Nosso tema é fascinante, e encontra-se nos capítulos 4 e 5 do evangelho de Marcos. Nosso primeiro destaque não poderia ser outro além do ensino de Jesus, apresentados por parábolas. Jesus, acostumado que estava a ensinar na Sinagoga, desta feita vai até as proximidades do mar. Ele não esperou que as pessoas fossem à Sinagoga, ele foi ao encontro das pessoas onde estivessem, e o fez porque podia e queria ajudá-las, o que já é um importante diferencial. Na cultura daquela época, era costume esperar que alguém pedisse ajuda.
Josefo, historiador judeu que viveu no primeiro século DC, escreveu que havia nove cidades ao redor do Mar, ou lago. Eram, ao todo, 19 km e Jesus passou a maior parte do tempo ensinando ao ar livre, indo aonde o povo se encontrava. Que isto nos sirva de exemplo como Igreja.
O Dr. Raymond Brown fala com bastante oportunidade a respeito das características do ensino de Jesus. Vamos resumi-las: Jesus ensinou informalmente, nunca dando a impressão de estar lendo algum manuscrito, aproveitando todas as oportunidades. Seu ensinamento era extraído da vida diária, ou seja: da pesca, da lavoura, dos costumes do lugar, da vida de família, de pai e filhos, de um pastor e um comerciante dentre muitos outros. Os ensinamentos de Jesus eram de origem popular e não filosófica. Não usou linguagem de origem abstrata, nem mesmo se preocupou com uma argumentação fundamentada na lógica. Não citou eruditos e apresentou os fatos antigos sob um enfoque novo. Além disso, seus ensinamentos eram ilustrados: usou metáforas para dizer o que desejava destacar. Ele, enquanto falava, os obrigava a pensar, a imaginar e principalmente a responder. As parábolas são exemplos disso, pois requeriam que os ouvintes usassem a imaginação e tentar substitui-la pela visão do reino de Deus. Por fim, os ensinamentos de Jesus estavam baseados na entrega que ele de si mesmo fazia, porque cria no que ensinava. Na verdade, ele era o que ensinava.
Jesus era um Mestre, pregador e curador. Marcos, Mateus e João registraram a qualidade de Mestre de Jesus. Para Marcos, Jesus excedia em muito aos chamados homens divinos do mundo grego: Jesus era o Dom da Salvação de Deus para o mundo, ele era o único e verdadeiro salvador divino.
É bom que destaquemos a diferença entre alegoria e parábolas. Uma alegoria é uma história na qual cada detalhe tem seu oposto espiritual quanto ao significado. Uma parábola é uma história que destaca um significado especial. Ela pode ser extremamente curta como, por exemplo, a ordem: médico, cura-te a ti mesmo!
Muitos pensam que Jesus foi o primeiro a contar parábolas, mas não é correto porque as vemos em ensinamentos registrados no Antigo Testamento. Uma delas, foi a conversa que o profeta Natan teve com o rei David, a propósito do seu pecado contra Urias, o heteu. As parábolas de Jesus tinham o cunho de proclamação e não simples ilustrações. Elas ajudam a explicar o sentido do evangelho. Os primeiros três evangelhos contém mais de 40 parábolas.
Jesus ensina a parábola do semeador, que falava de um agricultor que semeou a semente em 4 diferentes classes da terra. Os lavradores do primeiro século semeavam a semente e logo aravam a terra. Assim, somente a semente que houvesse caído em uma terra receptiva produzia fruto. Como o lavrador obtinha diferentes resultados da semente que semeara, Jesus, o Semeador, colhia diferentes respostas quanto ao que pregava. Jesus não quis clarificar o sentido do que estava dizendo, mas ordenou: quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Ou melhor, reflitam no que estou dizendo e tomem uma decisão.
As pessoas mais próximas a Jesus quiseram esclarecimentos a respeito da parábola, e Jesus atendeu ao pedido, conforme podemos ler em Marcos 4:14-20. Um dos versículos mais difíceis de serem entendidos, diz-nos o Dr. Brown, é o de número 11, onde lemos: “ele lhes respondeu: a vós outros vos é dado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se ensina por meio de parábolas”.
