Os apóstolos, seguindo os passos de Jesus e anunciando as boas novas da Salvação também realizaram muitos milagres. Em Atos capítulo 8 verso 9 a 23 lemos:
9Um homem chamado Simão vinha praticando feitiçaria durante algum tempo naquela cidade, impressionando todo o povo de Samaria. Ele se dizia muito importante,
10e todo o povo, do mais simples ao mais rico, dava-lhe atenção e exclamava: “Este homem é o poder divino conhecido como Grande Poder”.
11Eles o seguiam, pois ele os havia iludido com sua mágica durante muito tempo.
12No entanto, quando Filipe lhes pregou as boas novas do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, creram nele, e foram batizados, tanto homens como mulheres.
13O próprio Simão também creu e foi batizado, e seguia Filipe por toda parte, observando maravilhado os grandes sinais e milagres que eram realizados.
14Os apóstolos em Jerusalém, ouvindo que Samaria havia aceitado a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João.
15Estes, ao chegarem, oraram para que eles recebessem o Espírito Santo,
16pois o Espírito ainda não havia descido sobre nenhum deles; tinham apenas sido batizados em nome do Senhor Jesus.
17Então Pedro e João lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo.
18Vendo Simão que o Espírito era dado com a imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro
19e disse: “Deem-me também este poder, para que a pessoa sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo”.
20Pedro respondeu: “Pereça com você o seu dinheiro! Você pensa que pode comprar o dom de Deus com dinheiro?
21Você não tem parte nem direito algum neste ministério, porque o seu coração não é reto diante de Deus.
22Arrependa-se dessa maldade e ore ao Senhor. Talvez ele lhe perdoe tal pensamento do seu coração,
23pois vejo que você está cheio de amargura e preso pelo pecado”.
Queremos nesta reflexão considerar o papel de pessoas que seriam dotadas de poderes especiais para a realização de milagres. Sem nenhuma conotação depreciativa, chamemo-las de ‘milagreiros’. Este sem duvida é o mais difícil dos aspectos que temos de tratar ao considerar o tema milagres. Ele é controverso e emocional, o que cria a necessidade de trata-lo com muito cuidado e sem zombar das posições dos que não concordam conosco. Precisamos começar como que limpando o mato alto, para podermos ter uma visão mais nítida do terreno que adentramos. Este mato alto seriam algumas situações extremas que não deveriam e não podem ser usadas como regras gerais para nos orientar quanto aos milagreiros.
· A capacidade de milagres de Jesus não é humana, e como vimos o propósito dos seus milagres era a sua glorificação e levar pessoas a crerem nele como o filho de Deus. Não obstante Jesus ter declarado aos seus discípulos ‘Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado’, como já visto em ocasião anterior, a fé que remove montanhas ainda é um desafio para o ser humano.
· Os apóstolos de Jesus também foram reconhecidos pelos seus poderes de realizar milagres, embora não buscassem a glorificação própria e pelos relatos bíblicos suas realizações conduziram muitos ao conhecimento e à fé em Jesus.
· A Bíblia também fala de milagreiros que realizavam prodígios como uma capacidade pessoal que nada tinha a ver com Jesus ou com Deus. Um dos exemplos claros é de Simão, o milagreiro de Samaria, como vimos no texto lido.
· Por fim, os poderes malignos se manifestam de igual maneira realizando sinais e prodígios que impressionam. Há, por exemplo, os feitos maravilhosos que o diabo prometeu a Jesus, na tentação no deserto.
Excluídos estes casos excepcionais, a pergunta que deve orientar o nosso avanço nas considerações de hoje é: Preciso buscar alguém que tenha o poder de realizar milagres para obter o que desejo? Formulada desta maneira, a resposta bíblica que conseguimos é inequívoca: não e não; definitivamente não. A Bíblia é categórica em nos ensinar que não deve haver nenhum intermediário humano entre nós e Deus: o sacerdote, que tinha tal função é coisa do Velho Testamento. Com o sacrifício de Jesus por nós a cortina de intermediação que nos impedia de chegar diretamente a Deus foi rasgada e somos, com insistência, chamados a buscar diretamente a Deus, como nosso Pai que está nos céus.
O que ocorre é que a realidade da vivência religiosa que percebemos, no mínimo desacredita, se não invalida por completo, este ensino bíblico. As pessoas buscam ansiosamente por auxílio humano nos seus clamores por necessidades: a oração de um pastor é julgada poderosa e vale mais; o lugar onde milagres supostamente ocorreram são buscados; o milagreiro que alardeia suas realizações é procurado; os santos que teriam feito milagres no passado são venerados e invocados; amuletos de toda sorte são utilizados. Tudo pelo milagre pessoal desejado.
E então, esta é a difícil hora de separar o joio do trigo, pois a Bíblia também ensina que devemos orar uns pelos outros e os líderes da Igreja devem orar pelos doentes [Tg 5.14-16]. De igual maneira, a Bíblia fala daqueles que são agraciados com o dom de milagres ou realização de maravilhas. [1Co 12.10].
Não escapamos da necessidade de proceder a uma análise criteriosa do que devemos fazer para evitar as armadilhas e falcatruas que estão por todo lugar, enquanto nos esforçamos em ver realizado aquilo que, estando fora do nosso alcance, depende de um acontecimento miraculoso. O cuidado deve ser grande, pois Jesus mesmo advertiu, como lemos em Mateus capítulo 24, de 23 a 25:
“Se, então, alguém lhes disser: Vejam, aqui está o Cristo! Ou Ali está ele, dentro da casa! Não acreditem. Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos. Vejam que eu os avisei antecipadamente”.
Creio que conscientemente devemos proceder a uma checagem cuidadosa neste terreno. Eis algumas questões que deveríamos responder:
· Oramos a Deus com intensidade e insistência sobre a nossa preocupação?
· Compartilhamos a preocupação com os que espiritualmente são mais próximos de nós e pedimos que eles intercedam junto conosco?
· De igual modo, compartilhamos e pedimos ajuda dos nossos líderes espirituais, aqueles que conhecem a nossa vida e convivem conosco?
· Já aceitamos que a vontade de Deus pode ser oposta à nossa, e que o que importa é que a vontade dele se cumpra?
· Estamos sensíveis e sintonizados com Deus para perceber a sua vontade e a sua ação em nosso favor de um modo diferente do que estamos pedindo?
· Estamos plenamente conscientes que a ajuda que buscamos vem de Deus e não de nenhum ser humano, ritual ou comportamento nosso?
E mais uma vez precisamos suplicar pela atuação de Deus em nos esclarecer sobre este importante mister.
Comments