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Solange Lívio

CONSELHOS SÁBIOS: A Instrução Paterna – Conselhos aos Filhos (Provérbios 1 a 7)

Provérbios de Salomão é o título do livro da Bíblia que ocupará a nossa atenção em quatro estudos consecutivos: este e mais três. Foi designado como “Livro da Sabedoria” pelos antigos eruditos israelitas e cristãos. A atribuição a Salomão não significa que ele tenha escrito todo o livro, porém que é considerado como o autor principal. Outros dois são citados pelos nomes: Agur e Lemuel. Além destes, há os que são mencionados como “Sábios”. A última seção do livro é anônima.

O livro de Provérbios, da Bíblia, não é uma coletânea de ditados populares, produzidos pela observação humana acerca dos acontecimentos da vida. Seu conteúdo é formado por ditos e sentenças resultantes da sabedoria hebraica que faz das verdades divinas as normas para a vida diária dos filhos de Deus. Contrastando com a sabedoria falaciosa do mundo, o livro de Provérbios apresenta no capítulo 8 a verdadeira fonte de toda a sabedoria, encontrada na pessoa de Jesus Cristo, aquele que é “o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6) e o Verbo que estava com Deus no princípio, por meio de quem foram feitas todas as coisas (João 1:1-4).

O livro (1:1-6) se inicia fazendo um chamamento ao leitor para que aprenda a sabedoria e a instrução, cujo significado ali é de disciplina. A palavra empregada é a mesma traduzida como “correção” em Hebreus 12:5. Trata-se, portanto, de um apelo que visa à educação espiritual de quem se tornou filho de Deus.

Há um lema recorrente no livro de Provérbios, uma espécie de divisa, que indica o fundamento dos seus ditos e a base para uma prática autêntica dos seus ensinamentos: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (1:7; 9:10). Uma boa compreensão do conteúdo do livro depende de igual compreensão deste lema.Para efeito didático, podemos dividi-lo em três partes: temor do Senhor, princípio e sabedoria.

Temor do Senhor – Saber que não significa medo de Deus é muito pouco para um conceito de tamanha relevância. O temor do Senhor implica em respeito e reverência a Deus, mas também em desejo de conhecê-lo – a Ele e à sua vontade. Diz o texto: “então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus” (2:5). Como resultado, deverá haver obediência e confiança, em submissão à Sua autoridade e majestade: “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento” (3:5), “Não sejas sábio aos teus próprios olhos: teme ao Senhor e aparta-te do mal” (3:7). O temor do Senhor leva o homem a querer afastar-se do pecado, por amor e respeito a Deus. Ele passa a se agradar daquilo que agrada a Deus: verdade, justiça, retidão.

Princípio – Abrange dois sentidos: começo, origem ou ponto de partida; também a essência de uma teoria, de um preceito.

Sabedoria – Aquela que Deus dá aos retos e sinceros; que só pode ser adquirida pela palavra que sai da Sua boca: “Porque o Senhor dá a sabedoria, da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos, e escudo para os que caminham na sinceridade” (2:6-7).

Assim, o temor do Senhor, refletido em respeito, obediência e confiança em Deus, é o começo e a essência da sabedoria. É o pré-requisito e o meio de acesso à verdadeira sabedoria, que está concentrada em Deus e é oferecida por Ele aos retos e sinceros. Sem o temor do Senhor, a sabedoria sequer começa. Isaías 11:1-5 nos oferece uma bela descrição desta verdade na pessoa de Jesus Cristo, o Messias, sobre quem repousa o Espírito do Senhor – Espírito de sabedoria, de entendimento, de conselho, de fortaleza, de conhecimento e de temor do Senhor. A presença atuante do Espírito do Senhor faz com que a justiça seja o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins.

Avisando-nos, então, desde o início de que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, o livro de Provérbios nos leva a conhecer os caminhos de Deus para a nossa conduta na vida diária. Para tanto, é necessário acatar a advertência que faz: “Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará a tuas veredas” (3:6).

Assim acontecendo, até os simples, palavra que designa aqueles que se deixam influenciar por qualquer pessoa e que são facilmente enganados ou seduzidos, poderão se tornar prudentes (1:4) e libertos do caminho do mal, do homem que diz coisas perversas (2:12) porque, diz Provérbios, “O prudente vê o mal, e esconde-se; mas os simples passam adiante e sofrem a pena” (22:3); “O simples dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta para os seus passos” (14:15).

