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NÚMEROS II – UMA TRÁGICA REBELIÃO (Números 12 a 25)

INTRODUÇÃO

A narrativa dramática é uma característica do livro de Números sendo isso fator relevante na transmissão da mensagem do texto [1]. Em mais de um lugar, Moisés, autor do livro, registra a murmuração contínua e a rebelião do povo de Israel contra Javé. Ele registra também as várias vezes em que Deus mostrou graça e misericórdia para com o povo bem como as vezes em que este manteve-se indiferente, ingrato e sistematicamente rebelde.

O episódio narrado nos capítulos 13 e 14 de Números, e que consideraremos nesta oportunidade, pode ser visto como um divisor de águas na jornada dos israelitas rumo à Terra Prometida. Eles têm a oportunidade de pela primeira vez entrar na Terra Prometida, mas cometem um grande erro e não o fazem. É o que veremos a seguir neste estudo.

1. OS DOZE ESPIAS E A MUDANÇA DE RIUMO EM PADÃ (Nm 13 e 14)

Ao se aproximarem da fronteira de Canaã pelo deserto de Parã, o povo acampa em Cades e Moisés envia doze homens, cada um representando uma das tribos de Israel, para observar a terra durante 40 dias. O propósito daquela missão não era trazer informações de inteligência que permitissem ao povo decidir se iriam ou não entrar em Canaã, mas sim, definir a estratégia de como iriam fazê-lo. Conquistar Canaã era o plano de Deus para o povo de Israel e isso não estava em discussão.

Ao retornarem, todos os doze foram unânimes em descrever as virtudes da terra, mas dez deles foram extremamente negativos em termos das dificuldades que teriam que enfrentar no processo de conquista. Eles expressaram temor quanto à estatura dos cananeus e quanto à habilidade dos israelitas em vencerem uma guerra contra eles.

Esses dez espias então promovem um movimento entre o povo levando os israelitas a desistirem de cumprir o plano de Deus quanto a conquistar Canaã naquela oportunidade.

Apenas dois dos doze espias, Josué e Calebe, foram positivos quanto a seguirem adiante, mas eles foram voto vencido. Este episódio, resultado de rebeldia e da falta de confiança em Javé, ocasionou uma mudança de rumo radical na jornada do povo. Apesar de estarem perto da fronteira de Canaã, Deus fez com que o os israelitas peregrinassem mais 38 anos pelo deserto antes de entrarem definitivamente na Terra Prometida.

Dessa forma, toda aquela geração rebelde, exceto os dois espias que foram positivos quanto a avançarem, foi substituída por outra. A começar pelos dez espias dissidentes que de imediato, “morreram de praga perante o Senhor”.

A geração que saiu do Egito foi uma e a que entrou na terra de Canaã, foi outra. Os dois espias, Josué e Calebe foram os únicos israelitas da primeira geração que saiu do Egito, que puderam entrar em Canaã.

Quanto analisamos com atenção a atitude dos espias nota-se que todos os doze foram expostos às mesmas informações. Porém, apenas dois tiveram a visão de futuro correta. Esses viram o desafio à frente levando em conta que se tratava de um plano de Deus, o mesmo que os havia liberto do Egito, os fizera atravessar o Mar Vermelho a pé enxuto e os guiara sustentando-os no deserto até então, com água e alimento. Por outro lado, os dez, e o restante do povo, viram a tarefa apenas sob a perspectiva da pouca ou nenhuma habilidade deles em vencer a luta. Desconsideraram completamente que Javé, o Senhor dos Exércitos, tinha um plano e que Deus era maior do que os gigantes cananeus que habitavam a terra.

O julgamento de Javé sobre os israelitas, fazendo-os peregrinar mais 38 anos, foi baseado em dois fatos:

a. Aquela geração, que havia testemunhado pessoalmente os feitos de Deus foi incapaz de confiar que Javé a faria vencedora novamente.

b. Esta seria a décima vez que o povo demonstrava incredulidade e rebelião desde que saíra do Egito há cerca de quase dois anos [2].

Aquela situação parecia ser a gota d’água. Para cada um dos 40 dias em que os espias estiveram na Terra de Canaã, o povo peregrinaria um ano no deserto (Nm 14.33-34).

2. CONCLUSÕES

Das inúmeras lições que podemos tirar desse texto gostaria de destacar o papel dos dois espias nesse episódio.

a. Atitude: os doze estiveram expostos às mesmas informações, mas somente dois tiveram a visão do plano de Deus para o povo. Somente esses dois tiveram atitudes positivas. Somente eles tiveram foco na solução, que Deus estaria com eles na luta, recusando-se a colocar o foco no problema, ou seja nas dificuldades da batalha.

b. Base: a visão deles estava baseada nas promessas de Deus e no plano que Javé estabelecera para o povo de Israel. Da mesma forma que hoje, a visão do crente pode ser mais eficaz se tiver como base a fé e a busca da vontade de Deus.

c. Capacidade: os dois espias estavam confiantes que os israelitas teriam a capacidade necessária para a conquista, não exatamente por eles próprios, mas pelo poder da presença do Senhor dos Exércitos entre o povo. Nos dias de hoje o crente deve buscar capacitar-se para o serviço do Senhor não pelas suas virtudes, mas pelo poder do Espírito Santo de Deus em sua vida.

d. Determinação: confiados nas promessas de Javé os dois espias estavam determinados a seguir adiante. Eles sabiam que visão sem ação é apenas sonho. Sabiam que apesar do poder de Deus eles como povo teriam que fazer a parte deles.

Finalizando, gostaria de concluir este estudo dizendo que qualquer que seja o tamanho do nosso inimigo, problema ou desafio, Deus é maior. Diante desse fato, o que fazer? Seguir com Ele ou dar as costas e fugir?

Que possamos ter a atitude correta, baseando nossa visão nos planos de Deus para a nossa vida. E que possamos ter a capacitação e a determinação para seguir adiante em nossa jornada, seja como indivíduos ou como igreja, rumo à Terra Prometida.

 

Bibliografia:

[1] “Analysis and Synthesis of the Book of Numbers” Frank DeCanio The Biblical Studies Foundation

[2] “From Creation to the Cross” “Lesson 14 - Israel's Failure at Kadesh Barnea” Robert L. Deffinbaugh, Th.M. The Biblical Studies Foundation

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