Introdução
Nesta última abordagem sobre o livro de Números, que compõe esta série sobre o Pentateuco, encontramos relatos históricos que se referem à segunda geração de israelitas, que ainda peregrinavam no deserto rumo à Canaã, a Terra Prometida. Vale notar que a primeira geração, aquela que saíra do Egito, havia perecido ao longo de mais de três décadas de peregrinação pelo deserto. Esses capítulos de Números vão descrever a parte final da jornada do povo de Israel. Os israelitas são preparados para a guerra de conquista que enfrentariam. O povo é contado (26 e 27) e é instruído quanto à conduta que deveriam ter (28 a 36). É nesse ponto que encontramos o episódio de Balaão, tema que consideraremos nesta oportunidade.
1. Acampados nas campinas de Moabe
“Depois partiram os filhos de Israel, e acamparam-se nas campinas de Moabe, além do Jordão na altura de Jericó. Vendo, pois, Balaque, filho de Zipor, tudo o que Israel fizera aos amorreus, Moabe temeu muito diante deste povo, porque era numeroso; e Moabe andava angustiado por causa dos filhos de Israel. Por isso Moabe disse aos anciãos dos midianitas: Agora lamberá esta congregação tudo quanto houver ao redor de nós, como o boi lambe a erva do campo. Naquele tempo Balaque, filho de Zipor, era rei dos moabitas” (Nm 22.1-4).
Relatos chegados aos povos da região davam conta de que toda a resistência até então oferecida contra os israelitas, em sua aproximação à Canaã, havia sucumbido. O texto de Nm 22 afirma que Balaque, rei dos moabitas, se sentia grandemente ameaçado com a aproximação dos israelitas. Havia pelo menos dois possíveis motivos para isso. O primeiro, de natureza militar e o segundo, de natureza econômica. Alguns estudiosos da Bíblia afirmam que, apesar das circunstâncias, provavelmente a questão militar não era exatamente a preocupação principal de Balaque [1]. Os moabitas eram descendentes de Ló, sobrinho de Abraão e, portanto aparentados dos israelitas (Gn 19.30-38). Por conta disso, Javé inclusive havia dado instruções para que os israelitas não contendessem com os moabitas (Dt. 2.9). Balaque não era um rei temente ao Senhor e não sabemos o quanto ele conhecia ou ignorava essas instruções. O fato é que o texto bíblico inicialmente não mostra os moabitas preocupados com alguma ameaça de guerra, mas sim com o impacto da presença dos israelitas na terra de Moabe em termos de consumo dos recursos disponíveis [1]. Os planos de Deus para Israel eram que eles viessem a ser uma bênção para todos os povos incluindo os moabitas. Contrariando esse propósito o texto de Nm 22.5-7 nos diz que Moabe, juntamente com seus aliados midianitas, resolveu pagar um falso profeta, de nome Balaão, para que este amaldiçoasse Israel ou mesmo convencesse a Javé a fazê-lo, afastando com isso, os israelitas da terra de Moabe.
2. As ações de Balaão
Balaão era um dos vários profetas politeístas do Antigo Testamente que cultuavam diversos deuses, proclamando bênçãos ou maldições. Muitos desses falsos profetas tinham grande poder e influência [2]. Entre os deuses que Balaão conhecia, Javé era um deles se bem que Balaão não andava nos caminhos do Senhor. Procurado pelos mensageiros dos moabitas para amaldiçoar o povo de Israel, em troca de grande pagamento, Balaão só concorda em aceitar tal convite após pedir orientação a Javé, Deus do povo que deveria amaldiçoar. De Jeová recebe instruções não só para não amaldiçoar os israelitas, mas ao contrário, recebe orientação para abençoá-los. A experiência que Balaão veio a ter, ao ouvir seu próprio jumento lhe dirigindo a palavra e lhe apontando para um anjo que impedia sua passagem, o levou a cumprir o que Deus lhe dissera quanto a abençoar os israelitas mesmo perdendo o pagamento prometido em seu contrato com os moabitas. Deus o usou para pregar a verdade incluindo profetizar sobre a vinda do Messias (Nm 24.17). Balaão foi impedido de amaldiçoar Israel, mas como não era realmente um profeta de Deus, acabou por agir contra os israelitas ao instruir os moabitas a levarem os homens de Israel a cultuarem Baal com seus rituais imorais, o que acabou por levar a punição de Deus sobre Israel.
3. Três aplicações
Das muitas aplicações que esse texto nos oferece consideraremos apenas três:
a. Caminhos certos e errados: não há nada mais importante do que estar no caminho certo e nada mais perigoso do que estar no caminho errado. Tanto Balaque, rei dos moabitas, e mais ainda Balaão, tiverem várias oportunidades de seguir pelos caminhos do Senhor, mas se recusaram. Ambos encontraram a morte trágica em situações de guerra contra os israelitas (Nm 31.8).
b. O erro de tentar manipular Deus: Balaão era mestre em manipular os deuses pagãos a quem servia. Ele aprendeu que com Javé era diferente. Muitos cristãos ainda hoje tentam manipular Deus. Por exemplo, tentando convencê-lo de que ser feliz é mais importante do que ser comprometido com Ele. Ou que a satisfação pessoal e a busca do prazer são mais importantes do que fazer a vontade Dele. Há os que tentam trocar bênçãos por dinheiro ou por boas ações. O que se deve buscar não é trazer Deus para nos servir como Balaão tentou, mas nos colocar à disposição do Senhor para servi-lo.
c. O que o rei dos moabitas não considerou: Uma terceira aplicação prática que encontramos é que muitas vezes bênçãos são simplesmente perdidas por conta da pessoa se afastar de Deus ou ignorá-lo. Isso faz com que ela procure atalhos que são contrários à vontade do Senhor, levando-a ao fracasso como ocorreu com o rei dos moabitas.
Minha oração, prezado ouvinte, é que você possa desprezar os atalhos e sempre optar pelo caminho da presença real de Deus em sua vida, trazendo-lhe com isso, vitórias em seu dia a dia.
Bibliografia:
[1] “Profiting From the Prophets” - “Lessons 5 & 6: Balaam, Part I” - Robert L. Deffinbaugh, Th.M.
The Biblical Studies Foundation
[2] Holman Bible Dictionary
Verbete “Balaam”