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Gerson Berzins

MILAGRES (Parte 1)

A natureza e o significado de milagres


O Evangelho de João no capítulo 2, versos 1 a11 relata o primeiro milagre realizado por Jesus Cristo, conhecido como o Casamento de Caná. Eis o que o texto diz:


1No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galiléia. A mãe de Jesus estava ali;

2Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento.

3Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”.

4Respondeu Jesus: “Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou”.

5Sua mãe disse aos serviçais: “Façam tudo o que ele lhes mandar”.

6Ali perto havia seis potes de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais; em cada pote cabiam entre oitenta e cento e vinte litros

7Disse Jesus aos serviçais: “Encham os potes com água”. E os encheram até a borda.

8Então lhes disse: “Agora, levem um pouco ao encarregado da festa”. Eles assim fizeram,

9e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber de onde este viera, embora o soubessem os serviçais que haviam tirado a água. Então chamou o noivo

10e disse: “Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os convidados já beberam bastante, o vinho inferior é servido; mas você guardou o melhor até agora”.

11Este sinal miraculoso, em Caná da Galileia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele.


Milagres ocupam uma parte significativa do relato bíblico. Milagres são elementos fundamentais da nossa fé, da nossa vida espiritual. No entanto, no mais das vezes, não nos dedicamos a um estudo a respeito deles, e assim temos uma compreensão distorcida ou mesmo errada do que são os milagres e qual é de fato a sua função. A Bíblia nos esclarece sobre milagres. Mais do que apenas relatá-los, a Bíblia é a fonte que nos ensina sobre eles e atentando para a narrativa bíblica podemos construir um entendimento mais completo do que são milagres. Esta é a intenção desta série de reflexões: ponderar sobre o sentido deles de modo a que possamos desenvolver em nós uma atitude biblicamente correta com relação aos milagres.


Começamos pela difícil tarefa de conceituar o que é um milagre. Definições variadas são oferecidas e olharemos para três delas.


Uma definição diz que milagres são todos os acontecimentos que fogem do curso natural do que se espera que ocorra: um doente terminal que se recuperou; uma tempestade violenta que se amainou de súbito; alguém que apareceu não se sabe de onde e mostrou o caminho correto para outrem perdido na escuridão. Esta é uma definição bastante aberta, isto é abrangente e, portanto, sujeita a críticas.


Outra definição, mais rigorosa, diz que milagres são acontecimentos que não podem ser explicados cientificamente ou racionalmente. Assim, o doente que se recupera poderia ser explicado por uma conjunção de efeitos de remédios e do organismo e deixaria de ser milagre. Do mesmo modo, a tempestade que desapareceu pode ter sido decorrência de correntes de ventos fortes que a afastaram para outros lugares; a pessoa que mostrou o caminho seria alguém que por coincidência vinha em sentido oposto. Neste entendimento racional a maioria, se não todos os acontecimentos que na visão popular são classificados de milagres, deixam de sê-lo.


Uma terceira definição diz que milagres são intervenções de Deus em favor do ser humano. Todos os acontecimentos que beneficiam um ser humano ou um grupo deles poderiam ser entendidos como milagres. É também uma definição bastante aberta, mas serve aos propósitos que buscamos, e é coerente com o ensino bíblico de Deus presente em todas as situações humanas e dirigindo todos os acontecimentos. Entre tantos textos que enfatizam tal visão, lembremos dois:


“Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a sua fidelidade”. [Lamentações 3.22-23]


“Ouçam agora, vocês que dizem: Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso deveriam dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. [Tiago 4.13-15]


Como ponto de partida, a Bíblia deixa claro que a vida é um milagre de Deus. Ele é o doador e o sustentador dela. Tudo que nela acontece, bom ou mau, é decorrência deste primeiro milagre, o milagre de estarmos vivos; o milagre de podermos hoje analisar e questionar este tema.


É claro que esta definição precisa ser qualificada para focar no que nos interessa. Convém então definir milagres como “intervenções extraordinárias de Deus em favor do ser humano”. Não há dúvida que é este aspecto do extraordinário, do maravilhoso, do inusitado que nos atrai e nos fascina quando pensamos em milagres; muito mais quando almejamos e oramos para que um milagre ocorra nas nossas circunstâncias.


Para concluir este exercício de conceituação, não deve ser esquecido que ao referir-se a milagres, estamos tratando de ações de Deus, não de seres humanos nem de qualquer outra força. Tudo o que não pode ser atribuído a Deus, tudo que está em desacordo com o que sabemos da glória, da santidade e da justiça de Deus, podem até ser fatos extraordinários e maravilhosos, mas não são milagres, como aqui queremos considerar.


Outro aspecto relevante que devemos já de partida ter em mente é quanto à função dos milagres. Por que eles existem? O texto lido narra o primeiro milagre de Jesus, nas bodas de Caná. Ao fim do relato o evangelista deixou claro qual era o propósito daquele milagre, e em decorrência,de todos os outros realizados por Jesus: Revelar a glória de Jesus, como o Filho de Deus e levar os discípulos a crerem nele.


Os verdadeiros milagres são, portanto, vislumbres da glória de Deus; são maneiras de percebermos que Deus continua atento e agindo; são reforços para a nossa fé e a nossa esperança espiritual. Ao compreender isto, somos capazes de abandonar a mais infantil e a mais inconsistente das ideias de milagre, a que eles existem para nos beneficiar e que Deus tem a obrigação de operá-los sempre que solicitado. Igualmente, devemos repudiar com veemência a ideia tão propagada de que milagres são recompensas por certas atitudes nossas; muito pior quando tais atitudes se referem a questões monetárias ou de fidelidade a certo líder ou organização. Nada do que fizemos, fazemos ou faremos é mérito para um milagre.


Refletir sobre milagres é como Moisés se aproximando da sarça ardente. É terra santa e requer o nosso respeito e a nossa reverência. Com humildade, supliquemos a Deus pelo milagre do correto entendimento deste assunto relevante.


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