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Gerson Berzins

PERDÃO E CURA

João caps. 8 e 9

(gberzins@ceoexpress.com)

Queridos ouvintes, expressamos a Deus a gratidão pela oportunidade de mais um vez estarmos juntos, dentro desta série de estudos no Evangelho de João. Nesta oportunidade, estaremos nos tornando para os capítulos 8 e 9.

No encontro anterior, revimos o milagre da multiplicação dos pães, no capítulo seis, e o discurso conseqüente de Jesus à grande multidão, discurso este que provocou muitas dissidências entre aqueles que tinham proposto seguir o Mestre, mas não mais conseguiam absorver e aceitar os ensinos que Jesus lhes transmitia. No cap. sete, vemos que até os irmãos carnais de Jesus não creram nEle (v.5). Depois disso, por ocasião da Festa da Páscoa, vemos o Mestre deixando mais uma vez a Galiléia, em direção à Jerusalém. Foi em secreto, não acompanhando os seus, mas fazendo a jornada posteriormente. No relato de João, essa era a terceira, e ultima estada de Jesus na região da Galiléia. Diferentemente dos outros evangelhos, João destaca mais os acontecimentos do ministério do Mestre na Judéia.

Também percebemos no relato de João que a partir desse retorno final à Judéia, Jesus se dirigiria menos às grandes multidões. Veremos nos capítulos seguintes o Mestre sendo duramente confrontado pelos seus opositores, a liderança religiosa dos judeus, e a partir do capítulo treze, o relato do evangelista está todo concentrado nos ensinos de Jesus aos seus discípulos, até a hora dos acontecimentos finais da Semana da Paixão.

Mas agora, estamos no meio do confronto entre Jesus e os fariseus e escribas. Jesus era esperando, com expectativa para a festa da Páscoa (7.11 e 12). Ao chegar, começou a ensinar e os lideres o mandaram prender. A ordem de prisão não conseguiu ser cumprida pelos guardas. Eles deveriam aguardar mais um ano, até a Páscoa seguinte, para que Jesus pudesse ser preso e julgado de acordo com o rito legal de condenação estabelecido pelas autoridades romanas.

Mas o confronto continuava. De um lado, as multidões procuravam Jesus para ouvi-lo, de outro, os líderes da religião constituída buscavam toda ocasião para provar Jesus, tentando desmoralizá-lo frente aos seus seguidores. É exatamente esta intenção que vemos no relato da mulher adúltera, no início do cap.8.

Percebe-se que nesse episódio, os escribas e fariseus não estavam interessados na aplicação da lei de Moisés, que ordenava o apedrejamento da mulher surpreendida em flagrante de adultério. De igual modo, não estavam preocupados em preservar da exposição pública a mulher, que de fato errou, seu marido, seus familiares e outros envolvidos. Como Bob Deffingaugh lembra no seu comentário, talvez a mulher foi levada ainda desnuda e jogada aos pés de Jesus, pois o único objetivo agora era desmoralizar o Mestre, colocando-o na difícil escolha entre consentir na morte de uma pessoa, ou deixar de cumprir a lei de Moisés. Nos intriga a atitude de Jesus, que se inclinou e começou a escrever. O que ele escrevia, que dispersou os algozes daquela mulher, permitindo que ela sobrevivesse? Não há como saber. O mesmo comentarista citado a pouco sugere que Jesus abaixou-se e começou a escrever para tirar a atenção da mulher despida. A conclusão possível é que não foi com essa artimanha que os lideres conseguiram prevalecer contra o Mestre.

A partir do v.12 João apresenta mais um ensino de Jesus no recinto do templo (v.20), demonstrando o quanto as palavras de Jesus iam sendo contestadas, idéia por idéia, até o final do relato, quando os fariseus e escribas se muniram de pedras para atirarem no Mestre, que saiu do templo em oculto. Jesus ensinou: “Eu sou a luz do mundo.” (v.12). “...o pai que me enviou, também dá testemunho de mim.” (v.18). “Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então conhecereis que eu sou e que nada faço de mim mesmo; mas como o Pai me ensinou, assim falo.” (v.28) “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (v.32). “...Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.” (v.58)

As autoridades religiosas não conseguiam assimilar e aceitar que aquele que lhes falava era o próprio Messias, prometido nas escrituras. Eles se sentiam afrontados, intimidados, contestados e perturbados por esse que surgiu arregimentando seguidores. Por que isso ocorreu? A defesa da religião se tornou tão rígida, tão cega que lhes impedia de ver? Os sinais presenciados não foram suficientes para lhes abrir o entendimento? Ao repassar alguns dos argumentos contestatórios usados pelos escribas e fariseus vemos o quanto eles se fecharam em si, na segurança da sua tradição e na estreiteza da sua visão das coisas espirituais: “..tu dás testemunho de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro.” (v.13). “Somos descendência de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém: como dizes tu: Sereis livres?” (v.33). “Não dizemos com razão que és samaritano, e que tens o demônio?” (v.48). Agora sabemos que tens o demônio. Abraão morreu, e também os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, nunca provará a morte! Porventura és tu maior que nosso pai Abraão, que morreu? Também os profetas morreram; quem pretendes tu ser?” (v.52-53).

Esse confronto separou Jesus das autoridades da religião oficial, em definitivo. Logo mais, Jesus evitaria andar entre os judeus, retirando-se para as vizinhanças do deserto, para poder dedicar-se ao ensino aos seus discípulos (11.54), aguardando o momento próprio, a próxima Páscoa, para retornar a Jerusalém e deixar-se entregar.

Esses ensinos de Jesus, tão contestados pelos escribas e fariseus não deixaram de atingir um outro propósito do Mestre, como demonstra o relato do verso 30. Muitos creram nele. Os doutos das coisas religiosas não enxergaram o que muitos entenderam. Jesus era o Filho de Deus e a estes o Mestre exortou: “...Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos.” (v.31)

Como reflexão final da revisão desses acontecimentos do ministério terreno do Mestre, e especialmente centrando-se no confronto entre Jesus e os líderes judeus, convém considerar que alguém somente consegue aceitar e entender plenamente Jesus Cristo, se conseguir entender que Ele é o Deus encarnado. As suas palavras e os seus ensinos não são vindos de um líder religioso nem de uma autoridade moral ou espiritual. Vem de Deus, pois ele é Deus, e assim devemos aceitar. “ o Verbo se fez carne e habitou entre nós... e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do pai.” (1.14).

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