JESUS E A QUESTÃO DO HOMICÍDIO
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JESUS E A QUESTÃO DO HOMICÍDIO

ANDANDO COM JESUS

JESUS E A QUESTÃO DO HOMICÍDIO MATEUS 5:21-26

V.21 – Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. V.22 – Eu, porém, vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar : Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo.

Estes dois versos mostram a verdadeira interpretação espiritual dada por Jesus a respeito da Lei, em contraste com a interpretação errônea e tradicional dada pelos escribas, baseada no sexto mandamento da Lei de Moisés: “Não matarás”. O que se entendia por “matar” era somente o ato de tirar a vida de outra pessoa. Mas Jesus amplia muito esta interpretação. Ele contrasta o seu verdadeiro sentido com as perversões feitas no passado, perversões que minimizam o alcance da Lei dada por um Deus que não vê apenas o ato externo do derramamento de sangue da vítima, mas que analisa as intenções do coração do agressor. O julgamento do criminoso era feito por um tribunal local constituído de vinte e três anciãos nas cidades menores (Deuteronômio 16:16). Eles julgavam apenas a concretização do fato.

Mas Jesus leva os fatos até às suas raízes, ou seja, à ira, à hostilidade ou ao desdém de uma pessoa por outra. Para isto Ele mostra a Sua autoridade afirmando: “Eu, porém, vos digo”. Ele é Legislador e Juiz e pode dar o verdadeiro significado do mandamento e esclarecer o Seu alcance mais profundo.

Na língua Grega há duas palavras que significam “ira”. Uma delas é “thumós”, que se refere a um arroubo de emoção passageiro, que se ascende e logo se apaga, como um fogo de palha. A outra é “orgê”, ira duradoura, alimentada por um ódio de difícil extinção. Esta é a palavra usada por Jesus nesta passagem para referir-se à ira.

A ira dá lugar a insultos contra irmãos, que levam igualmente a julgamento. Por exemplo, quem insultar um irmão chamando-o de “raka”, estará sujeito a ser julgado pelo Sinédrio, de conformidade com o texto grego do versículo 22. “Raka” é palavra do Aramaico, transliterada para o Grego, e tem vários significados como: idiota, sem juízo, inútil, indigno. E quem lhe chamar “tolo” ou “imoral”, manchando-lhe a reputação ou mostrando-lhe desprezo, estará sujeito ao inferno de fogo.

Nesta passagem, “inferno” é tradução da palavra grega “geena” e se refere ao Vale dos Filhos de Hinom, ao sul de Jerusalém, onde era depositado e incinerado o lixo da cidade. Ali, também, no passado, era praticada a adoração do deus Moloque, com sacrifício de crianças queimadas (II Crônicas 28:3; 33:6). Posteriormente o rei Josias procedeu à destruição de todas essas cousas. Jesus usa a figura do Geena para mostrar a condenação daqueles que procedem de maneira indigna contra outro irmão. No Novo Testamento os apóstolos condenam a irascibilidade nas igrejas (Efésios 4:31; Colossenses 3:8; Tiago 1:20).

V.23 – Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, V.24 – deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.

Agora Jesus mostra como reparar os atos insensatos aludidos nos dois versos acima. Para isto Ele usa o exemplo de um irmão culpado de ofender outro irmão e, depois, vai ao Templo oferecer sacrifícios, como se nada tivesse acontecido. Para ele, parece que tudo está bem, mas Jesus mostra que a sua situação é extremamente perigosa. A sua tranquilidade não desfaz a queixa produzida no outro irmão. Ele entra no átrio do Templo e faz um certo percurso até chegar à balaustrada do pátio dos sacerdotes, aonde ele não tem permissão para entrar. Ali, enquanto espera chegar a vez da sua vítima ser pega e ser levada para o altar de sacrifício, ele se lembra de que o irmão carrega a desonra que ele lhe causou.

O ensino de Jesus é que um Deus Justo e Santo não pode aceitar a oferta de alguém que queira aproximar-se d’Ele nessas condições. Para ser aceito com a sua oferta, ele deve, antes, ir reconciliar-se com aquele irmão e, depois, voltar para fazer o sacrifício. É como está escrito em Tiago 4:8: “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, purificai o coração”.

V.25 – Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. V.26 – Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo.

Estes dois versos falam da urgência de resolver esta questão, enquanto o réu está com o adversário a caminho, a fim de que ele escape da condenação da Lei. A dificuldade de interpretação, aqui, concentra-se no “adversário” do verso 25. Quem é ele? Há duas posições mais correntes entre os intérpretes.

Uma primeira afirma que o adversário é o próprio Deus que atua como Legislador, Juiz, e Promotor. Neste caso, a lição é que não se deve comparecer à Sua Presença, em falta com a Lei, isto é, em dívida com outro irmão, como no caso dos versos 22 a 24. É urgente a reconciliação, como no caso de Lucas 12:58-59.

Este ensino remete ao fato de que o ofensor, além de tratar de uma disputa com um ser humano, envolvendo um tribunal e uma sentença aqui na Terra, tem a ver também com uma disputa, um tribunal e uma sentença superiores aos níveis humano e temporal. Assim, aquele que esquadrinha os corações não pode aceitar o culto de adoração de alguém ciente de que ofendeu o seu irmão, e não faz nenhum esforço, ou ache desnecessário reconciliar-se com ele. Isto significa que Deus está tanto ou mais ofendido quanto o irmão que recebeu ofensa.

A solução para aquele que está na posição de réu é o reconhecimento do pecado, o arrependimento, a humilhação, a confissão diante de Deus e a reconciliação com o irmão ofendido. É evidente que a reconciliação implica também em acerto de contas, caso o ofensor tenha causado prejuízo financeiro ao outro irmão, ou tenha-o lesado de qualquer outra maneira.

Em que pese o rigor da justiça divina, como ilustrada no verso 26, por ela também vem a garantia de perdão, porque Deus deu o Seu filho como propiciação a favor do pecador. Mas a reconciliação tem que ser feita.

A título de esclarecimento: O mundo bíblico reconhecia a prisão por causa de dívida, conforme relatado nestes versos 25 e 26 que acabamos de analisar. Confira também Mateus 18:31-35. Por isso, em Israel, quando o tribunal julgava um caso, a sentença tinha que ser cumprida com prisão e pagamento da dívida. O centavo referido no versículo 26 é uma moeda de pequeno valor chamada “Kodrantês”, equivalente a um quarto do valor do asse (assárion, no Grego) mencionado em Mateus 10:29, como o preço de dois pardais.

Uma segunda interpretação a respeito do “adversário”, diz que ele é o diabo. Ele pode criar uma demanda, reclamando diante de Deus por todos os que se encontram no Reino. Ele reclamou por Pedro, e Jesus o advertiu dizendo: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo”. De fato, depois disso, ele negou Jesus três vezes e estava em perigo de perder-se. Agora, nos versos 22, 29 e 30 de Mateus 5, Ele alerta sobre a condenação ao inferno a todos que cometem vários tipos de pecado.

Quando alguém se ira ou odeia seu irmão e o ofende de algum modo, ele passa a ser acusado por Satanás, que quer leva-lo à condenação eterna, por instrumentalidade da Lei. E se esse alguém prossegue carregando deliberadamente esse pecado, Satanás passa a ter o direito de lutar contra ele, utilizando-se da condenação da Lei. Entrar em acordo com o adversário significa, então, satisfazer a Lei, para que o adversário lhe dê trégua. Isto ele faz, recorrendo ao perdão de Deus e reconciliando-se com o irmão ofendido, pois “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (I João 1:9) e, “se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado (I João 1:7).

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