JESUS E A QUESTÃO DA VINGANÇA
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JESUS E A QUESTÃO DA VINGANÇA

MATEUS 5:38-42

V.38 – Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. V.39 – Eu, porém, vos digo: Não resistais ao perverso; mas a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; V.40 – e ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. V.41 – Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. V.42 – Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.

A lei do “olho por olho, dente por dente”, era conhecida entre os romanos por “Lex Taliones”, que pode ser entendida como Lei da Retribuição Direta. Mas ela já existia no código de leis mais antigo de que se tem notícia, o Código de Hamurabi, rei da Babilônia, que reinou entre 1792 e 1750 A.C. aproximadamente. Esta lei foi introduzida na legislação mosaica, para evitar exageros nos casos de retaliação (vingança) e para prevenir o agressor das consequências de um ato de insensatez (Êxodo 21:23-25; Levítico 24:19-20; Deuteronômio 19:21).É um caso semelhante à carta de divórcio dada à mulher repudiada para protegê-la dentro da sociedade. Jesus, porém, denunciou a ideia de retaliação controlada ou equitativa, rejeitando qualquer tentativa de vingança.

Nos tempos do Novo Testamento era permitido o pagamento em dinheiro por danos feitos a outra pessoa. Fontes rabínicas da época não fazem referência a casos de retaliação, mas Josefo afirma que o homem que mutilasse um outro, deveria ser mutilado do mesmo modo, a menos que o outro ficasse satisfeito com a indenização (antiguidades IV.VIII.35).

Os discípulos de Cristo são instruídos de modo a não se comportarem como os outros homens. Os exemplos de comportamento dados pelo Mestre nesta passagem são extremamente ilustrativos, vívidos, simples e práticos, mas é necessário critério para interpretá-los a fim de não cair no exagero da interpretação literal.

O ferimento na face direita (bofetada) significa qualquer insulto por mais ofensivo que seja e que nunca deverá ser respondido com outro insulto semelhante. Também não se deve guardar ressentimento por isto. A respeito da túnica e da capa, devemos lembrar o seguinte: a túnica era como uma camisa bem comprida que se vestia por baixo da capa. Esta última era uma peça que se vestia durante o dia e, à noite, servia de coberta para dormir. Esta, nunca podia ser retirada definitivamente de um devedor para pagar a dívida. A Lei obrigava o credor a devolvê-la de noite ao devedor para que ele pudesse agasalhar-se (Êxodo 22:26-27).

Nesta passagem Jesus está ensinando que o cristão não deve estar à procura de seus direitos, exigindo o cumprimento da lei a seu favor. É preferível abrir mão dos direitos do que entrar em litígio.

Quanto ao andar duas milhas ao invés de uma, convém lembrar que a Palestina, nos tempos de Jesus, era ocupada pelos romanos. E, segundo uma regra muito antiga que já vinha de outros países, qualquer soldado do país dominante podia exigir serviços dos cidadãos nativos do país dominado. É o caso de Simão Cireneu, que foi obrigado a levar a cruz de Cristo (Mateus 27:32). Jesus ensina aqui, que os seus discípulos não devem aceitar com insatisfação as sobrecargas de trabalho impostas pelos superiores, mas devem ficar contentes por poder servir, fazendo mais do que é esperado. Cousa semelhante pode acontecer em várias situações da vida, em que se deve sentir alegria de servir ao próximo.

O ensino de Jesus a respeito de dar a quem pede e de não voltar as costas ao que deseja emprestado é baseado em preceitos de misericórdia estabelecidos pela Lei (Deuteronômio 15:7-11). Ele admoesta os seus seguidores a fazerem mais do que a Lei exige, dando a quem pede e não evitando o que deseja que lhe empreste. Pode-se argumentar que existem muitos que não merecem ser tratados com generosidade. Mas não é o mérito que deve determinar a decisão. Se alguém não merece ser ajudado, o outro também não merece ter condições de prestar ajuda. O Cristão nunca deve questionar o mérito daquele que pede. Antes deve procurar algum meio de ajudá-lo. O nosso sentimento de amor, às vezes, pode falhar, mas a atitude do cidadão do reino dos céus, diante dessas circunstâncias, deve ser controlada pelas necessidades do próximo e não pelo mérito ou pelo direito dele pedir ou não. Uma consciência bem esclarecida pode decidir como ajudar o próximo. Mas é o amor que determina a necessidade de servi-lo.

Todavia é justo usar o critério de consistência com o dever para com a família (I Timóteo 5:8), para com a justiça e a caridade. Para a igreja, o apóstolo ordena não ajudar pessoas aptas para o trabalho, mas que querem viver às custas dos irmãos (II Tessalonicenses 3:10-12).Dar a pessoas reconhecidamente preguiçosas é encorajá-las à ociosidade e sustentar a sua indolência à custa de irmãos laboriosos. Todavia havendo irmãos necessitados deve-se atendê-los sem tratá-los com usura (Lucas 6:38).

As passagens paralelas sobre a vingança de Mateus 5:38-42 e de Lucas 6:27-31 e sobre o amor aos inimigos (Mateus 5:43-48; Lucas 6:32-36) têm o mesmo conteúdo, embora em ordem diferente. Mateus, porém, registra que Jesus sempre focalizou algum dos dez mandamentos para desenvolver os Seus ensinos.

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