Uma primeira análise, parece dizer que os discípulos de Jesus possuíam em secreto o Reino de Deus e que as parábolas escondiam aquilo dos que estavam de fora. Até há quem pense que o ensino por parábolas era para evitar que pessoas fossem perdoadas, a partir do entendimento da mensagem de Jesus. Porém, nada disso encontra respaldo no ministério de Jesus. Uma análise mais profunda pode levar à compreensão de que Jesus ensinou de tal forma que pessoas com ouvidos abertos, corações abertos e fé atuante compreenderiam o que estava sendo dito.
Temos que nos apressar e comentar a parábola onde Jesus faz menção à candeia que deve ser colocada em local visível. Ele estava ensinando que o reino de Deus parecia ser insignificante ao tempo em que ele estava pregando e ensinando, dando a impressão de que a luz do Reino não significava muito. Mas, Deus revelaria essa grande luz na plenitude dos tempos, no futuro, e era necessário manter a fé para conseguir vencer a aparente escuridão daqueles dias.
Mais duas parábolas se apresentam, ambas trabalhando ainda a figura da semente. Na primeira, compreendida entre os versículos 26 a 29, o ensinamento principal é que os resultados das sementes que semeamos estão nas mãos de Deus. Não nos pertence acompanhar a germinação, somente manter o testemunho fiel e agradável a Deus. O poder de Deus atua naquilo que consideramos muito pequeno, e o faz à sua própria maneira, silenciosamente. Nada pode impedir o crescimento da semente e por isso podemos confiar nEle para que haja uma germinação daquilo que semeamos com amor e oração.
A outra menção é à pequena semente de mostarda, parábola que mostra os contrastes. Jesus afirmou que o Reino de Deus é como uma semente e mostarda: Deus trabalha de forma invisível mas eficaz para que o Seu Reino se torne uma realidade. O grande número dos que se opõem ao Reino de Deus não podem derrotá-lo, e a obra poderosa de Deus trará gentes de todo o mundo para a comunhão do Seu Reino.
Não poderíamos encerrar estes preciosos momentos sem mencionar a grande vitória de Jesus sobre a tempestade. O ouvinte poderá ler os detalhes a partir do versículo 35 do capítulo 4. O milagre aqui mencionado verificou-se no Mar da Galiléia. Mas, o que é um milagre? Alguns dizem que milagre é aquilo que é contrário à natureza. Outros afirmam que é aquilo que é contrário ao que se conhece sobre a natureza. E há quem simplesmente diga que milagre é um ato de Deus.
Voltemos ao problema enfrentado pelos discípulos, quando Jesus resolveu ser o momento de deixar as multidões e passar para um outro local. Jesus não se deixava enganar por elas, ele sabia que deixar uma multidão é muitas vezes mais importante do que permanecer com ela. Ainda hoje vemos pessoas procurando a fama, que entendem estar no reconhecimento do público, nosso Jesus não tinha essa visão tão limitada: ele sabia o que se passava no coração daqueles que o cercavam.
O fato é que, enquanto dormia no barco, aconteceu uma furiosa tempestade, o que é comum naquela região. Os discípulos ficaram atemorizados, a água entrava no barco e, muito espantados, aproximaram-se daquele que dormia e disseram: Mestre, não te importas se perecemos? Jesus imediatamente repreendeu o vento e o mar: acalma-te! Emudece-te! A calma substituiu a tempestade e só então Ele repreendeu os discípulos: por que tanto medo? Ainda não tendes fé?
Os discípulos reagiram com assombro diante do ocorrido: perguntavam-se: quem é este a quem o vento e o mar obedecem? Este milagre revela, antes de tudo, o senhorio de Jesus sobre o mundo natural e mostra que, por meio de Jesus, o Criador trabalhava.
Muito ainda teríamos a comentar. Mas é necessário encerrar. Fiquemos com a cena magnífica de Jesus acalmando o mar, atendendo ao apelo dos discípulos e vindo ao encontro de suas necessidades. Este Jesus ainda acalma as tempestades da nossa vida, Ele nos ama e quer o nosso bem. Somente espera que saibamos responder: por que tanto medo?Aindanão tendes fé?
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