Caro leitor:
Com os muros da cidade de Jerusalém construídos e dados os primeiros passos para a consolidação da vida nacional do povo de Israel, parece que Deus decide mobilizá-los para uma recarga de baterias, sob a forma de compromissos espirituais. Sem isso, eles não estariam prontos para governarem-se. Continuavam as intrigas internas, as práticas éticas erradas, a falta de um maior compromisso com as coisas de Deus e outras questões, o que mostrava a necessidade de uma renovação espiritual que viesse a estabelecer um sentido maior de "comunidade" entre eles e com Deus. Os israelitas teriam que estar de bem com Deus e com eles mesmos, se quisessem prosperar como nação. Aliás, isso acaba também sendo requisito para qualquer outra nação. E diria até, requisito a nível pessoal também, ou seja, estar de bem com Deus e com os outros.
O que vai acontecer, conforme encontramos a partir do capítulo 8, e ao longo do capítulo 9 do Livro de Neemias, é que o povo de Israel inicia por se motivar a buscar a leitura das Escrituras Sagradas. O povo confessa seus pecados, arrepende-se e se propõe a submeter-se ao Senhor Iavé. Em oração, reafirmam algumas verdades básicas e essenciais para a integridade deles: o pacto com Abraão e a firmeza de Deus no cumprimento de Suas promessas. Eles haviam perdido a terra, haviam estado em exílio, longe dela mas, agora, constatavam o cumprimento de mais essa promessa de Deus: estavam de volta. O povo de Israel estava experimentando um grande despertamento espiritual. A consequência disso, como registrado no capítulo 10, foi a assinatura de um pacto ou de uma aliança. Esta é uma forma de fixar e preservar o progresso espiritual que estava sendo alcançado.
Este pacto era da mesma abrangência daqueles já efetuados com Abraão e Davi. Era, na realidade, um compromisso do povo para com Deus. Entre outras coisas, os termos do pacto diziam que:
* Os levitas e demais pessoas se comprometiam a andar na Lei de Deus, sob pena de maldição (Neemias 10.28 e 29).
* Não haveria mais casamentos com pagãos (v. 30).
* Não comercializariam no Sábado (v. 31).
* Se comprometeriam com o sustento material para a manutenção do culto (v. 32 e 33).
* Os sacerdotes, e todos, os envolvidos nos aspectos espirituais da vida do povo, levariam a sério seus compromissos de trabalho nas coisas do templo.
* O templo e o culto seriam mantidos. Esta aliança do povo de Israel com o Senhor, contém princípios importantes para todos nós, não só como igreja, mas com indivíduos, a medida que muito do que ocorreu com o povo de Israel como nação, grupo ou comunidade, conforme narrado na Bíblia, pode ser visto e aplicado também sob a perspectiva de cada um de nós, como pessoas. Nesta oportunidade, destacamos apenas dois desses princípios ou aspectos, que podem ser de utilidade para nós hoje:
* A questão do compromisso com a lei de Deus. Na realidade, trata-se do compromisso que devemos ter com as Escrituras Sagradas, a Bíblia. É interessante notar que este interesse ou compromisso com o Texto Sagrado foi a primeira medida que os judeus adotaram como parte de seu processo de re-avivamento espiritual. Ter uma base sobre a qual construímos nossa vida e nossos projetos é algo fundamental. E qual deve ser essa base? O texto de hoje, e diversos outros ao longo da Bíblia, nos ensinam que esta base deve ser a própria Bíblia, a Palavra de Deus.
É interessante notar que qualquer sistema filosófico, físico ou outro, é normalmente construído em cima de uma base. A filosofia usa o termo "pressupostos". A Física usa os chamados "referenciais inerciais", a Matemática usa, entre outros, as bases numéricas, por exemplo, a base decimal, que tanto usamos hoje para fazer nossas contas. Sem essa base decimal 2+2 não será igual a quatro. E a teologia e a religião? Quais são nossas bases, pressupostos ou referenciais?
