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A CARTA AOS GÁLATAS – A NOVA CONDIÇÃO DO SALVO (Gálatas 4)

Estamos diante do capítulo 4 da epístola da Paulo aos gálatas, mas precisamos voltar ao capítulo 3, a partir do versículo 19 para compreendermos a primeira unidade que vamos analisar, qual seja, a verdadeira função da lei. Vimos alguma coisa a este respeito no estudo anterior, mas ainda será útil dizer que Paulo assume uma posição positiva, quando responde à pergunta: “logo, para que é a lei?” que ele mesmo fez. “Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita.” Gl. 3,19. A partir desse versículo e até o capítulo 4,7 Paulo vai desenvolver o seu argumento sobre a importância provisória da lei e o caráter permanente da fé. A lei torna claro o que é pecado, especifica as transgressões, faz o pecado ser conhecido, visível e, porque assim é, os homens podem reconhecer a incapacidade de, por si mesmos e por meio de qualquer ação praticada, alcançar a capacidade de se comunicar com o Pai. Há necessidade de intermediação, que é a fé na promessa. Antes da vinda de Cristo, a lei nos guardava em custódia. Duncan, ao analisar este texto, conclui “Paulo não pensa em Cristo como Mestre mas como Redentor; a vida cristã não é uma educação avançada, mas uma libertação da morte e entrada na vida.”(citado por Broadman, p. 130). Agora, os que foram batizados em Cristo constituem uma nova comunidade onde as velhas discriminações ficaram para trás; não há discriminação de qualquer ordem. “Digo, pois, que todo o tempo que o herdeiro é menino em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo. Mas está debaixo de tutores e curadores até o tempo determinado pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo. Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” Gl. 4,1-5 Agora, já que a discriminação não mais existe, uma pessoa de fora da família é adotada nela e passa a ser considerada em todos os aspectos como filho. Essa filiação não é formal, mas uma relação íntima, profunda, que, pelo Espírito de ser filho, chama Aba, Pai termos que, representativos dos idiomas aramaico e grego, é oração que faz o solicitante ao mesmo tempo judeu e gentio. Podemos compreender bem o apóstolo. Ele estava sofrendo por enxergar que a Igreja da Galácia não se sentia suficientemente forte na liberdade que Jesus Cristo viera trazer. Aqueles cristãos achavam simples demais depender apenas da fé para restabelecer a comunhão com Deus, era mais fácil dar ouvidos aos que diziam ser necessário praticar alguma coisa, exibir algum sinal externo, enfim, apegar-se à lei parecia ser mais concreto. Como eles poderiam apenas depender do sacrifício de Jesus? Precisavam também ter alguma parcela de contribuição, praticar algo tangível. Vou tentar simplificar um pouco a questão, apresentando um exemplo concreto. Quando começamos a lidar com os computadores no meu trabalho, recebíamos listagens enormes, caixas de formulários contínuos que haviam sido impressas em um computador central, onde somente os técnicos tinham acesso. O tal computador era enorme e ocupava um andar inteiro em um prédio construído especialmente para ele. Para entrar naquele aposento, a pessoa precisava estar autorizada. Possuía uma senha que era digitada na primeira porta. Uma vez lá dentro, a primeira coisa que buscava era um casaco porque o frio era insuportável. O computador era muito exigente com a temperatura, queria sempre muito frio. Frio demais. Dificilmente os funcionários do meu setor iam até, digamos, a “casa do computador”, mas recebiam as listagens contendo todos os processamentos contábeis do dia anterior. Certa vez, passei por um dos nossos estagiários e o encontrei com uma potente calculadora e refazer os cálculos que estavam prontos diante dele. Quis saber a razão daquela perda de tempo e ele se explicou: Ana, não confio nessas contas. Pode estar tudo errado. O apóstolo Paulo via, nos gálatas, a mesma coisa que eu vi. Com palavras diferentes e em momentos históricos distantes, o que os gálatas estavam fazendo era exatamente confessar que não confiavam na suficiência do sangue de Jesus para os conduzir ao Pai, tinham que conferir os seus próprios cálculos, aqui traduzidos pela idéia que os judaizantes haviam transmitido de que era necessário cumprir a circuncisão para poder ser realmente povo de Deus. Jesus já havia feito tudo; eles não acreditavam. “Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei? Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar...Mas a Jerusalém que é de cima é livre...Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa, como Isaque.”(trechos de Gálatas 4, 24-29). Paulo tenta ser didático agora. Já havia chamado os gálatas de insensatos, caminhado com eles em alguns argumentos fortes, aproxima-se ainda mais por meio de uma linguagem familiar ao povo judeu e que precisava ser melhor explorada pelos gentios. Não era de Isaque que viria a descendência incontável prometida a Abraão, mas sim os que descenderiam da fé de Abraão. Quer muito que os gálatas compreendam que a comunidade cristã, seja ela composta de judeus ou não judeus, representa a verdadeira linhagem abrahâmica. Os judeus, não crentes em Jesus, apesar de pensarem que pertenciam à descendência de Isaque, na verdade nada mais eram do que ismaelitas. Sim, judeus são ismaelitas! Conclusão a que Paulo pretende que seus leitores cheguem. Acordem, pensem bem, analisem os fatos, enxerguem que o filho da livre nasceu da promessa e quem pretende se escravizar à lei é, então, filho da escrava. O comentário Broadman vem nos ajudar a sistematizar bem o pensamento de Paulo neste capítulo: “a nação judaica, presa à lei, era composta pelos verdadeiros descendentes de Isaque. Os convertidos gálatas, em virtude da sua resposta de fé à pregação do evangelho da graça, pertenciam à coluna de Sara, como homens nascidos para serem livres. No entanto, devido à infiltração dos legalistas judeus que estavam pervertendo o evangelho da graça, eles estavam ameaçados de serem removidos, por si próprios, para a coluna de Agar, como homens nascidos para serem escravos.”(p.140). A questão, então é: “assim que já não és mais servo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo.” (Gl.4,7). Os gálatas precisavam decidir e depressa porque, ao insistirem sobre a circuncisão os falsos mestres estavam, em realidade, colocando, aprisionando os gálatas longe de Cristo. O que isso pode ter conosco hoje? Muito. Ainda estamos cercados de judaizantes, disfarçados de outros nomes e com argumentos também diferentes. Nosso dever é cultivar a atitude de permanecer em alerta. Zelar, cuidar, preservar a liberdade que Cristo nos proporcionou com o preço tão alto que pagou. Podemos ouvir toda e qualquer pessoa ou ler sobre qualquer tipo de argumentação. O que é inadmissível e, para usar a linguagem de Paulo, insensatez é desconsiderar a suficiência do que Jesus fez por nós, quando morreu em nosso lugar para tornar possível o nosso acesso ao Pai. “Assim que já não és mais servo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo.” (Gl.4,7). Que seja esta a nossa convicção e a base da nossa fé.

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