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SOFRIMENTO E MORTE DE CRISTO

Na continuação de nossa re-visita ao Evangelho de João, chegamos hoje aos capítulos 18 e 19, onde o evangelista nos apresenta a prisão, o julgamento, a condenação, a crucificação e o sepultamento do Nosso Senhor Jesus Cristo. Também nesses relatos, João se diferencia dos outros evangelhos, omitindo muitos fatos que encontramos nos outros relatos e adicionando detalhes que enriquecem a história. O entendimento completo de todo o processo da condenação de Jesus nos vem pela junção dos relatos encontrados nos quatro evangelhos. Como estamos nos concentrando em João, vamos seguir a linha adotada por este evangelista, destacando, por vezes, as informações que são lhe são únicas.

Terminada a ceia com os discípulos, eles se retiraram para além do ribeiro de Cedrom, no lugar conhecido como Getsemani, que João não identifica pelo nome. João também não menciona a agonia do Mestre, relatada por todos os outros evangelhos. Aquele era um lugar freqüentado pelo grupo, que muitas vezes lá se reuniu, e, portanto, um lugar provável para Judas procurar Jesus, no seu intuito de entregar o Mestre às autoridades religiosas. Para a total surpresa da força policial arregimentada para prender Jesus, e munida de armas, archotes e lanternas, Jesus se apresentou e se identificou. No episódio da orelha cortada, João é o único a apresentar os nomes dos envolvidos: Pedro, que estava armado de uma espada feriu o servo, cujo nome era Malco.

O restante da noite iria ser gasto nos últimos encontros de Jesus com as autoridades religiosas, primeiro na casa de Anás, e sogro do sumo sacerdote, e depois de Caifás, o sumo sacerdote em exercício. Como Anás já tinha sido sumo sacerdote no passado e gozava de grande influência, a sua opinião era relevante, e o interrogatório começou com ele. São bastante esclarecedores os detalhes que este evangelho apresenta a respeito dos acontecimentos nas casas desses líderes religiosos. Pedro e o outro discípulo, provavelmente João, acompanharam Jesus preso. O outro discípulo era conhecido do sumo sacerdote e teve acesso à casa, usando depois sua influência para trazer Pedro para dentro. Estava definido o cenário para a anunciada negação de Jesus por Pedro. João nos informa, no verso 31, que as autoridades religiosas não tinham o poder de decretar a morte, e por isso precisavam convencer a autoridade romana de que Jesus era digno da pena de morte. Ao surgir da manhã, as autoridades judaicas, junto com Jesus, vão ao encontro de Pilatos, o governador romano da Judéia.

O julgamento de Jesus por Pilatos é relatado a partir do verso 28 do capítulo18, até o verso 16 do capítulo 16. João acrescenta alguns detalhes, que enriquecem o entendimento do ocorrido no pretório. De inicio, somos informados que as autoridades religiosas não adentraram o pretório, denominação da residência oficial do governador romano. Já era a sexta feira, o dia da Páscoa, e um judeu que entrasse em uma casa de gentio ficaria impuro para participar da Páscoa, que começaria ao por do sol daquele dia. Esse detalhe faz com que todo o procedimento que se seguiu ocorresse em uma alternância entre episódios dentro da casa, e episódios no pátio. Podem ser contadas sete cenas, com Pilatos se movendo entre o interior e o exterior do pretório, para interrogar Jesus e dialogar com a liderança religiosa.

Pilatos não se sentia confortável com a situação, isto é evidente. Não conseguia entender porque Jesus devia merecer a morte. Por outro lado, era sua responsabilidade como governador garantir a paz da região, e evitar o descontentamento da população e de suas lideranças, razão que o fazia ouvir e desejar atender a solicitação do povo. Ao fim, mais pressionado pela turba, que apela até para a fidelidade a César (v.12 e 15), do que de fato convencido, Pilatos entregou Jesus para ser crucificado.

A narrativa do percurso até o Gólgota e a crucificação é bastante sumarizada por João, que, no entanto, destaca a presença de um grupo de mulheres ao pé da cruz, entre elas a mãe de Jesus, com quem o Mestre travou um diálogo que é somente registrado neste evangelho. João também procura relacionar três fatos da crucificação com o cumprimento de profecias do Velho Testamento: a túnica de Jesus que não foi repartida, os seus ossos que não foram quebrados e o seu lado que foi traspassado pela lança dos soldados.

João nos informa ainda de certa precipitação para sepultar Jesus. Como sabemos, o dia judaico começa ao cair da tarde. Portanto ao escurecer se começaria o sábado, e como não se podia haver trabalho no dia santificado, se Jesus, e os outros crucificados não fossem sepultados enquanto dia, eles teriam que ser deixados na cruz até ao fim do sábado. A solução foi solicitar de Pilatos autorização para quebrar as pernas dos crucificados, deste modo acelerando o processo de morte. No caso de Jesus, tal providencia não foi necessária, como já ressaltado, e assim as providências do sepultamento podiam ser tomadas.

É neste momento que todos os evangelhos nos apresentam um discípulo oculto de Jesus, José de Arimatéia, homem influente e de posses, que intercedeu junto a Pilatos para que o corpo do Mestre pudesse ser dignamente sepultado. É João que nos informa que junto com Nicodemos, José de Arimatéia cuidou do corpo, envolvendo-o em linho, tratando-o com especiarias e o depositando-o em um tumulo que nunca fora antes utilizado, situado em um jardim.

“Está consumado.” (19.30). Foram as palavras finais de Jesus na Cristo, ao entregar o espírito. Para todos aqueles que creram em Jesus, e que naquela sexta feira viram os acontecimentos tomarem um rumo tão diferente e tão inesperado, essas ultimas palavras também refletiam a percepção de que tudo tinha acabado. Nada mais havia a fazer. No entanto, sabemos que a história não terminou no sepulcro. Há ainda, o terceiro dia, o domingo da ressurreição, a alegria de se ver que com Jesus a morte foi vencida.

O sacrifício de Cristo na cruz, e a sua morte nos trazem vida, pois de fato “ ... ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades...” (Is.53.5).

Louvemos e agradeçamos a Deus pelo seu imenso amor por nós, revelado por quando nós éramos ainda pecadores (Rm.5.8)

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