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O SERMÃO DA MONTANHA

(Usado com permissão) http://evangelhodofilhodedeus.blogspot.com.br/

MATEUS 5-7 (Marcos 9:49-50; Lucas 6:20-23; 14:34-35; 11:33; 12:22-31; 6:37,38,41,42; 11:9-13; 13:24; 6:46-49).

V.1 – Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; V.2 – e ele passou a ensiná-los, dizendo:

No final do capítulo 4, a partir do verso 23, Mateus relata as atividades de Jesus por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Nada mais lógico que a Sua fama crescesse e que Ele fosse procurado por numerosas multidões com pessoas necessitadas, provindas de todas as partes, em busca de solução para seus problemas físicos e espirituais. É a este grande número de pessoas que se refere o verso 1 de Mateus,capítulo 5. No meio dessa massa humana havia muitos discípulos que andavam mais próximos d’Ele e ainda os doze que, até agora, não eram chamados “apóstolos”, porque não haviam sido escolhidos para serem comissionados. Seguindo o relato de Mateus, vemos que isto só aconteceu no capítulo 10 (cf Mateus 10:1,5).

O monte a que Jesus subiu não é especificado, mas, certamente, é uma das doze colinas existentes ao lado do mar da Galiléia. Elas formavam uma paisagem descrita pitorescamente por Josefo, historiador judeu, que foi governador da Galiléia no primeiro século.

Mateus pinta um quadro muito digno de Jesus, descrevendo-O com a postura de um respeitável mestre daquela época, que se assentava, enquanto os discípulos se aproximavam e tomavam lugar ao Seu redor. Quando Ele passou a ensinar, Mateus O descreve como um Legislador que, “abrindo a sua boca”, conforme o texto grego, começa a promulgar a Lei do Seu Reino. Isto faz lembrar Moisés descendo do monte Sinai, trazendo nas mãos as tábuas da Lei. Uma diferença é que, aquela Lei estava escrita em pedras, mas a Lei de Jesus é para ser inscrita na mente e no coração dos Seus discípulos. É a Lei Perfeita, Lei da Liberdade, Lei da Nova Aliança (cf Tiago 1:25; Jeremias 31:31-32).

Convém lembrar que, no início do Seu ministério, Jesus dá exortações no imperativo, dizendo: “... o reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1:15). Agora, no Sermão da Montanha, Ele fala do caráter dos cidadãos do reino de Deus e da sua ética, isto é, daqueles que se arrependeram e creram na Sua pregação.Trata-se de um extenso sermão de três capítulos. Não é necessário imaginar que o Mestre tenha pronunciado todos estes ensinos de uma só vez. É mais provável que Mateus tenha reunido metodicamente nos capítulos 5, 6 e 7 uma série de pronunciamentos feitos por Jesus durante o Seu ministério. Isto se percebe quando consideramos o grande número de passagens paralelas que estão distribuídas dentro do Evangelho de Lucas. O importante é saber que este sermão representa a essência dos ensinos de Jesus e que ele ocupa, no Novo Testamento, o mesmo lugar de importância dos Dez Mandamentos dentro da Lei do Velho Testamento. O Sermão da Montanha começa com uma série de bem-aventuranças ou beatitudes pronunciadas por Jesus, desde o verso 3 até o verso 11. Se estas bem-aventuranças estão relacionadas com o caráter dos cidadãos do reino de Deus, todo o restante deste sermão está relacionado com a ética, ou com o comportamento dos mesmos, depois de ouvirem a pregação do Evangelho e de responderem com arrependimento e fé.

V.3 – Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.

A primeira bem-aventurança ocupa lugar de destaque neste sermão, porque dela dependem todas as outras. Ela é como uma chave motora que desencadeia o funcionamento de um sistema.

“Bem-aventurado”é tradução da palavra grega “makários” que, por sua vez é a tradução da palavra “ashre” do Hebraico e exprime a locução “óh felicidade”. Assim, o verso 3 poderia ser traduzido desta maneira: “Óh felicidade dos humildes de espírito...”. O Salmo 1 descreve como bem-aventurado o homem que se deleita em meditar na Palavra de Deus e em praticá-la. Este mesmo Salmo enumera as bênçãos decorrentes desta atitude. Tiago 1:25 fala do bom sucesso daquele que persevera em obedecer à Lei Perfeita, Lei da Liberdade, isto é, o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, e diz que tal homem é bem-aventurado no que realizar.

