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O INÍCIO DO FIM – A CHEGADA A JERUSALÉM (João 11 e 12)

Ensino, pregação e curas foram os três meios principais usados pelo Senhor Jesus para o desenvolvimento de seu ministério terreno. Jesus sempre fez o bem, estando sempre atento e pronto para atender às necessidades humanas. Ele alimentou o povo, curou enfermos com todo tipo de doença, ensinou e pregou sobre o reino de Deus e ressuscitou mortos. Por meio dos seus discursos e pelos sinais de milagre e poder que realizava, Jesus foi se revelando como o Filho de Deus, o Messias prometido.

 

Enquanto assim procedia, Jesus caminhava em direção ao objetivo maior de sua vinda ao mundo. A sua fama se espalhava e cada vez mais o povo dEle se aproximava. O testemunho de João Batista a respeito de Jesus, registrado no início do livro, foi se cumprindo e o povo experimentava a realidade das palavras de João a respeito de si mesmo em relação a Jesus: “Convém que ele cresça e eu diminua” (3:30). Do início do livro até aqui, as referências a João Batista foram se tornando escassas, enquanto cada vez mais a pessoa e as obras de Jesus ganhavam atenção e credibilidade popular, a ponto de o próprio povo fazer a comparação: “João não fez nenhum sinal, porém tudo quanto disse a respeito deste era verdade” (10:41). O resultado foi que muitos iam crendo em Jesus (10:42).

 

Crescia a boa fama de Jesus. Em igual proporção, crescia também a perseguição dos judeus, que procuravam obstinadamente encontrar motivo e ocasião para prendê-lo e matá-lo. Os conflitos se intensificaram muito durante a festa da Dedicação, onde Jesus fez mais um discurso, afirmando abertamente: “Eu e o Pai somos um” (10:30). A afirmação está relacionada ao capítulo 5 do evangelho de João e tem o sentido de que Jesus, o Filho, estava unido ao Pai em vontade e essência, tendo os mesmos objetivos e realizando as mesmas obras que o Pai. Os judeus tomaram as palavras de Jesus como blasfêmia e passaram, mais uma vez, a querer prendê-lo. Para escapar, Jesus se retirou e foi para a Pereia, no outro lado do Jordão, e ali permaneceu por um período aproximado de três a quatro meses, até que uma notícia vinda de Betânia propiciou o seu retorno à Judeia.

 

Com isso, a nossa atenção se volta para mais um dos sinais realizados por Jesus. Para alguns comentaristas, o incidente que vamos agora estudar representa o apogeu do ministério de Jesus, dentro do Evangelho de João. Este é o sétimo milagre e também o último, antes da paixão de Jesus, relatado por este evangelista. A sua ocorrência se dá numa fase do ministério de Jesus que nos permite chamá-la de ‘O Início do Fim’.

 

A notícia recebida avisava que Lázaro, amigo a quem Jesus amava (11:3), estava doente. O nome Lázaro, correspondente a Eleazar no hebraico, significa ‘Deus, meu socorro’. Ele era irmão de Marta e Maria. Os três residiam em Betânia, cidade localizada perto de Jerusalém, havendo uma distância de três quilômetros entre uma e outra. Jesus frequentava a casa dessa família e algumas vezes se hospedou ali (Lucas 10:38-39). Havia amizade entre Jesus e esses três irmãos.

 

Mesmo sabendo que a doença resultaria em morte, a primeira reação de Jesus diante da notícia, estando ainda na Pereia, foi a de informar aos seus discípulos que a enfermidade de Lázaro não era para a morte, mas para a glória de Deus e para que Ele, Jesus, fosse glorificado por meio dela. Jesus sabia o que iria fazer e estava considerando que a ressurreição de um morto representa um milagre ainda maior do que a cura de uma enfermidade. A finalidade da doença não era que Lázaro permanecesse morto, mas que recebesse de Jesus a vida, pelo milagre da ressurreição.

 

Essa seria mais uma das circunstâncias de ligação de Jesus com a cruz. Por isso, o Mestre demorou ainda dois dias no lugar onde estava. A sua demora não se deu por falta de amor pelo amigo e por suas irmãs que, certamente, estariam sofrendo com a perda do irmão, mas em prol de um objetivo maior. É de se notar que o texto dá destaque ao amor que Jesus tinha por aquela família (11:5), não deixando dúvidas de haver um propósito para tudo aquilo que estava fazendo e para a maneira como fazia.

 

Lázaro morreu. Intimamente, Jesus sabia disso e só, então, disse aos discípulos que era momento de voltar à Judeia para despertar Lázaro do sono da morte. Bem intencionados e preocupados com a segurança pessoal de Jesus, os discípulos lembraram o Mestre do risco que iria correr indo à Betânia, cidade tão próxima de Jerusalém, considerando que os judeus desejavam prendê-lo. Contudo, era necessário que fosse assim. Afinal, a morte de Lázaro era para a glória de Deus e para que Jesus fosse glorificado por meio dela.

