FURGÃO SEM MARCAS
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FURGÃO SEM MARCAS

A igreja cantava o segundo hino da noite. Havia um bom auditório. Então ele chegou, pedindo licença e buscando um lugar junto dos presentes. Era o FURGÃO.

FURGÃO era o apelido desse homem. Um membro de uma gangue de motoqueiros. Ele era muito prestativo e tinha grande estatura. Seu porte físico lembrava um gigante. Tinha coque no cabelo. Seu pescoço, braço e peitos eram repletos de tatuagens. Também andava com piercings dourados e prateados, na orelha, nariz e outros lugares.

Na verdade ele foi atraído pela boa música. Como o semáforo fechou e demorou a abrir, o som de um hino foi audível da esquina e ele achou aquilo fora de série. Resolveu voltar, estacionar e entrar. Ele nunca tinha entrado numa igreja evangélica. Certa vez ganhara um Novo Testamento dos Gideões Internacionais, mas esquecera-o na casa da mãe quando se casara.

O pastor pregou a Palavra de Deus. Apresentou a Cristo, loucura para os gregos e escândalo para os gentios, mas para os salvos o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu, mas também dos gentios.

FURGÃO ouviu com atenção. O pastor era muito claro nas explicações. Era necessário crer em Jesus Cristo como o Filho de Deus, crer em Sua morte para expiação dos pecados e crer também em Sua ressurreição dos mortos. Quem fizesse isso teria o perdão de todos os pecados e a vida eterna. FURGÃO foi tocado pelo Espírito Santo, que o convenceu do pecado, da justiça e do juízo. No momento da oração ele decidiu entregar a sua vida a Jesus.

Estava feita a mudança: FURGÃO tornara-se cristão! Que alegria! Procurou o pastor após o culto, contando-lhe da decisão que tomara. O pastor ficou muito feliz. Orou com ele e apresentou-lhe dois ou três irmãos na fé, com quem poderia estudar a Bíblia.

Em três meses FURGÃO estava quase pronto para ser batizado. Fizera a classe de catecúmenos e era discipulado. Mas algo o incomodava muito. Então foi falar com o pastor.

- Pastor, preciso tirar umas dúvidas antes do batismo. O senhor pode me ajudar?

- Claro, FURGÃO. Diga!

- A primeira é sobre este texto: Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós. Eu sou o SENHOR. (Lv 19:28). Pastor, eu estou cheio de piercings e tenho muitas tatuagens. Eu não me sinto bem com isso, pois penso ser pecado andar com estas coisas. O que o senhor me diz?

- FURGÃO, você pesquisou bem. De fato agora o seu corpo é templo do Espírito Santo e deve ser limpo e puro. Piercings são símbolos de escravidão e domínio pagão; são, no mínimo, vaidades das quais o cristão deve se livrar. Quanto às tatuagens, foram feitas antes de sua conversão. Agora você é um novo ser. Elas poderiam ser um tropeço ou um testemunho. Um tropeço se ainda as considerasse importantes e fizesse novas. Um testemunho se dissesse que foram da sua velha vida, mas que hoje você não as recomendaria a ninguém.

- Eu compreendo, pastor. E como posso me decidir?

- Ore. Busque a Deus em oração. Os piercings você fará bem em retirar. As tatuagens ficarão por sua conta. Me procure na semana que vem para conversarmos mais.

FURGÃO, então, orou com muita dedicação. E concluiu que há recursos que podem tirar grande parte dessa decoração macabra e vaidosa que fizera na pele. Não ficaria perfeito, mas uma boa parcela desapareceria. As sessões de raio laser não seriam baratas, mas ele investira tanto no pecado, agora era hora de investir na eliminação de seus rastros. Porém alguém o procurou. Era um cristão de outra igreja, todo tatuado. Ele disse:

- Cara, você não precisa tirar nada! Deus não vê as aparências, Deus vê o coração! Além disso há tatuagens cristãs, como leões, ursos, cruzes, pombas e o nome de pastores e apóstolos das igrejas! Você pode adaptá-las! Pare de ser bobo! Crente não pode ser tacanha! Crente não é quadrado!

FURGÃO ouviu, ponderou, mas não se deixou levar. Para ele era muito sério mudar de vida e também de aparência. Para ele não fazia sentido ser cristão travestido de secularismo vaidoso e inútil. Se ele se submetesse ao batismo seria, de fato, símbolo de uma mudança radical, não de um enxerto ou remendo novo no pano velho.

E foi isso que fez. Tratou de tirar toda a ferragem que carregava e de submeter-se às dores das sessões de destatuagem. Resolveu também arrumar o cabelo com mais formalidade.

Na semana seguinte foi encontrar-se com o pastor. Este, ao vê-lo, tomou um susto.

- FURGÃO? Que mudança incrível! O que você fez? Nem parece o mesmo homem!

Ele ficara irreconhecível. As tatuagens do pescoço estavam ausentes, apenas restara um vermelhão que, segundo os médicos, desapareceria com o tempo. Ainda faltavam os braços e o peito, mas ele já havia agendado. E não havia mais tatuagens ou alargamentos. Tudo diferente.

- Pastor, eu concluí que não deveria ostentar aquilo que me conduzia ao Inferno. Eu não me orgulharia de ter essas marcas de uma vida sem Deus. Eu sou um novo FURGÃO, um FURGÃO SEM MARCAS. Agora quero ter uma marca só, a de Jesus Cristo, e não na pele, mas no fundo do meu coração. Não quero tatuar versículos, leões, cruzes ou nomes no meu corpo. Não fui feito de papel. Deus já me deu pele adequada e disse: "isto é muito bom". Por que alterar isso? Estou feliz com o que Deus me deu. Que a beleza venha de dentro de mim, com Cristo morando bem aqui, no meu coração. Estou certo?

- Certíssimo, meu irmão! Estou encantado!

Ambos oraram e louvaram a Deus. E, ao final do mês, num festivo culto da noite, com a igreja cheia, foi celebrado o batismo do FURGÃO. A gangue de motoqueiros estava presente. Alguns dali, durante o apelo evangelístico que o pastor fez enquanto estava no tanque batismal, manifestaram-se por uma nova vida em Jesus também.

Era o FURGÃO, levando uma nova carga: VIDAS PARA O CÉU!

Wagner Antonio de Araújo.

obs: se você, que é cristão, tem piercings ou tatuagens, atente para o exemplo do FURGÃO. Que Deus nos abençoe. Amém.

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