No capítulo 9 de Marcos vamos aprender sobre modelos de espiritualidade. O importante é sabermos que o homem é um ser religioso: o homem tem sede do Eterno porque Deus mesmo colocou a eternidade no coração do homem. O homem é um ser confuso espiritualmente. Saiba que só há duas religiões no mundo – a revelada e aquela criada pelo próprio homem. O cristianismo é a revelação que o próprio Deus faz de Si mesmo e do Seu plano redentor. O homem é um ser que idolatra a si mesmo. A religião que prevalece hoje é antropolatria; o homem tornou-se o centro de todas as coisas.
Vamos estudar sobre a transfiguração. A espiritualidade do monte – êxtase sem entendimento (Mc 9:2-8). Observe que entre o capítulo 8 e 9 de Marcos existe uma transição, pois, no capítulo anterior, Cristo falou da cruz e agora, Ele revela a glória. O caminho da glória passa pela cruz.
Pedro, Tiago e João sobem ao monte da Transfiguração com Jesus. A mente dos discípulos estava confusa e o coração fechado. Eles estavam cercados por uma aura de glória e luz, mas um véu lhes embaçava os olhos e tirava-lhes o entendimento.
Os discípulos andam com Jesus, mas não conhecem a intimidade do Pai (9:28,29) – Jesus sobe ao monte para orar. Sua motivação era estar na presença do Pai. A oração era o oxigênio da sua alma. Repare que o todo o ministério de Jesus foi regado de intensa e perseverante oração. Os discípulos, diferentes de Jesus, não sentem necessidade nem prazer na oração: eles estão no monte a reboque.
Os discípulos estão diante da manifestação da glória de Deus, mas em vez de orar, eles dormem (Lc 9:28,29) – os discípulos contemplam quatro fatos milagrosos: a transfiguração do rosto de Jesus, a aparição em glória de Moisés e Elias, a nuvem luminosa que os envolveu e a voz do céu que trovejava em seus ouvidos. Lá estava o Deus trino, Moisés e Elias, o maior legislador e o maior profeta; lá estavam Pedro, Tiago e João, os apóstolos mais íntimos de Jesus.
Atente para o fato de que os apóstolos não discerniram a centralidade da Pessoa de Cristo. Os discípulos estão cheios de emoção, porém vazios de entendimento; querem igualar Jesus a Moisés e Elias; não discerniram a divindade de Cristo. Onde Cristo não recebe a preeminência, a espiritualidade está fora de foco.
Deus corrigiu a teologia dos apóstolos, quando disse: “Este é o meu filho, o Meu eleito; a Ele ouvi”. Eles não discerniram a centralidade da missão de Cristo. A agenda daquela conversa era a cruz: a cruz é o centro do ministério de Cristo.
A morte de Cristo nos trouxe vida e libertação; eles não discerniram a centralidade de seus próprios ministérios (9:5); eles disseram: “bom estarmos aqui”; eles queriam a espiritualidade da fuga, do êxtase e não do enfrentamento. Eles estão envolvidos por uma nuvem celestial, mas têm medo de Deus; eles se encheram de medo a ponto de caírem de bruços; eles se prostam não para adorar, mas por temer.
A espiritualidade do vale – discussão sem poder (9:9-29) – os nove discípulos que não estavam com Jesus no monte da Transfiguração estão no vale, cara a cara com o diabo, sem poder espiritual, colhendo um grande fracasso. Algumas lições:
No vale há gente sofrendo o cativeiro do diabo sem encontrar na igreja solução para o seu problema (9:18); um pai desesperado e seu filho sendo destruído. No auge do desespero o pai corre para os discípulos de Jesus em busca de ajuda, mas eles estavam sem poder. Como igreja temos oferecido resposta para uma sociedade desesperançada e aflita?
No vale há gente desesperada precisando de ajuda, mas os discípulos estão perdendo tempo, envolvidos numa discussão infrutífera (9:14-18). Eles estavam perdendo tempo com os inimigos da obra em vez de fazer a obra (9:16). O mundo perece enquanto a igreja está discutindo.
No vale, enquanto os discípulos discutem, há um poder demoníaco sem ser confrontado (9:17,18). Atente para os dois extremos perigosos que precisamos evitar no trato dessa matéria: subestimar o inimigo (não negue a existência e a ação do diabo); superestimar o inimigo (gente que só fala no diabo; pregam mais sobre exorcismo do que sobre arrependimento). O poder que estava agindo no vale estava em ação na vida daquele menino e era assombrosamente destruidor (9:18,22). O poder maligno em ação no vale atingia as crianças (9:21,22). O diabo não poupa nem mesmo as crianças; o poder maligno em curso age com crueldade.
No vale os discípulos estão sem poder para confrontar os poderes das trevas (9:18). Por que os discípulos estão sem poder? Os discípulos não oraram (9:28,29). Não há poder espiritual sem oração. Os discípulos não jejuaram (9:28,29). Quando jejuamos, estamos dizendo que dependemos totalmente dos recursos de Deus. Os discípulos tinham uma fé tímida. A fé não olha para as adversidades, mas para as infinitas possibilidades de Deus.