 

Diante do túmulo de Lázaro, Jesus deu graças a Deus por tê-lo ouvido, orando em voz alta, a fim de despertar a fé da multidão ali reunida: “para que creiam que tu me enviaste”, disse Jesus em sua oração (11:42). 

 

O milagre foi notável por se tratar da ressurreição de um homem morto e sepultado há quatro dias e pela forma gloriosa como Jesus demonstrou o seu poder sobre a morte, chamando um morto de volta à vida: “Lázaro, sai para fora” (11:43). Lázaro ouviu a voz vivificante de Jesus e saiu do túmulo para dar continuidade à sua vida temporal. A sua ressurreição foi uma amostra do que estava para acontecer com o próprio Senhor Jesus e do que há de acontecer no último e grande dia, quando todos os salvos haverão de ressurgir para a vida eterna com Cristo, sob a garantia das palavras do próprio Senhor Jesus ditas a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá” (11:25).

 

O propósito do milagre foi alcançado: a glória de Deus foi vista em Jesus, de modo que muitos dos judeus que ali estavam creram nEle. Outros, no entanto, tomados por hostilidade foram relatar aos fariseus o que tinha acontecido.

 

A partir daí, fariseus e sacerdotes formaram um conselho para decidir o que fazer com Jesus. Na discussão sobre “este homem” que “faz muitos sinais” (11:47), Caifás, que era o sumo sacerdote naquela ocasião, sem considerar que estava falando de forma profética, recomendou a pena de morte, ponderando o quanto convinha que um homem viesse a morrer pela nação e pelos filhos de Deus que andavam dispersos, para reuni-los num só corpo. Era o anúncio da verdade de que Jesus iria remir também os gentios.

 

Desde então, os fariseus passaram a planejar a execução da morte de Jesus. Alguns dentre eles e, provavelmente, em especial os saduceus, desejavam matar também a Lázaro, por ser ele uma comprovação viva a favor da ressurreição, cuja possibilidade eles negavam, refutando assim a doutrina por eles defendida.

 

Por algum tempo, Jesus ausentou-se dali e refugiou-se numa cidade chamada Efraim. Aproximando-se a Páscoa, voltou a Betânia e foi recebido para uma refeição, encontrando-se com Lázaro, que agora estava de volta à vida porque Jesus o ressuscitara da morte. Foi nessa reunião que Maria, a irmã de Lázaro, ungiu os pés de Jesus com um perfume de altíssimo valor e os enxugou com os seus próprios cabelos. Esse ato foi reconhecido por Jesus como preparação para a sua morte (12:7).

 

No dia seguinte, Jesus foi para Jerusalém. Estava chegando a hora para a qual viera ao mundo. Diferente do que aconteceu em outras ocasiões, a sua chegada a Jerusalém foi celebrada pelo povo de tal forma que passou a ser denominada de “A Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém”. Montado num jumentinho, em cumprimento à profecia de Zacarias (9:9), Jesus foi recebido pela multidão que o aclamava, dizendo: “Hosana: Bendito o rei de Israel que vem em nome do Senhor” (12:13). Os ramos de palmeira, usados pelo povo na saudação a Jesus, deram origem à data do calendário cristão conhecida como o ‘Domingo de Ramos’.

 

O efeito de tudo isso foi que toda a gente continuava indo após Jesus (12:19), o que incomodava ainda mais aos judeus. Até alguns gregos, prosélitos, que foram a Jerusalém para participar da festa da Páscoa, desejaram conhecê-lo. Foi a ocasião oportuna para Jesus anunciar que a hora da sua morte se aproximava (12:23), ao falar, de forma simbólica, do grão de trigo que precisa cair na terra e morrer para que dê muito fruto (12:24); que o poder de Satanás estava para ser rompido (12:31); que ao ser levantado da terra atrairia todos a si, simbolizando de que forma haveria de morrer.

 

Apesar dos sinais e dos discursos que fez, alguns continuaram não crendo nEle. O motivo da rejeição de Jesus pelos judeus havia sido profetizado por Isaías (53:1; 6:9,10): os judeus tinham corações endurecidos e olhos espirituais cegos. Contudo, muitas autoridades creram em Jesus, mas não o confessaram com receio de serem expulsos da sinagoga pelos fariseus, porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus (12:42,43). Lamentavelmente para eles, porque a fé em Cristo dissipa as trevas. Crer em Jesus é crer em Deus que o enviou (12:44). Aceitar Jesus é aceitar a vida eterna com Deus (12:49,50).

 

Consulta Bibliográfica

 

BRUCE, F. F. João, Introdução e Comentário.

São Paulo: Vida Nova, 1987.

 

DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. 2ª ed.

São Paulo: Edições Vida Nova, 1995.

 

MACLEOD, A. J. João, in O Novo Comentário da Bíblia. Vol. III

São Paulo: Edições Vida Nova, 1963.

 

McNAIR, S. E. A Bíblia Explicada. 4ª ed.

Rio de Janeiro: CPAD, 1983.

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