Da mesma forma que o povo de Israel renovou seu compromisso com a Lei de Deus, é importante que renovemos nosso compromisso com a Bíblia como base, pressuposto ou referencial para nossas vidas. Se você tem dúvida sobre a Bíblia ou dúvida de sua autenticidade ou competência para ser este referencial de vida, pare por um instante, em sua jornada religiosa, e investigue seriamente esta questão. Não prossiga sem antes resolver isso.
Imagine você andando pela primeira vez em numa grande cidade que você não conhece, como Hong Kong, talvez, munido apenas de um mapa. Ele seria o seu único guia para conseguir levá-lo ao seu destino. Que direção tomar? Como encontrar o hotel onde você está hospedado? Como ir aquele lugar onde você tem um compromisso ou pretende ver uma novidade qualquer? Você tem o mapa e ele registra as indicações que você precisa. O que acontece que você começa a duvidar se aquele mapa está correto ou não? Percebe o problema? O mapa é o seu referencial, sua base. A não ser que seu pressuposto é que o mapa esteja correto, você ficará perdido. Se isso acontecer, é melhor parar e só prosseguir se você tiver certeza que o mapa é confiável. Troque o mapa, se for o caso. Só não vale trocar o mapa por outro que seja errado.
É o mesmo caso com a vida religiosa e com as verdades teológicas. O desafio que temos, o convite e orientação de Deus sobre isso, é que encaremos a Bíblia, como este "mapa", indispensável para prosseguir nossa jornada. E ela é suficientemente autêntica e valiosa para poder ser esta nossa base.
* A questão do compromisso com a manutenção do templo e do culto. Este é o segundo ponto que destacamos. Fundamental naqueles dias de Neemias, este assunto continua sendo importante hoje, especialmente no âmbito das igrejas evangélicas.
Aqui, os aspectos envolvidos incluem não só a questão do compromisso financeiro com o sustento da igreja mas também a questão do envolvimento pessoal com a vida da igreja. Dentro da perspectiva do Novo Testamento, envolvimento com as coisas da igreja não significa apenas assistir aos cultos de domingo ou mesmo apenas participar da Escola Bíblica Dominical. O ponto chave é que a igreja não se resume às reuniões de domingo. A igreja é formada por pessoas e estas não vivem apenas de eventos semanais. Cada crente certamente poderá encontrar dento de sua igreja uma ou mais formas de participar. Há certamente muitos desafios à frente. Algumas igrejas maiores apresentam projetos, de diferentes tipos, abordagens e propostas. Seja igreja grande ou pequena, sempre haverá algo que um crente pode ajudar e participar. Talvez escrever cartas, ou ensinar a Palavra de Deus, ou dirigir um grupo de estudo bíblico, ou ajudar a formar este grupo, colocar sua capacidade profissional e parte do seu tempo à disposição da igreja como voluntário, visitar doentes, ajudar na arrumação e limpeza da propriedade da igreja, participar dos grupos de oração, receber visitantes e tantas outras formas de engajar-se nas coisas de Deus. Sabemos que, na vida moderna, nem sempre conseguimos o tempo que gostaríamos de ter para as coisas da igreja. Temos cada vez mais, menos empregados de carteira assinada e mais empreendedores individuais, cada um cuidando de seu próprio negócio, às vezes pequeno, mas importante por ser sua forma de sobreviver. É realmente um grande desafio conseguir tempo para as coisas de Deus. Mas é necessário e fundamental.
Os pontos que levantamos neste estudo de hoje apontam para o aspecto conceitual, ou seja, o compromisso com a Palavra de Deus como base para nossa vida, e o compromisso prático e concreto de nossa participação nos desafios e trabalhos da igreja. Se não estivermos conseguindo tempo para a parte referente ao compromisso prático e concreto, voltemos ao compromisso conceitual, o compromisso com a Palavra de Deus e busquemos orientação dEle em como resolver essa questão. Ele vai resolver, se você assim desejar. E lembre-se de uma das promessas mais práticas e concretas que Jesus fez para cada um de nós, incluindo você, conforme encontramos em João 15.7 "Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito". Parece uma promessa interessante, não?
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