[paralelo em Mt 6.5-15; 7.7-12: O Ensino de Jesus acerca da Oração ]
1Certo dia Jesus estava orando em determinado lugar. Tendo terminado, um dos seus discípulos lhe disse:“Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos dele”.
2Ele lhes disse: “Quando vocês orarem, digam: “ Pai! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino.
3Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano.
4Perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todos os que nos devem. E não nos deixes cair em tentação”.
5Então lhes disse: “Suponham que um de vocês tenha um amigo e que recorra a ele à meia-noite e diga: ‘Amigo, empreste-me três pães,
6porque um amigo meu chegou de viagem, e não tenho nada para lhe oferecer’.
7“E o que estiver dentro responda: ‘Não me incomode. A porta já está fechada, e eu e meus filhos já estamos deitados. Não posso me levantar e lhe dar o que me pede’.
8Eu lhes digo: Embora ele não se levante para dar-lhe o pão por ser seu amigo, por causa da importunação se levantará e lhe dará tudo o que precisar.
9“Por isso lhes digo: Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta.
10 Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta.
11 “Qual pai, entre vocês, se o filho lhe pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra?
12 Ou se pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
13 Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!”
O texto lido nos apresenta um importante ensino de Jesus Cristo. Ele nos fala a respeito de como nos relacionar com Deus, e para ilustrar o ensino o Mestre faz outra vez uso de uma parábola, esta conhecida como a parábola do amigo inoportuno, mas por vezes também chamada da parábola dos três amigos. Comecemos pela parábola nos seus elementos mais destacados, que são os amigos e a atitude de importunação demonstrada por um deles.
Há um amigo visitante, que chega com necessidades que precisam ser atendidas. Há o amigo hospedeiro, que não está preparado para atender as necessidades do visitante inesperado. E há o vizinho que precisa ser importunado para que o visitante seja atendido. É uma situação difícil, e para nós que vivemos no meio de tantas opções de recursos temos que pensar na estória com as limitações do ambiente antigo e tão rural daqueles para quem Jesus falava. Para que a necessidade imprevista do meio da noite pudesse ser atendida, alguém precisava ser incomodado. O ponto para o qual Jesus chama a atenção é para a importunação. Mesmo que o vizinho não atenda ao pedido que o amigo faz, ele o atenderá para se livrar da importunação. De tanto insistir, o amigo hospedeiro acaba por receber o que precisa.
A insistência do pedir está presente em todo este ensino de Jesus. Peçam, busquem, batam, conclama o Mestre, porque é só quem pede que pode obter; é só quem busca que pode achar; e só quem bata que pode ter a porta aberta. Talvez este seja um dos ensinos de Jesus mais erradamente utilizados. São tantos que lêem este episódio dos evangelhos e acham que Deus tem a obrigação de dar tudo o que a Ele se pede. É só uma questão de insistir, não desistir. Mas, o ensino de Jesus vai além dessa leitura superficial. O pretexto para essa conversa de Jesus com seus discípulos foi o pedido deles: ensina-nos a orar. A oração é a comunhão que podemos ter com Deus, nos apresentando diante dele e pedindo por aquilo que carecemos. O ponto central que devemos entender é exatamente a insistência em buscar a Deus. Devemos buscá-lo sempre, devemos ser persistentes ao ponto de nos tornarmos inoportunos, até o momento em que podemos perceber que Ele nos responde.
Este ensino de Jesus enfatiza o nosso relacionamento com Deus como o relacionamento de um filho com seu Pai. É um relacionamento feito tanto em confiança absoluta como em dependência absoluta. Como o hospedeiro que recebe o amigo inesperado na hora mais imprópria e não tem como o alimentar, assim também, Jesus ensina, Deus é o recurso ao qual podemos recorrer quando nada mais nos resta. E devemos recorrer com tanta confiança até obtermos uma resposta. O relacionamento com Deus como pai é um relacionamento baseado no amor, e se um pai humano nunca daria uma cobra ao filho que pede pão, Deus, como o pai amoroso muito mais dará aos que suplicam o melhor do que eles precisam. O convite desta estória de Jesus, o convite de todo esse ensino do qual a parábola é uma parte é só um: devemos com toda a seriedade nos voltar para Deus. Devemos buscá-lo constantemente, insistentemente. Ele jamais nos rejeitará. Ele nos dará o que de mais precioso precisarmos na hora da necessidade.
Por vezes, muitas vezes de fato, as pessoas não entendem a natureza espiritual da mensagem do Mestre. Não é privilégio da nossa época, pois também no tempo de Jesus ele era muito procurado para resolver os problemas imediatos da vida: curar doenças, resolver problemas, saciar a fome. Quando Ele começava a falar das coisas espirituais o interesse se dispersava. Para entendermos o ensino de Jesus temos que ter em mente que ele é de razão espiritual. Temos que entender que as coisas espirituais são mais importantes que as materiais. Temos que aceitar que ao termos as coisas espirituais corrigidas e corretas, teremos toda a nossa vida no rumo certo. O espiritual é prioritário e ao nos voltarmos para Jesus, ao persistentemente o buscarmos, implorarmos, e dele dependermos, poderão olhar para todas as outras coisas da vida sob uma nova perspectiva. Podemos descobrir que todos os outros problemas deixam de ser atormentadores porque o problema maior, o espiritual foi resolvido.
Prestemos atenção em como o texto se encerra. Jesus diz: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!”. Buscar a Deus com insistência, da maneira como Jesus ensina é suplicar pela presença continuada do próprio Deus na nossa vida. É reconhecer que pertencemos a Deus, e tudo o que somos, tudo o que temos é somente por causa dEle. Importunar Deus de modo insistente é reconhecer que precisamos dele; só Ele pode nos ajudar; só teremos o que Ele nos der; só podemos viver com aquilo que Ele nos propiciar.
Ao reconhecer que é isto que precisamos, estamos na mesma situação dos discípulos aos suplicarem: Senhor, ensina-nos a orar. E com Jesus aprendemos que a nossa insistência com Deus pode ser expressa tão simplesmente em uma oração dirigida a Ele, como nesta oração ensinada por Jesus, e que conhecemos como a oração do Pai Nosso: “Pai! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano. Perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todos os que nos devem. E não nos deixes cair em tentação” . Vamos seguir os ensinos de Jesus, e como o amigo inoportuno da parábola, vamos buscar a Deus com toda a submissão, com toda a sinceridade do nosso coração, mas também como toda a insistência que pudermos.