Durante quase todos os últimos vinte séculos de história da era cristã, a cristandade não teve qualquer problema em interpretar e aceitar os seis dias da semana da Criação em Gênesis 1 como dias literais de vinte e quatro horas de uma Terra jovem recém-criada.
No entanto, recentemente esse entendimento começou a ser mudado a partir do advento da teoria darwinista e da geologia evolucionária do século 19, que passaram a defender a ideia de que a Terra deveria ser muito antiga para comportar os bilhões de anos que a evolução necessitava para que a vida pudesse surgir e evoluir.
A questão que se impõe nesse contexto é que muitos teólogos e crentes em geral, por desconhecerem o assunto, pensam que a teoria da evolução é uma espécie de ciência exata e, portanto, um fato consumado. Desta forma, muitos cristãos passaram a dar um “jeitinho” de harmonizar o relato bíblico da Criação com a teoria da evolução, como se isso fosse possível. Argumentam que os dias da Criação de Gênesis 1 não são dias literais, e sim, longas eras geológicas de milhões de anos. Alegam ainda que essa interpretação é compatível com o registro fóssil. Assim, inventaram a teoria dos “Dias Eras” para Gênesis
1.Seguem alguns argumentos que mostram que os dias da Criação são dias literais de 24 horas.
a) O registro fóssil não apresenta evidência a favor da teoria da evolução. O próprio Darwin diz isso no seu livro “A Origem das Espécies”. Diz ele: “...o número de variedades intermediárias deveria verdadeiramente ser enorme. Por que, então, as formações geológicas e cada um dos estratos não estão repletos destes tais elos intermediários? A geologia, sem dúvida, não revela tal cadeia orgânica finamente graduada; e isto, portanto, é a objeção mais óbvia e séria que pode ser levantada contra a minha teoria”.(*) Portanto, o registro fóssil mostra a existência de formas de vida altamente complexas e em grande diversidade convivendo simultaneamente (como, aves, mamíferos e dinossauros).
b) O argumento linguístico referente a palavra hebraica (yom) traduzida por “dia” possui um significado muito claro que é duração de tempo. Em algumas passagens bíblicas ele é utilizado com um sentido diferente de um dia de 24 horas. Porém, todas as vezes que o vocábulo yom é usado em conjunto com as palavras “tarde e manhã”, seu significado fica limitado ao período de tempo de um dia literal. Exemplos: Nm 9:15 – “no dia em que foi armado o tabernáculo, a nuvem o cobriu, isto é, a tenda do testemunho; e desde a tarde até pela manhã havia sobre o tabernáculo uma aparência de fogo”.Também em Dt 16:4, temos:“Durante sete dias não permitam que seja encontrado fermento com vocês em toda a sua terra. Tampouco permitam que alguma carne sacrificada à tarde do primeiro dia permaneça até a manhã seguinte”.
Alguém que quisesse interpretar os dias de Gênesis 1 como sendo longas eras, baseando-se no vocábulo yom, teria que provar que yom + “tarde e manhã” de Gênesis 1 não obedece à regra encontrada em todo o V.T. (dia de 24 horas). Se não temos dúvidas que “tarde” e “manhã” nos textos acima mostram um dia literal, por que “tarde” e “manhã” em Gênesis 1 seria diferente?
Um argumento em favor dos “dias eras” muito usado no contexto cristão é o versículo chave dos chamados evolucionistas teístas. 2 Pe 3:8 diz: “mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o senhor é como mil anos, e mil anos como um dia”. Desta forma, tentam correlacionar os dias da criação em Gênesis 1 com o sistema de 4,6 bilhões de anos supostamente de eras geológicas evolutivas, citando Pedro como concordando que "um dia é mil anos.Porém, o texto de 2 Pedro não trata de gênesis 1. Trata especificamente de Deus, que não está limitado ao tempo. O tempo não atua em Deus como atua em nós. Porém, se insistem em relacionar os dias de 2 Pe 3:8 com os dias de Gênesis 1, podemos argumentar que "um dia para o senhor é como mil anos"! ou seja, Deus pode fazer de forma sobrenatural em um dia o que poderia, por processos naturais, demorar mil anos.
Para demonstrar a literalidade dos dias de gênesis, vejamos como a Bíblia os interpreta.
Em Êx 20:8, 11,o quarto mandamento diz: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra.” [...] “Porque em seis dias fez o senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e, ao sétimo dia, descansou;”...O texto diz que em seis yom (dias) Deus trabalhou criando todas as coisas e no sétimo yom, descansou. O texto diz também que devemos trabalhar seis yom e descansar no sétimo yom, como Deus fez.
Se yom significa período de tempo, qual deveria ser a quantidade de tempo atribuída a cada um desses seis períodos? Seis dias de 24 horas ou dias de milhões de anos? Se o período de tempo atribuído aos dias da criação for de 24 horas, então deveremos trabalhar em seis dias de 24 horas e descansar em um dia de 24 horas. Se o período de tempo atribuído aos dias de Gênesis 1 não for de 24 horas, então será impossível para qualquer humano guardar o quarto mandamento, pois, não há ninguém que viva milhões de anos. Qual seria então uma boa razão para que Deus não criasse todas as coisa em seis dias literais de 24 horas? Por acaso falta a ele poder? Força? Inteligência? Sabedoria?
Todos os seis dias de Gênesis 1 são dias de criação. Em cada um deles Deus ordena e algo acontece. A resposta ao mandamento do senhor é sempre imediata. Vemos isto no Salmo 33:6, 9: “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles. Poisele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir”.Não existe no texto a menor possibilidade de Deus ter ordenado e o seu mandamento ser cumprido apenas milhões de anos depois. Os milagres de Jesus nos serve de exemplo. Entretanto, alguns procuram ainda usar o cumprimento de algumas profecias para afirmar que nem sempre o que Deus ordena ocorre imediatamente. De fato, isto é verdadeiro para profecias. Porém esquecem que Gênesis 1 não é profético.
Concluímos, portanto, que os dias do primeiro capítulo de Gênesis são dias literais de 24 horas.
“Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e a manhã, o sexto dia.” (Gn 1:31)
Bibliografia:
Erisson Machado Moreira
(*) Charles R. Darwin, Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural, publicado por John Muray,
Londres, 1859, primeira edição, p. 280
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