APOCALIPSE, O LIVRO DA REVELAÇÃO
- Gerson Berzins
- 7 de abr.
- 4 min de leitura
Apocalipse 1: 1-8
Com satisfação, iniciamos aqui o estudo de Apocalipse. O último livro da Bíblia, também conhecido como Revelação, se expressa por meio de símbolos e visões que ao mesmo tempo fascinam e despertam desprezo naqueles que se voltam a ele.
O desafio de entender o Apocalipse gera, como diz um estudioso do livro, um sentimento de amor ou de ódio, dependendo de quão à vontade nos sentimos ao lê-lo. O fascínio de perscrutar o futuro tem levado muitos a se aprofundarem mais na compreensão do quê é apresentado. As muitas questões sobre o conteúdo do livro que não conseguem ser consensualmente respondidas e que geram uma diversidade de explicações e hipóteses têm afastado muitos de sequer se esforçarem a lê-lo. Mas, vaguear nessa bipolaridade apocalíptica produz a perda de uma mensagem essencial da Palavra de Deus.
Desejo que nesta série nos voltemos para a compreensão da mensagem do livro da Revelação para nós. Almejo que nos preocupemos menos em ter um entendimento plausível de cada um dos símbolos lá presentes e foquemos mais no que eles devem nos dizer. Por que Apocalipse foi escrito? Em que a sua mensagem deve nos desafiar, tal como deve ter desafiado seus primeiros leitores? Que reações ela deve produzir no nosso comportamento e em nossas expectativas, especialmente no aspecto espiritual de nossas vidas? Enfim, qual a relevância deste escrito para nós?
Na busca dessas respostas, dentre a profusão de material disponível, destaco dois livros que de modo expressivo ajudaram a formar o enfoque dessa série, no objetivo de realçar o seu sentido mais significativo: São eles: ‘A teologia do livro da Revelação’, de Richard Bauckham, não disponível em português, e ‘Trovão Inverso’, de Eugene Peterson. Estas obras em muito marcarão o ritmo da nossa marcha através do texto.
Com base nos versos iniciais que nos introduzem ao livro é necessário explorar duas questões básicas.
A primeira diz respeito ao ‘quando’ de Apocalipse: a que eventos ele se refere?
Encontramos pelo menos quatro respostas a este respeito.
Para alguns estudiosos, todo o livro se refere a eventos que aconteceriam na época quando ele foi escrito. Assim, a besta seria o imperador romano e a situação geral refletiria o desafio da nascente Igreja Cristã em permanecer fiel frente à avassaladora pressão pela adoração a César.
Outros estudiosos argumentam que os eventos de Apocalipse são uma apresentação do desenrolar de toda a história da Igreja na terra, desde Jesus Cristo até o fim dos tempos. Estaríamos vivendo hoje em algum momento no meio desse relato.
Para outro grupo, Apocalipse não se refere a uma época em particular, mas retrata eventos que ocorrem em todas as épocas, apresentando o desafio à fidelidade que é de cada tempo, mas que é também comum a todas as épocas.
Por último, para um quarto grupo, os eventos do livro estão todos associados ao fim do mundo. Em certo momento da história, as predições se desencadearão, marcando a consumação dos séculos.
Cada uma dessas interpretações desenvolveu seus argumentos baseado em textos bíblicos e todas elas trazem uma aplicação de valor. No entanto, em muitos aspectos as alternativas são mutuamente excludentes e então somos chamados a escolher – e a defender - uma delas.
Felizmente, estudiosos mais recentes do Apocalipse nos incentivam a não tomar partido nessa disputa e aproveitar os pontos fortes de todas as explicações, pois cada uma delas pode conter uma parte da verdade. Mas, ainda assim, somos desafiados a jamais deixar de olhar o Apocalipse como a antevisão do fim do mundo. Há visões e descrições que de modo algum podem ser associados a fatos já ocorridos na história; somente os podemos entender como predição de eventos nunca até agora vivenciados. É neste sentido que o livro inicia declarando que trata daquilo que em breve há de acontecer.
A outra questão importante a abordar diz respeito ao tema. Qual é o assunto, qual o personagem principal de Apocalipse? É a questão mais importante que temos a responder, e como o fizermos definirá todo o entendimento da mensagem.
A questão só comporta uma resposta, e ela deve ser precisa, enfática e absoluta: o tema do Apocalipse é JESUS CRISTO. O livro é apresentado como ‘Revelação de Jesus Cristo’, seu nome é mencionado tanto no primeiro como no último verso, e sua presença é sentida em todo o entremeio.
As designações atribuídas a ele são generosas, mais do que em qualquer outro lugar da Bíblia: Jesus Cristo é apresentado como a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos, o Leão da Tribo de Judá, a Raiz de Davi, a Estrela da Manhã. Todos esses nomes são exclusivos de Apocalipse e se somam a outros. No entanto, o designativo mais usado é Cordeiro de Deus, citado trinta vezes. Esta preferência não é por acaso: ela nos lembra o seu sacrifício a nosso favor, que o qualificou a ocupar o lugar que lhe é atribuído no Apocalipse.
Jamais podemos nos afastar desta verdade: este livro trata de Jesus Cristo.
Devemos ter em permanente tal tema, mantendo conosco um versículo que é o centro da mensagem de Revelação; versículo que deve ser para nós o seu texto áureo, aquela pequena porção da Palavra que sumariza todo o ensino. Este verso é o 11.15, e o conseguimos relembrar com facilidade, pois o encontramos em uma das musicas cristãs mais conhecidas de todos os tempos:
“O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre.”
Apocalipse é o alerta para não esquecermos nem nos descuidarmos desta verdade; Apocalipse é a respeito de como o reino do mundo se tornará de Cristo; Apocalipse é o vislumbre do que será o reino eterno de Cristo.
Com os balizamentos delineados podemos prosseguir na tarefa de fazer a Revelação de Jesus Cristo ter valor para nós, no nosso contexto. Ajustada nossa visão para este ponto focal, vamos deixar que o Apocalipse nos fale, juntando nossas vozes às dos milhões de milhões de anjos e a de toda a criação que em alta voz cantam:
“Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor.”
“Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro seja o louvor, a honra, a glória e o poder para todo o sempre!”
[4.12-13]