ESTUDOS NO APOCALIPSE – LIVRO DA REVELAÇÃO: CARTAS ÀS IGREJAS – I (Apocalipse 2)
- Gerson Berzins
- há 5 dias
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Caros leitores, em continuação ao estudo do último livro da Bíblia, adentramos a seção das “Cartas às Igrejas”. Nosso texto básico hoje se compõe do capitulo dois, que inicia a apresentação de sete correspondências endereçadas às igrejas de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.
Em preparo à análise desta seção, convém considerar a respeito do tipo literário do livro da Revelação. Não é possível enquadrar o Apocalipse em um tipo único: ele não é uma narração histórica ou biográfica, não é um texto poético, nem pode ser considerado um escrito doutrinário. Devemos entender que o livro apresenta traços de diversos tipos de literatura. Seguindo Bauckham, podemos dizer que ele é de um escrito apocalíptico-profético-epistolar. Ele é apocalíptico, pois apresenta traços daquela classe de textos religiosos que abundaram na época imediatamente antes e depois de Cristo, que recebeu a denominação de Literatura Apocalíptica e que versava sobre o fim do mundo e uma nova ordem em lugar da presente. Alguns traços desse tipo de literatura estão em Apocalipse, mas devemos usar essa designação com bastante cuidado e restrição, visto que ela se refere essencialmente a textos que não foram considerados válidos para integrar o canon bíblico.
O Apocalipse é profético, pois traz uma mensagem de Deus para os seres humanos, e como Profecia ele é designado em 1.3 e 22.6-7. Devemos atentar para o encadeamento na transmissão da mensagem de Deus até nós, tal como apresentado no primeiro verso do livro: a revelação originou-se em Deus, que a deu a Jesus, que por meio de um anjo a revelou a João. A cadeia continua com João que os enviou aos seus ouvintes originais, e esses, pela herança da fé a transmitiram até nós, que somos assim honrados em usufruir da palavra profética.
Mas, o livro também é uma literatura epistolar, visto se configurar como uma correspondência, dirigida a destinatários especificados, como fica claro na seção considerada hoje. É dessas cartas que passamos a tratar.
Ao abordar essa correspondência, o nosso tempo disponível nos obriga a optar por uma avaliação geral do texto, sem nos deter nas cartas em particular. Sem dúvida, cada uma das cartas é rica de conteúdo e meditação para nós e deve ser cuidadosamente estudada, mas aqui isso não será possível.
A pergunta introdutória deve ser: quem são essas igrejas? Cada corrente de interpretação do livro dará uma resposta peculiar, de acordo com o seu modo de entendimento: para uns, as cartas representam e sumarizam todas as igrejas cristãs, de todos os tempos, e as deveríamos ler como espelho das nossas próprias igrejas, seus acertos e suas derrotas. Para outros, as cartas simbolizam as épocas da história da Igreja, com suas características marcantes. Por essa corrente, vivemos hoje a era da Igreja de Laodicéia, aquela que é rica e julga não precisar de nada; aquela que não é nem fria nem quente e por isso corre o risco de ser vomitada.
Com todo o respeito devido a essas correntes de interpretação, devemos essencialmente aceitar que essas igrejas foram igrejas reais, que existiram historicamente, e que ao as entendermos no seu contexto e tempo devemos apropriar-nos do que elas podem ensinar.
Olhamos o mapa do sul da Turquia atual, e vemos que essas igrejas se situavam relativamente próximas uma das outras: traçar com um compasso um círculo que as englobe, não é necessário um raio maior que 100 quilômetros. Atentamos para a sequência delas, e descobrimos que elas estão ordenadas em uma direção norte-leste-sul, quase fechando um círculo que começa em Éfeso, a cidade de João. Os estudiosos nos dizem que essa disposição refletiria uma rota do correio romano, de modo que essa carta-circular foi sendo lida na ordem disposta no texto, com cada igreja conhecendo o que as precedentes receberam e também se antecipando em saber o que se dizia às seguintes. O que essas constatações nos dizem é que de fato as sete igrejas eram reais, e eram igrejas que de algum modo estavam sob a influência de João.
A seção das cartas inicia-se efetivamente no verso nove do capítulo um e prossegue até o final do capítulo três. Nela encontramos a primeira das cenas do livro, a cena dos candelabros. No entanto, não são os candelabros que de início nos atraem, mas a descrição de um ser “semelhante a um filho de homem”, que se encontrava no meio deles. Esse texto, a partir do verso 13 do capítulo um, é uma das descrições mais belas de Jesus Cristo, que o apresenta no esplendor de seu poder e glória. Jesus Cristo está entre os candelabros, e a visão lembra então que a Igreja é dele e mais que isto, que Ele está presente entre a igreja. Esta verdade devia ser constantemente reafirmada por aquelas igrejas, quaisquer que fossem as suas circunstâncias de desafios e dificuldades. Essa verdade não deve também estar ausente da Igreja de hoje. Não há Igreja se ela não estiver solidamente edificada na verdade de que Jesus Cristo é o filho do Deus vivo [Mt 16.16-17].
Há mais uma verdade a respeito da igreja que deve ser ressaltada nessa cena. Não há duvida: os sete candelabros da cena são as sete igrejas a quem João é ordenado a escrever. Não é necessária nenhuma interpretação, pois a própria palavra do Filho do Homem assim esclarece (1.20).
Na visão há também sete estrelas que estavam na mão de Jesus; elas são identificadas como os anjos das sete igrejas, e tais anjos já são de mais difícil entendimento. Parece razoável aceitar que as estrelas simbolizam os líderes de cada igreja, a quem as cartas são endereçadas. Eles estão nas mãos de Cristo, reforçando a visão do senhorio de Jesus sobre a Igreja.
Mas, para encerrar, voltemos aos candelabros. A função do candelabro é ser o receptáculo da fonte de luz, que no caso deveriam ser lamparinas de óleo. O candelabro não brilha: ele tão somente deve portar a luz que pode iluminar. Quanto mais apropriado for o candelabro à luz, mais forte ela pode se irradiar. O valor da verdadeira Igreja de Cristo não é o seu esplendor, o seu vigor ou o seu brilho. A Igreja deve reluzir a luz divina no meio de um mundo hostil. É por este critério que as sete igrejas foram avaliadas nos seus méritos e nos seus desacertos. É pela mesma aferição que devemos continuar a olhar a nossa Igreja de hoje.
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