Pelo uso da figura de um relacionamento familiar, na forma de instrução paterna ou conselhos de um pai para o filho, surgem os primeiros ensinamentos de Provérbios: “Filho meu, ouve o ensino de teu pai, e não deixes a instrução de tua mãe” (1:8). A exortação “ouve” tem o significado de “obedece”, como frequentemente acontece no Antigo Testamento, do mesmo modo que “ensino”, ou “instrução”, equivale à lei dada por Deus e que deve ser transmitida pelos pais aos filhos.

De modo geral, os conselhos encontrados nesta seção do livro são advertências contra os apelos sedutores dos pecadores: “Se os pecadores querem seduzir-te, não o consintas” (1:10). O convite que eles fazem pode ser atraente, por oferecer rápida obtenção de bens (1:13), porém é um caminho de perdição que os leva a fazerem mal aos outros e a si mesmos (1:16,18,19). Eles armam ciladas para os outros, mas por fim eles próprios cairão na rede que prepararam, visto que “os néscios são mortos por seu desvio, aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição” (1:32). Estes conselhos são reiterados, em síntese, por Jesus em Lucas 9:25, ao dizer: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se, ou a causar dano a si mesmo?”

Prosseguindo com os conselhos ao filho, o pai faz uma exaltação à excelência da sabedoria, ressaltando o seu efeito protetor e os benefícios que ela produz à vida dos que a buscam como a prata e a procuram como tesouros escondidos (2:4). Um dos benefícios que a sabedoria assegura é o de guardar o homem que a possui de vir a se envolver com a “mulher adúltera” (2:16), significando a “mulher estranha” – aquela que está fora do relacionamento certo. Ela deixou “o amigo da sua mocidade” (2:17), ou seja, o seu marido, o companheiro íntimo, já que este termo era usado para designar o cônjuge de alguém, e tornou-se a aventureira que seduz com suas palavras lisonjeiras, mas os seus caminhos se dirigem para a morte (2:18-19;7:26-27). Aquele em cujo coração entrou a sabedoria (2:10) não apenas repudiará o caminho do mal (2:12), como passará a andar pelo caminho dos homens de bem e das veredas do justo (2:20), uma vez que o conhecimento resultante da sabedoria será agradável à sua alma (2:10). A sabedoria, esta que vem de Deus, concede firmeza moral a quem a possui. Por isso, o conselho paterno continua a dizer: “Meu filho, não te esqueças dos meus ensinos” (3:1), os ensinos da lei divina.

Confiança e obediência a Deus representam a tônica das instruções seguintes. Em guardar os seus mandamentos, o homem encontra a fonte de vida longa e paz (3:2). Algumas qualidades de caráter devem ser conservadas, como a benignidade e a fidelidade. Elas são também atributos de Deus e devem reger o relacionamento entre os homens e do homem com Deus (3:4). Ao lado da fidelidade está a verdade, pelo que o Senhor é chamado Fiel e Verdadeiro em Apocalipse 19:11. A importância dessas qualidades para uma vida pautada pela sabedoria de Deus é vista pelo seguinte conselho paterno: “ata-as ao teu pescoço; escreve-as na tábua do teu coração” (3:3).

Na Bíblia, o coração representa a sede dos sentimentos e impulsos do homem. Jesus tornou isso claro quando disse que “o homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:45). Essa é a razão para que os mandamentos do Senhor estejam guardados no coração, no mais íntimo do coração (4:21), e não simplesmente na consciência intelectual. Então, o livro de Provérbios nos recomenda: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida” (4:23).

A partir do coração também se estabelece o contraste entre o caminho do justo, que guarda os mandamentos do Senhor, e o do ímpio que, como louco, despreza a sabedoria e o ensino (1:7). Assim diz Provérbios: “O caminho dos perversos é como a escuridão: nem sabem eles em que tropeçam.”, “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (4:18-19).

Consulta Bibliográfica

BÍBLIA VIDA NOVA. 16ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1992.

JONES, W. A. Rees & WALLS, Andrew F. In, O Novo Comentário da Bíblia. 2ª ed. Vol. II São Paulo: Vida Nova, 1963.

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