A bem-aventurança é um estado de espírito de total felicidade. Não é felicidade que resulta da satisfação de ambições humanas, mas do fato de se encontrar a suficiência em Deus e de andar na dependência d’Ele.

Quem são os humildes de espírito? Para ilustrar as características dessas pessoas Jesus usou uma metáfora chamando-os de “pobres de espírito”. Na língua grega existem duas palavras que podem ser traduzidas por “pobre”. Uma é “ptôchós”, que significa um pobre miserável. A outra é “tapeinós”, um pobre mais afortunado. Os humildes de espírito referidos por Jesus são aqueles miseráveis. Mas isto não tem nada a ver com pobreza ou riqueza material. A pobreza material não é requisito para entrar no reino de Deus e a riqueza financeira não impede de entrar nele (Marcos 10:23-27).Humildes de espírito são aqueles que se esvaziaram de si mesmos e passaram a depender totalmente de Deus. Eles não buscam mais realizar-se com riqueza, com poder, com autoridade ou com qualquer outro recurso humano deste mundo. Depois de ouvirem a Palavra do Evangelho, tendo crido e tendo-se arrependido de seus pecados acharam a suficiência em Cristo. A felicidade dos humildes de espírito não provém de condições exteriores, mas é o seu estado de espírito interior que lhes condiciona a felicidade proporcionada por Deus no Seu reino (Lucas 17:20-21).

O compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750) que, pelas suas obras, demonstrou ser um grande conhecedor de Teologia e de Cristologia, escreveu uma famosa cantata muito conhecidas nas igrejas pelo nome de “Jesus, a Alegria dos Homens”. Mas o nome que ele mesmo deu a essa obra é: “Jesus, a Satisfação dos Anseios dos Seres-Humanos”. Aqueles que encontram em Cristo a satisfação de todos os seus desejos são os humildes de espírito. A estes, Jesus chama bem-aventurados, e lhes garante que estão de posse do reino de Deus (Mateus 25:34; Lucas 17:21).

V.4 – Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.

Quem são os que choram? São os que reconhecem o seu estado espiritual de dívida para com Deus e sabem que não podem resolvê-lo por si mesmos. Por isso lamentam-se diante d’Ele e pedem o Seu favor misericordioso, como fez o publicano que orava no templo, ao lado do fariseu (Lucas 18:13-14). Só Deus pode resolver a situação dos que choram, dos contritos, dos abatidos de espírito. É no Seu reino que eles recebem consolação. Isto Ele faz por meio de Cristo que veio, exatamente, para mudar essa situação (Isaías 57:15; 61:1-3; 66:2).

V.5 –Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.

Mansos são aqueles que se submetem ao governo de Deus, que não se opõem às Suas ordens, mas as acatam com espírito de humildade. A palavra usada por Mateus para referir-se aos mansos é “praus”, usada para descrever um animal domesticado ou amansado, como um cavalo que aprende a obedecer à voz do seu dono ou a atender ao comando das suas rédeas. Dois exemplos importantes de mansidão são apresentados na Bíblia: Moisés, no Velho Testamento que, por 40 anos, guiou um povo rebelde no deserto (Isaías 63:10). Apesar de tantas dificuldades que enfrentou, ele nunca se rebelou contra Deus (Números 12:3). O outro exemplo é Jesus, que se põe como modelo de humildade e de mansidão para todos nós no Novo Testamento (Mateus 11:29). Os discípulos de Cristo, portanto, devem mostrar mansidão até mesmo diante de desafios propostos pelos adversários (I Pedro 3:13-16).

Os mansos serão recompensados quando o Senhor eliminar da Terra os perversos (Salmo 37:1-11). Esta promessa deve ser entendida escatológicamente, conforme II Pedro 3:13 e Apocalipse 21:1.

V.6 – Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.

Justiça é o que não falta no reino de Deus (Mateus 6:33; II Pedro 3:13). No Seu reino, os que têm fome e sede de justiça encontram satisfação dos seus desejos, ao mesmo tempo que eles vivem praticando aqui a justiça, até verem a vitória final de Deus sobre o mal, e o estabelecimento concreto do Seu reino (Salmo 37).

