O DESAFIO DE AMAR OS INIMIGOS - Mateus 5: 43-48
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O DESAFIO DE AMAR OS INIMIGOS - Mateus 5: 43-48

Pensar em Jesus fazendo alusão à maldade humana é complicado, uma vez que ele deu a sua vida por todos, indistintamente, estando, obviamente, incluídos aqueles que Jesus mesmo caracterizou como maus.

Árduo e penoso é o que Jesus desejou transmitir aos discípulos no discurso que fez e que Mateus registrou dentro do contexto do Sermão da Montanha, capítulo 5, versículos 43 a 48, objeto desta reflexão. Isto dizemos porque Jesus mostrou aos ouvintes a necessidade de amarem a seus inimigos.

A palavra empregada por Mateus e traduzida para o português como inimigos aparece 39 vezes em o Novo Testamento, sendo 20 delas inseridas nos escritos do apóstolo João. Jesus vem, agora, nos dizer que devemos amar a nossos inimigos, contrariando, desta forma, o pensamento da época. Bom é destacar que o Velho Testamento não diz explicitamente: odiarás o teu inimigo, mas a ética judaica, que ensinava cuidar dos velhos, viúvas, crianças e estrangeiros lecionava e aceitava o ódio aos inimigos. Jesus mostra-lhes, naquele momento, que a ética cristã era contrária a qualquer tipo de ódio, mesmo aquele destinado aos inimigos.

Amai a vossos inimigos acena para o tipo de amor inteligente, que compreende a dificuldade e esforça-se em libertar o inimigo do seu ódio. Tal amor é parente da atitude amorosa de Deus para com os homens rebeldes, e portanto, é uma prova de que os que amam assim são verdadeiros filhos de Deus. Foi isso que Jesus desejou nos mostrar, quando disse: eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai Celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuva sobre justos e injustos. Mateus 5: 44 e 45.

Naturalmente, o leitor amigo entende que para a igreja cristã , assim como para o Filho de Deus, consoante registro em Aos Hebreus 1:9 que diz: amaste a justiça e odiaste a iniquidade, é correto odiar a maldade e os atos maus, detestando, como podemos ler em Judas 23, até a roupa contaminada pela carne, qual seja, a imoralidade dos que usavam aquelas roupas e que apregoavam ensinamentos libertinos. Dentro da ética cristã, no entanto, aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora está nas trevas (I Jo 2:9).

O mandamento radical de Jesus, no sentido de amarmos os nossos inimigos, põe os discípulos em harmonia com a atuação de Deus para com os homens bons e maus.

A argumentação de Jesus é consistente, uma vez que ele mostra, aos ouvintes e a todos nós, que amar àqueles que nos amam é compreensível e natural, estando os seus ensinamentos, então, em um patamar mais elevado, qual seja, é exigido dos cristãos que ajam além do natural, que façam aquilo que não seria esperado e natural fazer. Ser leal e amoroso aos que nos tratam bem era tão fácil que até publicanos e gentios o faziam.

Vale ressaltar que os publicanos eram realmente funcionários que ofereciam em leilão os impostos de diversas regiões de um país. Os funcionários subordinados vendiam novamente o direito de cobrança aos agentes locais, que exploravam ao máximo o povo. Estes cobradores eram considerados traidores pelos judeus e seu nome representava tudo que é vil. Esses publicanos, amavam aos que os amavam, logo, perguntava Jesus: se amardes os que vos ama, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?

Os cristãos, então, são considerados como filhos do vosso Pai que está nos céus, quando personificam o amor dEle. A amor de Deus não discrimina, mas derrama-se sobre amigos e inimigos igualmente. Este amor não é motivado pelos nossos méritos e sim governado pelo próprio caráter de Deus, que é sempre de autonegação e de autodoação. O amor de Deus procura relacionar-se com amigo ou inimigo, buscando o seu bem, sem perguntar pelo custo.

Jesus, ao destacar essa nova orientação, surge com uma frase que tem sido responsável pela errônea doutrina do perfeccionismo, qual seja: portanto, sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celeste. Sabemos que o homem nunca poderá ser perfeito como Deus o é, e o próprio Jesus assim o ensinou muito bem ao dizer que quando tivermos feito tudo o que for possível ainda seremos servos inúteis por havermos feito somente o nosso dever. O ouvinte pode conferir em Lucas 17:10.

O comentarista Torrey parece certo ao supor que a palavra aramaica usada por Jesus aqui teria um sentido ativo, cuja significação seria: inclusivos, em vossa boa vontade, tal como vosso Pai vos inclui a todos. Portanto, sede vós pois perfeitos, escreve ele, acena que os discípulos estavam sendo ensinados a mostrar gentileza para com todos os homens, tal como o Pai Celestial que não faz exceção. A perfeição requerida por Jesus não é o legalismo dos fariseus mas uma compreensão mais profunda e radical das intenções da lei. Jesus não apenas predisse perfeição futura, mas ele sustentou que a perfeição de Deus é o ideal ou o requisito agora.

Corrie Ten Baum, ou tia Corrie, tinha sofrido no campo de concentração barbaramente. Sua irmã, enfraquecida pela doença, fome e frio, tinha sido espancada até a morte, por um algoz nazista. Quando saiu do local de martírio, Corrie começou uma série de viagens em todo o mundo, pregando o amor de Deus por ela vivenciado apesar da dor e do sofrimento enorme pelo qual passara. A guerra havia terminado, as pessoas gostavam de ir ao encontro daquela missionária amorosa e repleta de experiências para contar. Um dia, pregava em uma igreja a respeito do perdão e do amor de Deus, Terminado o culto, pessoas colocaram-se em fila para cumprimentá-la e abraçá-la. Entretida, a missionária não reparou que, bem à sua frente, estendendo-lhe a mão e com um sorriso no rosto, estava o algoz nazista que havia matado a sua irmã enfraquecida. Enquanto estendia-lhe a mão, aquele homem a chamava, irmã Corrie.

Tia Corrie ficou desnorteada. Acabara de pregar sobre o perdão e, encarando aquele homem, percebia que não tinha forças para perdoá-lo e nem podia estender-lhe a mão.

Confrontada, assim, com as suas próprias palavras, orou ao Senhor, eu não posso, ajuda-me! Imediatamente, sentiu que seu braço se erguia em direção à mão ainda estendida. Sim, ela era fraca em seu perdão ao inimigo, mas Jesus era forte e podia ajudá-la a vencer aquele obstáculo. A mão que estendeu ao oficial foi a mão do poder de Cristo. Naquele instante, tia Corrie entendeu o que Jesus estava querendo nos dizer. Que seja esta, também, a nossa experiência de vida.

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