor interrompe a exposição da teoria e acrescenta palavras de encorajamento aos filhinhos, aos jovens e aos pais. (2, 12-14). De igual modo, ainda destaca o perigo de se envolver com o mundo (2, 15-17), aqui entendido como sendo termo referente não ao planeta Terra, mas ao segmento da Humanidade. O conceito de mundo ocorre 23 vezes nesta carta. Aqui representa colocar o coração naquilo que é humano. João destaca que:

a) Há incompatibilidade entre o amor pelo mundo e o amor pelo Pai (15 e 16) e b) Há contraste com a eternidade, pois tudo no mundo é transitório (17).

Concluída a interrupção, o autor se sente à vontade para introduzir a terceira prova, a doutrinária. É como se ele estivesse querendo dizer: amados, não são vocês os problemas, pois vocês são filhinhos, jovens, pais na doutrina. Precisamos é lidar com pessoas a quem o autor denomina anticristos.

Palavra encontrada apenas em 1 e 2 Jo. São cinco ocorrências: 1Jo 2,18 e 22-23; 1Jo 4,3 e 2Jo7. O conceito aparece, no entanto, em significados semelhantes, com palavras diferentes em outras passagens, tais como: Mc 13,6 e 21-23; Mt 24,23-25 e2Tes. 2,3-5.

O termo é uma expressão apenas da literatura cristã. Segundo o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, a palavra original em grego para “anticristo” pode ter dois significados. Pode significar “contra Cristo”, no sentido de uma pessoa ou um certo poder estar em oposição ao trabalho de Cristo. Ou a palavra poder significar “em vez de Cristo”, no sentido de uma pessoa ou um certo poder ‘tomar o lugar de Cristo’ , ou é uma ‘imitação de Cristo’.

O apóstolo João usou-a no singular (“o Anticristo”) e no plural (“muitos anticristos”). João dá a entender que seus leitores haviam ouvido que o Anticristo viria no futuro. Então, ele os surpreende dizendo que muitos anticristos já vieram. João descreve esses anticristos menores como mentirosos que negam que Jesus é o Cristo (2.22). Neste sentido, anticristo é qualquer falso mestre que nega a Pessoa e a obra de Jesus Cristo. Tais mestres são verdadeiramente anti (contrários a) Cristo.

Voltaremos a este assunto em outra ocasião, mas precisamos lembrar que estamos em condições de identificar e negar o ensino que tais personagens de ontem e de hoje nos apresentam. João afirma: “E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis.” ( 1Jo 2.27).

Que seja esta a nossa experiência. Amém.

 

Apoio Bibliográfico:

10. GRUNZWEIF, Fritz et all. Cartas de Tiago, Pedro, João e Judas. Comentário Esperança. Curitiba: Paraná – Editora Evangélica Esperança, 2008. 11. DRUMMOND, R.J., MORRIS, Leon. O Novo Comentário da Bíblia – vol. II. São Paulo: Vida Nova. Reimpresso em 1987. 12. STOTT, John R. W. I.II, III João – Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica. SP: Mundo Cristão. 1985 13. McDOWELL, Edward A.. Comentário Broadman. Volume 12. Rio de Janeiro: JUERP. 1987 14. CARSON D. A. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova. 2009. 15. BROWN, Colin. DICONÁRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO. São Paulo: Vida Nova. 1983.

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