Os que têm fome e sede de justiça vivem descontentes com a má administração da ordem deste mundo (Salmo 37:1-2) e anseiam por um estado de perfeição na presença de Deus, assim como a corsa sedenta suspira pela corrente das águas (Salmo 42:1). O seu grande anelo pelo reino de Deus e Sua justiça é nutrido pela esperança de que isto será uma realidade concreta (II Pedro 3:13).

V.7 – Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.

A misericórdia é atributo de Deus, intimamente ligada ao Seu amor e à Sua compaixão. Ela consiste em oferecer às Suas criaturas a atenção necessária em todas as suas necessidades, ainda mais, e especialmente, em se tratando de pecadores (Romanos 11:30-32; Lucas 6:35-36; I Pedro 1:3). Misericórdia e compaixão são conceitos estreitamente relacionados entre si. A misericórdia é o socorro prestado aos necessitados, por aqueles que têm compaixão, por aqueles que sofrem juntamente com o outro que sofre. O fato de Deus sentir tanta compaixão pela humanidade em estado de pecado foi que O levou a dar o Seu Filho Unigênito, encarnado como homem, experimentando o sofrimento do homem (Hebreus 4:15-16), baixando até à morte de cruz (Filipenses 2:8), a fim de resgatar-nos do cativeiro e da condenação do pecado (Marcos 10:45).

Aqueles que reconhecem ser indignos da misericórdia de Deus e que sem a Sua graça estariam irremediavelmente sob condenação, e que também procuram tratar o próximo do mesmo modo que Deus os tratou, estes são misericordiosos e, consequentemente, recebem em medida diuturna o prolongamento da misericórdia divina em suas vidas e no porvir. Isto confere com princípios vigentes no reino de Deus. Por exemplo: os que não usam de misericórdia serão julgados sem misericórdia (Tiago 2:13); os perdoadores serão perdoados, mas os que não perdoam não serão perdoados (Mateus 6:14-15); os humilhados serão exaltados e os exaltados serão humilhados (Mateus 23:12); quem quiser ser grande ou o primeiro, será servo de todos (Marcos 10:43-44). Veja Lucas 6:37-38.

V.8 – Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.

“Limpo” é tradução da palavra “katharos” do Grego, que também significa “puro”. Pureza de coração ou coração limpo é o estado interior, espiritual, que contrasta com o estado daquele que tem as mãos ou o corpo lavado com água, na lavagem ritual de purificação praticada pelos judeus (cf Marcos 7:3-4; João 2:6). Para os judeus, em geral, havia uma diferença muito grande entre as cousas purificadas e as não purificadas ritualmente. Jesus rejeita essas ideias ao tratar da verdadeira pureza, a pureza de coração. O coração representa o interior do homem, tanto o seu modo de pensar, como a sua conduta e os seus sentimentos. Os limpos de coração são aqueles que não apresentam duplicidade de propósito, aqueles que são íntegros, isto é, inteiros, que têm a vontade, as emoções e o intelecto bem coerentes e bem definidos, concentrados na direção de Deus (cf Salmo 24:3-5; 51:10). Mas todo este estado interior deve ser confirmado pelo modo de viver, pelas palavras e ações.

Esta bem-aventurança enfatiza a pureza interior em contraste com a aparência exterior. Ela é um desafio para todos nós, no sentido de que analisemos os verdadeiros motivos que nos levam a praticar todos os nossos atos, seja na igreja, seja na sociedade secular. Jonh Bunyan foi cumprimentado, certa vez, por um irmão que lhe disse na saída do culto: “O senhor pregou um sermão maravilhoso hoje”. Ele respondeu: “O diabo me falou isto quando eu estava descendo do púlpito”.

O privilégio de ver a Deus, isto é, de estar um dia na Sua presença é uma constante aspiração dos limpos de coração (Salmo 11:7; 17:15; I João 3:2; Apocalipse 22:3c-4).

V.9 – Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.

O caráter dos pacificadores tem como fundamento o estado de paz que eles têm com Deus. Ele é a fonte de onde provém a paz (I Tessalonicenses 5:23). Aqueles que estão ligados a Ele pelo vínculo da paz são identificados como Seus filhos. Estes são agentes promotores da paz, ao contrário dos que semeiam contenda entre os irmãos, cousa que Deus abomina (Provérbios 6:19b). Por estas características, os pacificadores são chamados de filhos de Deus.

