O APOCALIPSE - A visão da luta entre o bem e o mal”. (Apocalipse capítulos 12 e 13.)
- Gerson Berzins
- 26 de mai.
- 5 min de leitura
Caros leitores, com gratidão a Deus pela renovada oportunidade de nos encontrarmos para considerar as ultimas coisas que o livro do Apocalipse nos apresenta. Chegamos agora aos capítulos 12 e 13, onde nos são apresentados os personagens da brigada do mal: o dragão, a besta do mar e a besta da terra. São cenas tétricas, mas necessárias para a completa percepção do que em breve há de acontecer.
A visão cósmica do capítulo doze é um resumo da história da humanidade. Ela não está apresentada na sequencia cronológica, de maneira que vale uma tentativa de ordenação. A primeira parte está nos versos 7 a 9 e nos falam da rebelião original de Satanás contra Deus, relatando uma guerra nos céus entre o anjo Miguel e o dragão. É importante frisar que não há aqui, nem em qualquer outro lugar do Apocalipse ou mesmo da Bíblia uma guerra entre Deus e o diabo. Tal guerra é tanto inconcebível como desnecessária.
Aí é que se situa o início do confronto da verdade contra a mentira como Jesus ensinou aos seus opositores: “Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele ...”(Jo 8.44).
Aqui também aprendemos que, na linguagem apocalíptica, Satanás, Diabo, serpente e dragão são designações do mesmo personagem.
Os primeiros seis versos dizem sobre o nascimento e ascensão de Jesus Cristo, sendo que a mulher que deu à luz um filho é identificada como a Igreja que é o povo de Deus e sucessora do Israel bíblico. Não cabe vê-la como a mãe humana de Jesus, pois a partir do verso 13 a cena se centra na batalha entre o dragão e a mulher e sua descendência, esta, como claramente indicado, formada pelos “que obedecem aos mandamentos de Deus e se mantém fiéis ao testemunho de Jesus”(12.17). Esta é, pois, a chamada Guerra Messiânica; é a guerra entre a verdade e a mentira; é a guerra maligna e incansável contra os que decidem obedecer aos mandamentos de Deus e se manterem fiéis ao testemunho de Jesus.
O capítulo treze prossegue relatando a cena, com a apresentação de mais dois personagens: a besta do mar e a besta da terra. Esses três personagens, o dragão e as duas bestas, formam como que uma trindade maligna, imitação pirateada da trindade divina, no propósito de enganar e dissimular. Este trio diabólico trabalha em conjunto e têm claramente definido o seu objetivo: subjugar a humanidade ao seu poderio. Para obter tal intento devem perseguir implacavelmente os que não se curvam ao seu intento, por permanecerem fiéis ao Cordeiro.
A besta que sai do mar representa claramente o poder político: os dez chifres coroados e as sete cabeças são simbólicos da concentração de poder, o mesmo se podendo dizer dos animais usados para descrevê-lo.
O figurino dessa besta é do feitio perfeito para o império romano; é aceitável que os destinatários primeiros da carta de João assim compreendessem. No suceder da história, outros poderes puderem ser vestidos do mesmo manequim, e assim continuará até chegar o dia em que surgir a mais perfeita representação desse poder político, que quer destruir os seguidores do Cordeiro.
O que não é de modo algum confortador nessa visão é que a Besta recebeu autoridade sobre todos os habitantes da terra, e os selados na testa com o sinal de Deus – aqui identificados como aqueles que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro – devem ouvir a advertência do que podem enfrentar: “Se alguém há de ir para o cativeiro, para o cativeiro irá. Se alguém há se morto à espada, morto à espada haverá de ser”. Se tivéssemos começado nossa leitura do Apocalipse por esse verso, nos sentiríamos desesperançados.
Felizmente, o livro nos ensina a encarar a morte e a vida sob a perspectiva da perseverança na verdade. Também nos faz ver que o mal que possa vir sobre os fiéis tem a permissão divina – Deus o conhece – e essa permissão tem tempo certo de prevalecer.
Temos ainda a segunda besta que completa o triunvirato satânico. Ela sai da terra e já de início indica o seu propósito de engano e dissimulação: ela tenta se parecer com o cordeiro.
A descrição dessa besta nos fala claramente do poder religioso: obriga os habitantes da terra a adorarem a primeira besta; realiza grandes sinais para impressionar e enganar; cria e organiza um culto à imagem da besta; e impõe a sua marca peculiar na testa ou na mão direita de todo seres humanos que aceitam a sua adoração, aquilo que fica sempre referido como o sinal da besta. Mas, até esse sinal é falsificação: já na cena dos selos vimos que os servos de Deus são selados na testa (7.3). A besta da terra está associada à religião oficial, aquela estruturada para incondicionalmente apoiar e poder político, mas também devemos vê-la como a ideologia predominante, que fomenta seguidores cegos a adotarem suas ideias como crenças de fé.
Aqui encontramos a visualização do sistema do mundo. Quando Jesus proclamou “o meu reino não é deste mundo”(Jo 18.36); quanto as fortes vozes nos céus repetem “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo”(11.15), é a essa conjunção de poderes que devemos nos referir como o reino do mundo.
Faz sentido ressaltar as características desse sistema e melhor definir a que de fato ele se refere:
· É um sistema que quer ocupar o lugar de Deus.
· É um sistema que confronta Deus. Não o reconhece e não o adora
· É um sistema que imita Deus, tentando em tudo parecer Deus e convencer que é autossuficiente.
· É um sistema que não tolera oposição, forçando todos a submissão cega e incondicional.
· É um sistema que usa qualquer recurso para convencer e dominar as pessoas, inclusive o poder da força e a falsificação da realidade.
E então ficamos com a responsabilidade de identificá-lo na forma que ele venha a se apresentar. O encerramento dessa visão do sistema do mundo nos chama a tal responsabilidade: “Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é numero de homem. Seu número é seiscentos e sessenta e seis.” (13.18). O conselho não é para ficarmos aguardando alguém que chegue se apresentando sob a marca de três seis, isso não ocorrerá. O entendimento da mensagem bíblica é que devemos nos valer de sabedoria para identificar a besta e então resistir a ela, e nisso não há dificuldade: só é preciso ser fiel à verdade.
Não é pouco, mas é o que basta.
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