A espiritualidade de Jesus (9:30,31) – a transfiguração foi uma antecipação da glória, um vislumbre e um ensaio de como será o céu (Mt 16:18). Transfigurar era uma mudança que procede de dentro. A espiritualidade de Jesus é fortemente marcada pela oração (9:28). O rosto de Jesus transfigurou. A glória de Deus precisa brilhar em nós e resplandecer por intermédio de nós. As vestes de Jesus resplandeceram de brancura; as nossas vestes revelam o nosso íntimo mais do que cobrem o nosso corpo.
A oração de Jesus no monte evidencia duas verdades: na transfiguração, Jesus foi consolado antecipadamente para enfrentar a cruz; em resposta à oração de Jesus, o Pai confirmou o Seu ministério.
A espiritualidade de Jesus é marcada pela obediência ao Pai (9:30,31) – a cruz não era uma surpresa, mas uma agenda; Ele foi para a cruz porque o Pai o entregou por amor; a verdadeira espiritualidade implica obediência.
A espiritualidade de Jesus é marcada por poder para desbaratar as obras do diabo (9:25-27). O ministério de Jesus foi comprometido com a libertação dos cativos. Para Jesus não há causa perdida nem vida irrecuperável.
Analisemos os valores absolutos do Reino de Deus (Mc 9:33-50).
Saiba que no Reino de Deus não há espaço para o amor à preeminência (9:33,34) – os discípulos discutem quem é o maior dentre eles; entenda que o orgulho ainda é um dos pecados mais comuns incrustados na natureza humana; merece destaque o que Salomão nos diz em provérbios: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv 16:18). A Bíblia nos diz que aquele que se exalta será humilhado, mas o que se humilha será exaltado.
No Reino de Deus ser grande é ser servo (9:35) – no Reino de Deus a pirâmide social está invertida; o maior é o menor, o que tem mais preeminência é o servo de todos; o único estandarte de grandeza erguido por Cristo é a bandeira da humildade.
No Reino de Deus, os menores são absolutamente importantes (9:36,37) – ser grande no Reino de Deus é cuidar daqueles que são os menos valorizados, daqueles que são mais carentes e mais necessitados.
No Reino de Deus, a intolerância exclusivista não encontra guarida (9:38-41) – há muitos que idolatram a sua denominação e sua estrutura eclesiástica a ponto de não verem nenhum mérito nos outros segmentos que servem a Deus. Jesus conclui com o exemplo do copo d’água, que era o sinal mínimo de hospitalidade, que podia ser dado até mesmo a um inimigo (Pv 25:21).
O Reino de Deus exige renúncia de tudo aquilo que nos afasta da santidade (9:42-48) – o Reino de Deus é um reino da santidade; aqueles que vivem na prática do pecado jamais entrarão nele. Jesus usa três figuras – olhos, mãos e pés; Jesus não está recomendando a mutilação ou uma cirurgia física literal; o que Ele está ensinando é que devemos ser radicais na remoção de qualquer obstáculo que se interpõe em nosso caminho de entrada no reino; essa erradicação pode ser uma intervenção cirúrgica dolorosa como se fosse a amputação de um membro do corpo. Muitas vezes precisamos extirpar algum hábito, prazer, renunciar a alguma amizade e separar-nos de algo que havia se tornado uma parte da nossa própria vida; a cirurgia precisa ser radical; na luta contra o pecado, o crente tem de lutar duramente; acobertar o erro nunca leva alguém à vitória (1 Co 9:27).
O Reino de Deus revela que existe uma condenação eterna para aqueles que rejeitam o caminho da santidade (9:49-50) – o inferno não é uma figura mitológica, mas uma realidade solene
Jesus foi quem mais falou sobre o inferno. O inferno é descrito claramente como o lugar onde o fogo jamais se apagará. Estes versículos de Marcos são os mais difíceis de serem interpretados; Jesus usou três expressões fortes – cada um será salgado com fogo (9:49); o sacrifício judaico deveria ser salgado antes de ser oferecido a Deus no altar; a adição do sal tornava o sacrifício agradável a Deus. Esse fogo fala de purificação e perseguição. O discípulo é aquele que é purificado do mal e suporta o fogo da perseguição por amor a Jesus
Em segundo lugar, bom é o sal, se o sal vier a tornar-se insípido, como lhe restaurar o sabor? (9:50); sal preserva e dá sabor. O sal poder perder o sabor e tornar-se insípido. O mundo está em estado de decomposição: sem a presença da igreja, a sociedade entraria em estado de putrefação moral. O cristão é o antisséptico do mundo. Tende sal em vós mesmos e paz uns com os outros (9:50); Jesus aqui está dizendo que devemos buscar santidade e amor; devemos ter uma relação certa com Deus e com os homens; “Discípulos que têm sal em si mesmos e se deixam salgar por Deus e para Deus, também vivem em paz entre si. Entretanto, quem foge da luta consigo mesmo está sempre brigando com os outros” – Adolf Pohl.
Bibliografia:
1) Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal – CPAD – 2003
2) Bíblia Brasileira de Estudo – Editora Hagnos – 2016
3) Bíblia de Estudo da Reforma – Sociedade Bíblica do Brasil – 2017
4) Bíblia Shedd – Antigo e Novo Testamento – Edições Vida Nova – 2007
5) Comentário Expositivo do Novo Testamento – volume 1 – Hernandes Dias Lopes – Editora Hagnos - 2019
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