O caráter de Deus, como Deus de paz, é revelado mais claramente no Novo Testamento do que no Velho Testamento, após a obra reconciliadora de Cristo na cruz (Efésios 2:14-18; II Coríntios 5:19-20). Depois de reconciliados com Cristo temos a promessa de paz (Romanos 5:1; Filipenses 4:7), e somos exortados a viver em paz com todos (Romanos 12:18; II Coríntios 13:11; Efésios 4:3; Colossenses 3:15; Tiago 3:18).

V.10 – Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. V.11 – Bem aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. V.12 – Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.

Jesus nunca enganou os Seus seguidores, prometendo-lhes uma vida fácil. Pelo contrário, Ele sempre os alertou com respeito a possíveis perseguições, injurias, calúnias e toda sorte de mal que adviriam do fato deles buscarem a justiça. A justiça consiste exatamente em se viver de acordo com os preceitos divinos. Isto produz uma diferença de comportamento tão grande entre os seres humanos, que chega a causar conflitos e consequentes agressões por parte daqueles que não compreendem e não aceitam os desígnios de Deus, contra aqueles que os admitem (Mateus 10:34-35).

Jesus morreu perseguido por causa da justiça. A passagem de Tiago 5:6, interpretada como se referindo a Jesus, quando comparada com I Pedro 3:18, diz isto. As advertências dos versos 11 e 12 que estamos estudando são confirmadas em I Pedro 3:13-17; II Timóteo 3:10-12. Sabemos pelo livro de Atos que os apóstolos foram perseguidos, presos, um deles martirizado(Atos 12:1-2), como também Estêvão, o diácono e evangelista (Atos 7:54-60). Muitos cristãos, nos primeiros séculos, foram jogados nas arenas de leões, queimados em estacas e em fogueiras, torturados de várias maneiras, tudo por ordem dos imperadores romanos, principalmente Nero e Diocleciano.

A perseguição religiosa é um dos fatos mais terríveis que se conhecem na história da igreja. Antes da Reforma Protestante, alguns célebres cristãos foram martirizados. Entre eles, João Huss foi queimado em estaca, na Bôemia, em 06 de março de 1415. Baltazar Hubmeyer sofreu o mesmo martírio em Viena, em 10 de março de 1528, e sua mulher foi afogada, pouco tempo depois, nas águas do Danúbio, em Viena. O motivo é que eles se manifestavam contra os ensinos e as práticas Igreja Romana de sua época.

Atualmente isto continua acontecendo, especialmente em países comunistas e muçulmanos, onde cristãos e, principalmente, missionários são impiedosamente torturados, assassinados, muitos deles mortos a ponta-pés, pauladas, cortados a facão, amarrados a árvores, enquanto veem seus filhos espancados até à morte. Tudo isto, por causa do nome de Cristo.

Mas na vida normal de todo dia, muitos cristãos verdadeiros continuam sendo perseguidos nos ambientes de trabalho, na sociedade, na família e dentro da própria igreja, porque dão testemunho da justiça (Mateus 10:34-36; I Pedro 4:4; Apocalipse 2:13). Os perseguidos por causa da justiça, todavia, são bem-aventurados e têm o aval de Cristo de que estão na posse do reino dos céus. Embora seja humanamente difícil imaginar esta situação que até parece um paradoxo, este é um caminho de glória, no fim do qual está proposto um grande galardão. Os sofrimentos da igreja, por causa de Cristo, são extensão dos sofrimentos d’Ele no Seu próprio corpo (cf Colossenses 1:24; I Pedro 4:12-14).

No Verso 12, Jesus lembra que os profetas também foram perseguidos no passado. Hebreus 11:37-38 menciona brevemente esses heróis da fé. O profeta apedrejado a que se refere esta passagem é Zacarias, não o escritor do livro, mas o filho do sacerdote Joiada (II Crônicas 24:21). O profeta serrado pelo meio, segundo a tradição judaica, foi Isaías, por ordem do rei Manassés. Este rei perverso arrependeu-se do seu mau caminho e Deus o perdoou. Sua história está em II Reis 21:1-18 e II Crônicas 33:1-20.

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